Vivemos tempos em que os parâmetros mais elementares de justiça, decência e razoabilidade foram não apenas tensionados, mas rompidos de forma acintosa. O tecido moral da sociedade brasileira se desgarra a olhos vistos, e aquilo que outrora parecia o mínimo exigível — o senso de proporção, de equidade e de discernimento — rui sob o peso de uma cultura política e institucional que se alimenta da inversão dos valores.
De um lado, assiste-se à espetacularização da delinquência. Um artista, conhecido por enaltecer práticas criminosas, exaltar facções e naturalizar a violência, é alçado à condição de mártir por movimentos que, em nome de uma suposta luta contra preconceitos e opressões, operam como blindagem ideológica da barbárie. Sua prisão — por fatos que transcendem qualquer pretensa liberdade de expressão, recaindo claramente na apologia ao crime e na ligação direta com organizações criminosas — foi revertida não pelo peso dos fatos, mas pela pressão de uma militância que se converte em força política e social capaz de ditar os rumos da própria Justiça.
Por outro lado, a mesma estrutura estatal que se dobra a criminosos ergue seu braço mais pesado contra quem ousa transgredir os códigos da moralidade progressista. Um comediante, cuja atividade reside na provocação, na sátira e na crítica social, é condenado a inacreditáveis oito anos de prisão por proferir piadas — sim, piadas — que ferem suscetibilidades de minorias identitárias. O contraste não poderia ser mais eloquente: a criminalização seletiva da palavra, enquanto se normaliza e se celebra a palavra do crime.
E enquanto este circo de horrores se desenrola, o Brasil real sangra. Filas intermináveis em hospitais selam a sentença de morte dos mais pobres, não por falta de recursos — recursos esses que sustentam estruturas inchadas, corrupção endêmica e privilégios —, mas por absoluto colapso ético e administrativo.
Como se não bastasse, um Estado voraz se dedica com afinco quase exclusivo a aprofundar sua sanha arrecadatória. Vinte e sete novos impostos foram criados em apenas três anos de governo — verdadeiro monumento à falência da responsabilidade fiscal, à hostilidade ao empreendedorismo e ao desprezo pela população produtiva. O Brasil, já sufocado pela mais alta carga tributária do mundo em desenvolvimento, é conduzido deliberadamente para o pântano da estagnação.
Por fim, a cereja do escárnio: milhões de aposentados, homens e mulheres que dedicaram suas vidas ao trabalho honesto, foram por anos vítimas de descontos fraudulentos em seus contracheques — prática que se revela não como desvio pontual, mas como um esquema sistêmico, que envolve desde a cúpula do INSS até bancos, sindicatos e representantes políticos, todos associados numa engrenagem de rapinagem institucionalizada.
Este é o retrato de um país onde a moralidade se tornou subversiva, a ordem é opressão, e a delinquência — desde que vestida com as cores certas — converte-se em virtude social. A pergunta que se impõe, em meio a este teatro de absurdos, não é mais se há saída, mas se ainda resta, no horizonte, algum lastro de lucidez capaz de refundar os fundamentos mínimos da civilização.
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