quarta-feira, 4 de junho de 2025

O Brasil Diante do Abismo: A Crise Estrutural de uma Nação em Desmanche.

É fato inegável que o Brasil, dia após dia, mergulha em um processo acelerado de degradação institucional, moral e social. Aquilo que no jargão popular se expressa como “o caldo entornou” traduz, com precisão surpreendente, o atual estado de coisas. O país parece submerso em um manancial de corrupção, desordem e arbitrariedades, cujo fundo, se é que existe, permanece invisível.

Os últimos anos testemunharam a consumação de um plano sem precedentes para a desconstrução da ordem nacional. A começar pela chocante reabilitação política de um condenado em todas as instâncias — em processos que, por anos, simbolizaram a luta contra a corrupção — cuja soltura foi articulada de modo a permitir sua candidatura e consequente eleição ao mais alto cargo da República. Este ato, por si só, já representaria uma ruptura grave com qualquer concepção minimamente coerente de segurança jurídica e respeito às instituições.

A isso se soma a perseguição implacável do Estado contra cidadãos comuns, entre eles idosos, acusados de envolvimento em um suposto golpe — uma narrativa juridicamente questionável e politicamente conveniente — utilizada como instrumento de repressão, controle e silenciamento.

Paralelamente, assiste-se ao avanço da censura em escala nacional. Sob o pretexto de preservar o chamado “Estado Democrático de Direito”, órgãos do próprio Estado se erguem contra a liberdade de expressão, interditando o debate público e criminalizando opiniões divergentes. A ironia se torna ainda mais aguda quando o chefe do Executivo anuncia a vinda de um especialista da China — uma ditadura tecnocrática notória pelo controle absoluto de suas redes e da opinião pública — para “auxiliar tecnicamente” na implementação de mecanismos de censura no Brasil, que, paradoxalmente, ainda ostenta, ao menos formalmente, o título de democracia.

No plano social, o cenário não é menos desolador: o avanço do narcotráfico sobre territórios urbanos e rurais, a precarização dos serviços de saúde, hospitais sucateados, e universidades transformadas em centros de doutrinação ideológica, onde o pensamento crítico cede lugar a projetos político-partidários travestidos de ensino.

Tudo isso, convém dizer, representa apenas a ponta de um iceberg cuja massa submersa ameaça os próprios alicerces da nação. Neste exato momento, o Supremo Tribunal Federal retorna ao julgamento que visa consolidar a censura sobre as redes sociais — uma medida que, se aprovada, representará o golpe final contra as liberdades civis e a livre circulação de ideias.

A verdade é que a nação, outrora vibrante, pujante e cheia de possibilidades, hoje se apresenta amarga, contaminada, azedada — e, para muitos, já não é mais minimamente palatável.

Se tudo isso não bastasse, o cenário se agrava quando observamos que as poucas vozes que poderiam se erguer em resistência estão sendo sistematicamente silenciadas. Muitas, acuadas por ameaças jurídicas, perseguições e intimidações diversas, veem-se obrigadas a abandonar o país, buscando no exílio uma forma de preservar não apenas sua integridade física, mas também sua dignidade e liberdade de expressão.

Outras, que ainda insistem em permanecer em território nacional, acabam, por uma questão de sobrevivência, adotando a prudência do silêncio. A lógica que impera é simples e brutal: falar tornou-se perigoso. Neste ambiente sufocante, a autocensura não é mais uma escolha, mas uma imposição velada, alimentada por um aparato de controle que se estende dos tribunais às plataformas digitais, das redações aos círculos acadêmicos.

Diante desse quadro, o Brasil, que outrora foi — ainda que de modo imperfeito — sinônimo de vitalidade, esperança e potencialidade, agora se vê reduzido a uma condição estéril, onde nada de virtuoso, construtivo ou digno parece mais ter espaço para florescer. E, se resta algum processo em curso, este, lamentavelmente, é o de um crescimento degenerativo: aquilo que ainda brota, brota apenas como podridão social, degradação moral e corrupção institucional.

A metáfora é dura, mas rigorosamente precisa. A terra que um dia foi fértil, capaz de produzir sonhos, progresso e liberdade, hoje parece destinada apenas a fecundar aquilo que, em linguagem menos elegante, mas fiel aos fatos, não passa de excremento político, institucional e ético.

O que se impõe, portanto, é uma reflexão profunda, urgente e inadiável: até onde esse processo pode se aprofundar antes que se torne irreversível? E, sobretudo, quantos ainda terão coragem — ou sequer condições — de erguer a voz antes que o silêncio se torne absoluto?

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