Aqui estão as 10 categorias aristotélicas:
1. Substância (ousia) – Aquilo que existe em si e não em outro. Ex: "um homem", "um cavalo". É o sujeito último que sustenta os acidentes.
2. Quantidade (poson) – Refere-se à extensão ou número. Ex: "dois metros", "dez pessoas".
3. Qualidade (poion) – Características que qualificam o sujeito. Ex: "branco", "corajoso".
4. Relação (pros ti) – Indica uma referência a outro. Ex: "maior que", "irmão de".
5. Lugar (pou) – Onde algo está. Ex: "em Atenas", "na casa".
6. Tempo (pote) – Quando algo ocorre. Ex: "ontem", "ao meio-dia".
7. Posição (keisthai) – A disposição do corpo. Ex: "sentado", "deitado".
8. Estado (echein) – Condições ou possessões. Ex: "armado", "calçado".
9. Ação (poiein) – O que o sujeito faz. Ex: "corta", "queima".
10. Paixão (paschein) – O que o sujeito sofre. Ex: "é cortado", "é queimado".
A substância é considerada a categoria primária, pois todas as outras dependem dela para existir. As demais são chamadas de acidentes, pois existem em uma substância.
1. Substância (οὐσία - ousía)
Essência primária do ente.
Distinção: Aristóteles distingue entre substância primeira (indivíduos concretos, como “Sócrates”) e substância segunda (espécies e gêneros, como “homem” ou “animal”).
Fundamento: É aquilo que existe por si, e não em outro. Os acidentes existem in alio (em outro), mas a substância é o suporte (hypokeimenon) de todos os predicados.
Tradição posterior: Na escolástica, foi associada ao conceito de supletum metaphysicum, isto é, o que permanece sob as mudanças. Tomás de Aquino reforça essa visão com a fórmula “ens per se”.
Importância lógica: É o sujeito último do predicado.
2. Quantidade (ποσόν - posón)
Extensão mensurável do ente.
Dois tipos: Discreta (número) e contínua (comprimento, volume).
Não implica qualidade ou valor: "Duas linhas" não dizem se são belas ou feias, apenas quanto são.
Na lógica: Permite a formalização de argumentos matemáticos ou empíricos.
Exemplo: “Três metros de altura”, “cinco pães”.
3. Qualidade (ποιόν - poión)
Maneira pela qual a substância é.
Tipos:
Disposições (fáceis de mudar, como calor corporal); Capacidades (habilidades como tocar piano);
Afecções (sentimentos, estados como “alegria”); Formas (virtudes, inteligências, etc).
Tradição: Tomás distingue qualidades físicas e espirituais.
Fundamento lógico: Permite atribuir valor e diferenciação entre entes da mesma espécie.
4. Relação (πρός τι - pròs ti)
Ser em referência a outro.
Essencialmente relativa: Um ente só é “pai” em relação a um “filho”.
Matematicamente explorável: Relações proporcionais (maior, igual) deram base para a lógica relacional moderna.
No direito ou ética: Relações como “súdito de”, “amigo de” fundam estruturas morais e sociais.
5. Lugar (ποῦ - poû)
Onde o ente está.
Espaço como limite do corpo contendo o ente.
Aristóteles concebia o lugar como o "contorno interior do recipiente".
Não é o mesmo que posição: Um corpo pode estar no mesmo lugar mas com outra posição.
Importância: Fundamento para discussões posteriores sobre topos, espaço absoluto (Newton) e campo (Einstein).
6. Tempo (πότε - poté)
Quando algo ocorre.
Tempo como número do movimento segundo o antes e o depois.
Aristóteles via o tempo como dependente do movimento (não absoluto).
Lógica temporal: Essa categoria abriu caminho para discussões em lógica modal e temporal (ex.: lógica de Kripke).
Exemplo: “Ontem”, “ao meio-dia”.
7. Posição (κεῖσθαι - keîsthai)
Disposição do corpo no espaço.
Difere de lugar: Enquanto o lugar é onde, a posição é como está.
Exemplo: “Sentado”, “ajoelhado”.
Relevante na ética e na arte: a posição do corpo expressa disposição da alma (pensamento clássico).
8. Estado ou hábito (ἔχειν - échein)
Condição permanente ou posse.
Exemplo: “Está armado”, “veste um manto”.
Mais estável que posição, mas menos essencial que substância.
Aspecto jurídico e moral: Possuir virtudes ou vícios, ter propriedades, bens ou status.
9. Ação (ποιεῖν - poieîn)
O que a substância faz.
Exemplo: “Corta”, “constrói”.
É um tipo de mudança ativa.
Aristóteles conecta essa categoria ao conceito de causa eficiente.
Relevante na Ética (agir virtuoso) e na Física (causalidade do movimento).
10. Paixão (πάσχειν - páschein)
O que a substância sofre.
Exemplo: “É cortado”, “é ferido”.
Mudança passiva: Receber uma ação.
Relação com a matéria-prima na teoria hilemórfica: a matéria sofre as alterações produzidas pela forma.
Relevância ética: sofrer implica vulnerabilidade e percepção do outro (pathos).
Causas Aristotélicas.
As quatro causas aristotélicas são os princípios fundamentais pelos quais Aristóteles explica por que algo é o que é. Em sua Física (livros I e II) e também na Metafísica, ele afirma que o conhecimento completo de qualquer ente exige entender essas quatro causas.
1. Causa material (ὕλη - hýlē)
"De que é feito?"
É aquilo de que algo é constituído.
Exemplo: o bronze é a causa material de uma estátua.
Fundamento: sem matéria, não há suporte para a forma.
Está ligada à potência (o que algo pode vir a ser).
Em humanos: carne, ossos, sangue.
2. Causa formal (εἶδος - eîdos / μορφή - morphḗ)
"O que é isso?" (forma ou essência)
É a estrutura, o modelo, a definição do ente.
Exemplo: a forma de estátua impressa no bronze.
Na biologia, a forma de “cão” está no cão enquanto essência.
É o que atualiza a matéria e a torna um ente determinado.
Aristóteles se distancia de Platão aqui: para ele, a forma está na coisa, não num mundo separado.
3. Causa eficiente (τὸ κινοῦν - tò kinoûn)
"Quem ou o que fez isso?"
É o agente da mudança ou da produção.
Exemplo: o escultor é a causa eficiente da estátua.
É o princípio do movimento (kinēsis) ou da geração.
Em cosmologia, Aristóteles identifica o “Primeiro Motor” como a causa eficiente suprema, imóvel mas que move por atração.
4. Causa final (τὸ οὗ ἕνεκα - tò hoû héneka)
"Para que isso existe?"
É o fim, o objetivo, a finalidade do ente.
Exemplo: a beleza ou a homenagem ao deus é a causa final da estátua.
É a mais importante das causas para Aristóteles: todo ente visa um fim (telos).
Na ética, o telos do homem é a eudaimonia (felicidade/flourishing).
Em biologia: o coração existe para bombear sangue.
Exemplo concreto com as quatro causas: uma casa
Material: tijolos, madeira, cimento.
Formal: a planta arquitetônica (forma de casa).
Eficiente: o pedreiro, o arquiteto.
Final: servir de moradia, proteção.
Aristóteles inova ao integrar finalidade na natureza, contra os atomistas (como Demócrito) que explicavam tudo só por causas materiais e mecânicas. Por isso, sua teoria é teleológica: o mundo tem propósito e direção.
A relação entre as causas e as categorias em Aristóteles revela como ele articula dois níveis diferentes, mas interligados, de análise do ser:
As categorias descrevem modos de ser – isto é, os diferentes tipos de predicados que podem ser atribuídos a um ente.
As causas explicam por que o ente é como é – isto é, os princípios internos e externos que dão origem ao ente e à sua configuração.
Vamos ao paralelo estruturado:
1. Substância (categoria)
Ligação direta com as causas material e formal.
A substância é o ente concreto, composto de matéria e forma (teoria hilemórfica).
Causa material: dá o “do que” a substância é feita.
Causa formal: dá o “o que é” a substância.
> Exemplo: “Sócrates” é uma substância. Sua matéria (carne, ossos) é causa material; sua forma (alma racional) é causa formal.
2. Quantidade, Qualidade, Relação (categorias acidentais)
Derivam da causa formal e se realizam na substância.
Quantidade expressa a extensão assumida pela matéria sob certa forma.
Qualidade revela como a forma se manifesta – por exemplo, virtudes ou cor da pele.
Relação pode indicar efeitos da causa eficiente ou da finalidade (pai em relação ao filho; mestre em relação ao discípulo).
> Exemplo: A qualidade “bravura” em um guerreiro depende da forma (sua disposição de alma), mas é analisada como acidente.
3. Lugar, Tempo, Posição, Estado (categorias situacionais)
Ligadas à realização da causa eficiente no mundo físico.
Representam o modo como a substância aparece ou atua no tempo e espaço.
O lugar e o tempo indicam quando e onde a causa eficiente atua.
A posição e o estado são efeitos transitórios da ação.
> Exemplo: A estátua está “em pé” (posição) no “templo” (lugar), desde “ontem” (tempo), e “coberta de ouro” (estado) – todos efeitos da ação do escultor.
4. Ação e Paixão (categorias dinâmicas)
Correspondem diretamente às causas eficiente e final.
Ação: realização da causa eficiente pelo agente.
Paixão: recepção da ação por parte da substância.
Finalidade: embutida no tipo de ação realizada e no resultado pretendido.
> Exemplo: Quando o escultor (eficiente) “talla” (ação) o mármore, a pedra “é moldada” (paixão) para expressar a forma de Apolo (final).
Quadro-resumo do paralelo:
As quatro causas aristotélicas são os princípios fundamentais pelos quais Aristóteles explica por que algo é o que é. Em sua Física (livros I e II) e também na Metafísica, ele afirma que o conhecimento completo de qualquer ente exige entender essas quatro causas.
1. Causa material (ὕλη - hýlē)
"De que é feito?"
É aquilo de que algo é constituído.
Exemplo: o bronze é a causa material de uma estátua.
Fundamento: sem matéria, não há suporte para a forma.
Está ligada à potência (o que algo pode vir a ser).
Em humanos: carne, ossos, sangue.
2. Causa formal (εἶδος - eîdos / μορφή - morphḗ)
"O que é isso?" (forma ou essência)
É a estrutura, o modelo, a definição do ente.
Exemplo: a forma de estátua impressa no bronze.
Na biologia, a forma de “cão” está no cão enquanto essência.
É o que atualiza a matéria e a torna um ente determinado.
Aristóteles se distancia de Platão aqui: para ele, a forma está na coisa, não num mundo separado.
3. Causa eficiente (τὸ κινοῦν - tò kinoûn)
"Quem ou o que fez isso?"
É o agente da mudança ou da produção.
Exemplo: o escultor é a causa eficiente da estátua.
É o princípio do movimento (kinēsis) ou da geração.
Em cosmologia, Aristóteles identifica o “Primeiro Motor” como a causa eficiente suprema, imóvel mas que move por atração.
4. Causa final (τὸ οὗ ἕνεκα - tò hoû héneka)
"Para que isso existe?"
É o fim, o objetivo, a finalidade do ente.
Exemplo: a beleza ou a homenagem ao deus é a causa final da estátua.
É a mais importante das causas para Aristóteles: todo ente visa um fim (telos).
Na ética, o telos do homem é a eudaimonia (felicidade/flourishing).
Em biologia: o coração existe para bombear sangue.
Exemplo concreto com as quatro causas: uma casa
Material: tijolos, madeira, cimento.
Formal: a planta arquitetônica (forma de casa).
Eficiente: o pedreiro, o arquiteto.
Final: servir de moradia, proteção.
Aristóteles inova ao integrar finalidade na natureza, contra os atomistas (como Demócrito) que explicavam tudo só por causas materiais e mecânicas. Por isso, sua teoria é teleológica: o mundo tem propósito e direção.
A relação entre as causas e as categorias em Aristóteles revela como ele articula dois níveis diferentes, mas interligados, de análise do ser:
As categorias descrevem modos de ser – isto é, os diferentes tipos de predicados que podem ser atribuídos a um ente.
As causas explicam por que o ente é como é – isto é, os princípios internos e externos que dão origem ao ente e à sua configuração.
Vamos ao paralelo estruturado:
1. Substância (categoria)
Ligação direta com as causas material e formal.
A substância é o ente concreto, composto de matéria e forma (teoria hilemórfica).
Causa material: dá o “do que” a substância é feita.
Causa formal: dá o “o que é” a substância.
> Exemplo: “Sócrates” é uma substância. Sua matéria (carne, ossos) é causa material; sua forma (alma racional) é causa formal.
2. Quantidade, Qualidade, Relação (categorias acidentais)
Derivam da causa formal e se realizam na substância.
Quantidade expressa a extensão assumida pela matéria sob certa forma.
Qualidade revela como a forma se manifesta – por exemplo, virtudes ou cor da pele.
Relação pode indicar efeitos da causa eficiente ou da finalidade (pai em relação ao filho; mestre em relação ao discípulo).
> Exemplo: A qualidade “bravura” em um guerreiro depende da forma (sua disposição de alma), mas é analisada como acidente.
3. Lugar, Tempo, Posição, Estado (categorias situacionais)
Ligadas à realização da causa eficiente no mundo físico.
Representam o modo como a substância aparece ou atua no tempo e espaço.
O lugar e o tempo indicam quando e onde a causa eficiente atua.
A posição e o estado são efeitos transitórios da ação.
> Exemplo: A estátua está “em pé” (posição) no “templo” (lugar), desde “ontem” (tempo), e “coberta de ouro” (estado) – todos efeitos da ação do escultor.
4. Ação e Paixão (categorias dinâmicas)
Correspondem diretamente às causas eficiente e final.
Ação: realização da causa eficiente pelo agente.
Paixão: recepção da ação por parte da substância.
Finalidade: embutida no tipo de ação realizada e no resultado pretendido.
> Exemplo: Quando o escultor (eficiente) “talla” (ação) o mármore, a pedra “é moldada” (paixão) para expressar a forma de Apolo (final).
Quadro-resumo do paralelo:
Observação final:
Embora a causa final não seja uma categoria, ela perpassa e dá sentido a várias delas, especialmente à ação, qualidade, relação e forma. Isso porque, para Aristóteles, tudo visa um fim, e esse fim estrutura a inteligibilidade do ser.
Embora a causa final não seja uma categoria, ela perpassa e dá sentido a várias delas, especialmente à ação, qualidade, relação e forma. Isso porque, para Aristóteles, tudo visa um fim, e esse fim estrutura a inteligibilidade do ser.
Agora, vamos traçar um paralelo entre a categoria aristotélica de "Lugar e Tempo" e o entendimento da Física moderna, especialmente na relatividade.
Em Aristóteles: Lugar e Tempo (categorias acidentais)
Lugar (topos): é o limite interior do corpo que contém outro — ou seja, o lugar é definido por referência ao contorno imediato.
Tempo (chrónos): é o número do movimento segundo o antes e o depois — o tempo é dependente do movimento; não existe sem mudança.
> Aristóteles concebe tempo e lugar como realidades relativas aos corpos e ao movimento.
Não há espaço vazio absoluto (recusa o vácuo) e o tempo não existe independentemente de mudanças.
Na Física Moderna (especialmente com Einstein)
Espaço e tempo não são absolutos, como pensava Newton, mas formam um continuum espaço-tempo.
Na Relatividade Restrita, o tempo é afetado pela velocidade do movimento; na Relatividade Geral, também pela gravidade.
O espaço não é um “lugar fixo”, mas é curvado pela presença de massa e energia.
> Tempo e espaço tornam-se dimensões geométricas integradas que variam conforme o referencial.
Paralelos e contrastes:
Ponto de convergência filosófico.
Ambos os sistemas reconhecem que tempo e espaço não são realidades independentes dos entes. Aristóteles o faz por uma ontologia relacional, e Einstein por uma física relacional baseada em medidas.
CONCLUSÃO: A SUPERIORIDADE DO PENSAMENTO ARISTOTÉLICO.
1. Autossuficiência racional:
Aristóteles constrói uma cosmologia e ontologia dinâmica sem instrumentos matemáticos modernos, mas com lógica, observação e reflexão. A física moderna reempacota categorias aristotélicas com aparato técnico — mas não a supera em profundidade conceitual.
2. Universalidade estrutural:
O pensamento aristotélico é ontológico: explica o ser em qualquer realidade, física ou não. A teoria da relatividade é um modelo específico aplicado ao espaço-tempo físico — dependente de contingências mensuráveis. Aristóteles vai além: é fundamento de inteligibilidade de qualquer mudança.
3. Prioridade filosófica:
Antes de medir espaço-tempo, é preciso conceber o que são espaço, tempo, ser, movimento. Isso é tarefa filosófica. Einstein caminha nos trilhos que Aristóteles construiu. Ele mesmo reconheceu que “a ciência sem filosofia é cega”.
4. Continuidade e não ruptura:
A relatividade é, na verdade, uma continuação moderna da teoria aristotélica do movimento: Tempo como relativo: Aristóteles já o dizia, ao vinculá-lo ao movimento.
Espaço não absoluto: Aristóteles também.
Realidade relacional e dinâmica: base da hilemorfismo e das quatro causas.
A diferença está no vocabulário, não no fundamento lógico.
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