quinta-feira, 24 de abril de 2025

Dúvida; esse vírus constante.

Não é segredo algum que vivemos numa das épocas de maior disfunção cognitiva dos últimos vinte e seis séculos — uma era em que a informação nunca esteve tão acessível, com dados na ponta dos dedos; um misto de "tudo podemos ter, mas nada de fato temos". Os especialistas de plantão oferecem respostas que vão das mais singelas às mais complexas: fobia à vida, medo do desconhecido, síndrome da era tecnológica. Esses mesmos, movidos por tal abordagem, afirmam que injúrias da alma, como a ansiedade e a depressão, são resultados diretos desse fenômeno — com nomes já bem estabelecidos no vocabulário clínico, como a nomofobia (ansiedade gerada pela ausência do smartphone) e o FOBO (medo constante de estar perdendo uma escolha melhor, típico da lógica das redes sociais).
É claro que, para qualquer mente um pouco mais atenta, existe uma correlação evidente entre essas moléstias e as deficiências desta era distópica.

Essa correlação, dada nos exemplos acima, é de fato algo que a literatura médica reconhece com relativa clareza. Mas o que raramente se diz — talvez por ignorância, talvez por conveniência — é que tudo isso não nasce, originalmente, do simples contato com esse novo mundo. Como se bastasse apenas se debruçar sobre uma tela para que o "vírus" fosse incubado. Não. A raiz é mais funda, mais antiga e menos visível: nasce do vazio anterior à tela, do silêncio interior que a tecnologia apenas ilumina com luz artificial.

Esse vazio existencial, essa deficiência na abordagem do eu diante do mundo, essa distopia em torno das perguntas “como devo agir?” e “o que devo fazer?”, possuem mais relevância na tomada de decisão — especialmente quando o assunto é a própria pergunta — do que qualquer conselho que um psicólogo ou psicanalista possa oferecer em resposta à indagação: "que doença é essa?"

O homem, como elemento do universo, tem sua representatividade inserida naquilo que chamamos de Ser. O homem é — e, na medida em que é, possui um ser. E ser é a possibilidade, ilimitada ou não, das suas próprias possibilidades. Um ser é a manifestação de algo no mundo, algo que se move em função da funcionalidade. Um ser é a presença de um objeto para a apreensão de um sujeito.

Logo, existe mais seriedade na dúvida do que nas respostas prontas dos consultórios e centros acadêmicos. Para que haja clareza, no entanto, a pergunta precisa ser sólida — deve trazer em si a verdadeira essência, na forma de uma espera, naturalmente, pela resposta adequada.
A pergunta, já sabemos: quem sou eu e o que devo fazer? — como devo agir?
Porém, a resposta se esvai como fumaça entre os dedos. E isso porque, tal como a fumaça, as respostas de hoje são evanescentes e ilusórias — sustentam-se como verdades apenas por alguns instantes.

Portanto, tendo em vista que a pergunta é válida e sincera, a resposta só poderia ter alguma relevância se sua ideia abarcar o fim último do sofrimento: a alma. É nela que todas as nossas paixões e demais afetos são processados; é dela que o homem arranca as forças para se movimentar, interpretar e enfrentar as mazelas daquilo que ele chama de mundo. E é através dela que ele poderá alcançar a ponte que liga o sofrimento ao verdadeiro prazer — que, em seu fim último, é a própria vida.

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