sexta-feira, 2 de maio de 2025

Resumo para Leitura.

As Categorias de Aristóteles formam uma das partes mais fundamentais de sua lógica e metafísica. Elas estão descritas na obra Categorias, que faz parte do Órganon, o conjunto de escritos lógicos do filósofo. Aristóteles busca aí classificar tudo o que pode ser dito ou pensado sobre um ente. Ele distingue dez categorias principais, que são modos fundamentais de ser ou predicados possíveis de um sujeito.

Aqui estão as 10 categorias aristotélicas:

1. Substância (ousia) – Aquilo que existe em si e não em outro. Ex: "um homem", "um cavalo". É o sujeito último que sustenta os acidentes.

2. Quantidade (poson) – Refere-se à extensão ou número. Ex: "dois metros", "dez pessoas".

3. Qualidade (poion) – Características que qualificam o sujeito. Ex: "branco", "corajoso".

4. Relação (pros ti) – Indica uma referência a outro. Ex: "maior que", "irmão de".

5. Lugar (pou) – Onde algo está. Ex: "em Atenas", "na casa".

6. Tempo (pote) – Quando algo ocorre. Ex: "ontem", "ao meio-dia".

7. Posição (keisthai) – A disposição do corpo. Ex: "sentado", "deitado".

8. Estado (echein) – Condições ou possessões. Ex: "armado", "calçado".

9. Ação (poiein) – O que o sujeito faz. Ex: "corta", "queima".

10. Paixão (paschein) – O que o sujeito sofre. Ex: "é cortado", "é queimado".

A substância é considerada a categoria primária, pois todas as outras dependem dela para existir. As demais são chamadas de acidentes, pois existem em uma substância.

1. Substância (οὐσία - ousía)

Essência primária do ente.

Distinção: Aristóteles distingue entre substância primeira (indivíduos concretos, como “Sócrates”) e substância segunda (espécies e gêneros, como “homem” ou “animal”).

Fundamento: É aquilo que existe por si, e não em outro. Os acidentes existem in alio (em outro), mas a substância é o suporte (hypokeimenon) de todos os predicados.

Tradição posterior: Na escolástica, foi associada ao conceito de supletum metaphysicum, isto é, o que permanece sob as mudanças. Tomás de Aquino reforça essa visão com a fórmula “ens per se”.

Importância lógica: É o sujeito último do predicado.

2. Quantidade (ποσόν - posón)

Extensão mensurável do ente.

Dois tipos: Discreta (número) e contínua (comprimento, volume).

Não implica qualidade ou valor: "Duas linhas" não dizem se são belas ou feias, apenas quanto são.

Na lógica: Permite a formalização de argumentos matemáticos ou empíricos.

Exemplo: “Três metros de altura”, “cinco pães”.

3. Qualidade (ποιόν - poión)

Maneira pela qual a substância é.

Tipos:

Disposições (fáceis de mudar, como calor corporal); Capacidades (habilidades como tocar piano);
Afecções (sentimentos, estados como “alegria”); Formas (virtudes, inteligências, etc).

Tradição: Tomás distingue qualidades físicas e espirituais.

Fundamento lógico: Permite atribuir valor e diferenciação entre entes da mesma espécie.

4. Relação (πρός τι - pròs ti)

Ser em referência a outro.

Essencialmente relativa: Um ente só é “pai” em relação a um “filho”.

Matematicamente explorável: Relações proporcionais (maior, igual) deram base para a lógica relacional moderna.

No direito ou ética: Relações como “súdito de”, “amigo de” fundam estruturas morais e sociais.

5. Lugar (ποῦ - poû)

Onde o ente está.

Espaço como limite do corpo contendo o ente.

Aristóteles concebia o lugar como o "contorno interior do recipiente".

Não é o mesmo que posição: Um corpo pode estar no mesmo lugar mas com outra posição.

Importância: Fundamento para discussões posteriores sobre topos, espaço absoluto (Newton) e campo (Einstein).

6. Tempo (πότε - poté)

Quando algo ocorre.

Tempo como número do movimento segundo o antes e o depois.

Aristóteles via o tempo como dependente do movimento (não absoluto).

Lógica temporal: Essa categoria abriu caminho para discussões em lógica modal e temporal (ex.: lógica de Kripke).

Exemplo: “Ontem”, “ao meio-dia”.

7. Posição (κεῖσθαι - keîsthai)

Disposição do corpo no espaço.

Difere de lugar: Enquanto o lugar é onde, a posição é como está.

Exemplo: “Sentado”, “ajoelhado”.

Relevante na ética e na arte: a posição do corpo expressa disposição da alma (pensamento clássico).

8. Estado ou hábito (ἔχειν - échein)

Condição permanente ou posse.

Exemplo: “Está armado”, “veste um manto”.

Mais estável que posição, mas menos essencial que substância.

Aspecto jurídico e moral: Possuir virtudes ou vícios, ter propriedades, bens ou status.

9. Ação (ποιεῖν - poieîn)

O que a substância faz.

Exemplo: “Corta”, “constrói”.

É um tipo de mudança ativa.

Aristóteles conecta essa categoria ao conceito de causa eficiente.

Relevante na Ética (agir virtuoso) e na Física (causalidade do movimento).

10. Paixão (πάσχειν - páschein)

O que a substância sofre.

Exemplo: “É cortado”, “é ferido”.

Mudança passiva: Receber uma ação.

Relação com a matéria-prima na teoria hilemórfica: a matéria sofre as alterações produzidas pela forma.

Relevância ética: sofrer implica vulnerabilidade e percepção do outro (pathos).

Causas Aristotélicas.

As quatro causas aristotélicas são os princípios fundamentais pelos quais Aristóteles explica por que algo é o que é. Em sua Física (livros I e II) e também na Metafísica, ele afirma que o conhecimento completo de qualquer ente exige entender essas quatro causas.

1. Causa material (ὕλη - hýlē)

"De que é feito?"

É aquilo de que algo é constituído.

Exemplo: o bronze é a causa material de uma estátua.

Fundamento: sem matéria, não há suporte para a forma.

Está ligada à potência (o que algo pode vir a ser).

Em humanos: carne, ossos, sangue.

2. Causa formal (εἶδος - eîdos / μορφή - morphḗ)

"O que é isso?" (forma ou essência)

É a estrutura, o modelo, a definição do ente.

Exemplo: a forma de estátua impressa no bronze.

Na biologia, a forma de “cão” está no cão enquanto essência.

É o que atualiza a matéria e a torna um ente determinado.

Aristóteles se distancia de Platão aqui: para ele, a forma está na coisa, não num mundo separado.

3. Causa eficiente (τὸ κινοῦν - tò kinoûn)

"Quem ou o que fez isso?"

É o agente da mudança ou da produção.

Exemplo: o escultor é a causa eficiente da estátua.

É o princípio do movimento (kinēsis) ou da geração.

Em cosmologia, Aristóteles identifica o “Primeiro Motor” como a causa eficiente suprema, imóvel mas que move por atração.

4. Causa final (τὸ οὗ ἕνεκα - tò hoû héneka)

"Para que isso existe?"

É o fim, o objetivo, a finalidade do ente.

Exemplo: a beleza ou a homenagem ao deus é a causa final da estátua.

É a mais importante das causas para Aristóteles: todo ente visa um fim (telos).

Na ética, o telos do homem é a eudaimonia (felicidade/flourishing).

Em biologia: o coração existe para bombear sangue.

Exemplo concreto com as quatro causas: uma casa

Material: tijolos, madeira, cimento.

Formal: a planta arquitetônica (forma de casa).

Eficiente: o pedreiro, o arquiteto.

Final: servir de moradia, proteção.

Aristóteles inova ao integrar finalidade na natureza, contra os atomistas (como Demócrito) que explicavam tudo só por causas materiais e mecânicas. Por isso, sua teoria é teleológica: o mundo tem propósito e direção.

A relação entre as causas e as categorias em Aristóteles revela como ele articula dois níveis diferentes, mas interligados, de análise do ser:

As categorias descrevem modos de ser – isto é, os diferentes tipos de predicados que podem ser atribuídos a um ente.

As causas explicam por que o ente é como é – isto é, os princípios internos e externos que dão origem ao ente e à sua configuração.

Vamos ao paralelo estruturado:

1. Substância (categoria)

Ligação direta com as causas material e formal.

A substância é o ente concreto, composto de matéria e forma (teoria hilemórfica).

Causa material: dá o “do que” a substância é feita.

Causa formal: dá o “o que é” a substância.

> Exemplo: “Sócrates” é uma substância. Sua matéria (carne, ossos) é causa material; sua forma (alma racional) é causa formal.

2. Quantidade, Qualidade, Relação (categorias acidentais)

Derivam da causa formal e se realizam na substância.

Quantidade expressa a extensão assumida pela matéria sob certa forma.

Qualidade revela como a forma se manifesta – por exemplo, virtudes ou cor da pele.

Relação pode indicar efeitos da causa eficiente ou da finalidade (pai em relação ao filho; mestre em relação ao discípulo).

> Exemplo: A qualidade “bravura” em um guerreiro depende da forma (sua disposição de alma), mas é analisada como acidente.

3. Lugar, Tempo, Posição, Estado (categorias situacionais)

Ligadas à realização da causa eficiente no mundo físico.

Representam o modo como a substância aparece ou atua no tempo e espaço.

O lugar e o tempo indicam quando e onde a causa eficiente atua.

A posição e o estado são efeitos transitórios da ação.

> Exemplo: A estátua está “em pé” (posição) no “templo” (lugar), desde “ontem” (tempo), e “coberta de ouro” (estado) – todos efeitos da ação do escultor.

4. Ação e Paixão (categorias dinâmicas)

Correspondem diretamente às causas eficiente e final.

Ação: realização da causa eficiente pelo agente.

Paixão: recepção da ação por parte da substância.

Finalidade: embutida no tipo de ação realizada e no resultado pretendido.

> Exemplo: Quando o escultor (eficiente) “talla” (ação) o mármore, a pedra “é moldada” (paixão) para expressar a forma de Apolo (final).

Quadro-resumo do paralelo:
Observação final:

Embora a causa final não seja uma categoria, ela perpassa e dá sentido a várias delas, especialmente à ação, qualidade, relação e forma. Isso porque, para Aristóteles, tudo visa um fim, e esse fim estrutura a inteligibilidade do ser.

Agora, vamos traçar um paralelo entre a categoria aristotélica de "Lugar e Tempo" e o entendimento da Física moderna, especialmente na relatividade.

Em Aristóteles: Lugar e Tempo (categorias acidentais)

Lugar (topos): é o limite interior do corpo que contém outro — ou seja, o lugar é definido por referência ao contorno imediato.

Tempo (chrónos): é o número do movimento segundo o antes e o depois — o tempo é dependente do movimento; não existe sem mudança.

> Aristóteles concebe tempo e lugar como realidades relativas aos corpos e ao movimento.
Não há espaço vazio absoluto (recusa o vácuo) e o tempo não existe independentemente de mudanças.

Na Física Moderna (especialmente com Einstein)
Espaço e tempo não são absolutos, como pensava Newton, mas formam um continuum espaço-tempo.
Na Relatividade Restrita, o tempo é afetado pela velocidade do movimento; na Relatividade Geral, também pela gravidade.
O espaço não é um “lugar fixo”, mas é curvado pela presença de massa e energia.
> Tempo e espaço tornam-se dimensões geométricas integradas que variam conforme o referencial.

Paralelos e contrastes:

Ponto de convergência filosófico.

Ambos os sistemas reconhecem que tempo e espaço não são realidades independentes dos entes. Aristóteles o faz por uma ontologia relacional, e Einstein por uma física relacional baseada em medidas.

CONCLUSÃO: A SUPERIORIDADE DO PENSAMENTO ARISTOTÉLICO.

1. Autossuficiência racional:
Aristóteles constrói uma cosmologia e ontologia dinâmica sem instrumentos matemáticos modernos, mas com lógica, observação e reflexão. A física moderna reempacota categorias aristotélicas com aparato técnico — mas não a supera em profundidade conceitual.


2. Universalidade estrutural:
O pensamento aristotélico é ontológico: explica o ser em qualquer realidade, física ou não. A teoria da relatividade é um modelo específico aplicado ao espaço-tempo físico — dependente de contingências mensuráveis. Aristóteles vai além: é fundamento de inteligibilidade de qualquer mudança.


3. Prioridade filosófica:
Antes de medir espaço-tempo, é preciso conceber o que são espaço, tempo, ser, movimento. Isso é tarefa filosófica. Einstein caminha nos trilhos que Aristóteles construiu. Ele mesmo reconheceu que “a ciência sem filosofia é cega”.


4. Continuidade e não ruptura:
A relatividade é, na verdade, uma continuação moderna da teoria aristotélica do movimento: Tempo como relativo: Aristóteles já o dizia, ao vinculá-lo ao movimento.
Espaço não absoluto: Aristóteles também.
Realidade relacional e dinâmica: base da hilemorfismo e das quatro causas.
A diferença está no vocabulário, não no fundamento lógico.

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