A estrutura social globaliza a perversão dos fins. A economia é moldada não pela justiça distributiva ou pelo bem comum, mas pela maximização do lucro e da influência. O indivíduo é reduzido a consumidor, e o trabalho, instrumento de alienação. O campo da sexualidade, que deveria ser expressão de doação e fecundidade, é colonizado por práticas estéreis e identidades fluídas, cuja raiz última é a recusa da ordem natural inscrita no corpo. A linguagem, veículo da verdade, tornou-se arma de manipulação. A política, que deveria ordenar a convivência segundo o justo, tornou-se palco da vontade de poder e da dissolução da autoridade verdadeira. A educação, por sua vez, deixou de formar almas para a sabedoria, tornando-se fábrica de especialistas desconectados do bem.
Nesse cenário, a corrupção não é mais o desvio de uma norma estável: ela é, agora, a norma. O erro adquiriu forma institucional. A mentira não é apenas tolerada, mas protegida. O mundo tornou-se, como advertia a tradição escolástica, um lugar onde a alma se perde não por ignorância, mas por consentimento. Os meios de comunicação difundem o relativismo como dogma, e a própria noção de bem é desconstruída em nome da diversidade. Tudo isso é sinal não apenas de um erro, mas de uma apostasia — uma rejeição ativa da ordem divina que sustenta o ser.
Mas o mais trágico dessa corrupção não está apenas na esfera pública ou nos sistemas. Está na alma que, habituada ao erro, já não o reconhece como tal. A consciência deformada pela repetição do mal torna-se surda ao chamado da graça. O homem moderno, cindido de sua origem e de seu fim, não apenas vive no mundo — ele se torna o mundo, em sua forma mais plena de queda. A profecia escolástica, de que o mundo é lugar de combate espiritual, hoje se realiza em uma escala onde o campo de batalha é a própria estrutura da realidade social, e a arma do inimigo é a aceitação passiva da mentira como verdade.
Portanto, aquilo que a escolástica chamava de saeculum — o tempo presente sob o domínio do erro — já não é apenas uma condição externa ao espírito, mas uma configuração totalizante, onde o mal se disfarça de progresso, e a rebelião se mascara de liberdade. A corrupção do mundo não é apenas evidente: ela é celebrada. E nisso está o maior perigo — pois quando a queda se torna cultura, o inferno começa a se apresentar como casa.
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