Ser Pessoa: Entre a Matéria e a Consciência
Um ensaio sobre a unidade entre o mundo interior e exterior na constituição do humano
Desde o romper da aurora dos tempos, estamos imersos num mundo — suas nuances, seus efeitos, sua disposição sobre nós acabam por nos tornar parte desse todo. Somos fruto desse mundo na medida em que interagimos com ele.
A ideia de estarmos em um mundo é o que nos põe de pé, o que nos dá sustentação — é ela que nos orienta.
Sua relação conosco vai além de um mero ambiente onde podemos andar, correr, sentar e até deitar. Ela é o ponto fundamental de equilíbrio, aquilo que nos sustenta. O homem é o meio, na medida em que o meio é o homem.
Contudo, não é só o lado de fora que conta — há também aquele mundo interno: nossas aspirações, nossos anseios, nossas dúvidas e nossas certezas. Em suma, somos uma cisão entre o que vemos do lado de fora e a forma como essa “parte de fora” se apresenta para nós.
A tentativa de explicar essa união foi o ponto de partida de muitas consciências em busca de justificar o porquê das coisas serem assim. Foram eles, os gregos, os primeiros a criar um método — ou, ao menos, a tentar criá-lo — que oferecesse uma resposta condizente à dúvida.
A esses, a história batizou de pré-socráticos: homens como Tales de Mileto, Anaxágoras, Anaximandro, Heráclito, Parmênides, Pitágoras — pensadores que trouxeram ao seu mundo uma justificativa para essa união entre as coisas de fora e as de dentro.
Coisas essas que, na abordagem concreta dos fatos, são o que nos tornam pessoas.
Pessoa é o conjunto real de sensibilidades que um ser humano pode experimentar — desde sentimentos e sensações até pensamentos, ora vagos, ora travestidos de forma e intenção.
São essas manifestações a representação imediata da condição humana — aquilo que a torna, enfim, uma pessoa.
Uma pessoa possui duas abordagens: uma interna e outra externa.
A abordagem interna é o que denominamos mundus mentis — aquilo que está dentro de você e só você conhece.
Aquela lembrança que insiste em permanecer, aquele algo indefinido, aquele pensamento recorrente — isso é o seu mundus mentis.
A abordagem externa é o mundo das coisas — aquilo que nos cerca, nos toca, nos afeta.
É o domínio do visível, do audível, do palpável. É onde os objetos se impõem e os eventos se sucedem.
Enquanto o mundus mentis guarda o segredo da interioridade, o mundo das coisas nos desafia com sua presença constante, sua alteridade, sua inevitável realidade.
A junção dessas duas dimensões — o mundo interno e o mundo externo — constitui a síntese: uma pessoa.
Ademais, uma pessoa não pode ser reduzida à sua representação corporal, à sua materialidade, pois tal abordagem, além de excessivamente simplista, é uma interpretação subjetivista.
Esse idealismo da pessoa faz com que sua totalidade seja reduzida a um mero aspecto formal — uma abstração que ignora a complexidade do ser.
Portanto, a idealização, se couber no ente, deve abranger não apenas seus aspectos externos, mas também sua interioridade em toda a completude de suas possibilidades.
Isso só pode ocorrer se o termo escolhido, em sua definição, for capaz de abarcar a magnitude de todas essas possibilidades.
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