segunda-feira, 28 de abril de 2025

Refutação da Acusação de Usurpação Divina pelo Papa à Luz da Tradição

Há nas redes sociais um vídeo em que um sujeito, que se intitula "pastor", afirma que o Papa usurpa a pessoa da Santíssima Trindade, sendo, segundo ele, uma espécie de "homem perigoso à fé". Os argumentos apresentados são de uma baixeza retórica que beira o absurdo. Não é meu intuito entrar em temas nos quais não sou versado, porém, o vídeo é recorrente e a retórica de baixo nível merece ao menos uma resposta fundamentada.

Vamos analisar.

Alguns acusam o Papa de usurpar o papel de Deus Pai, de Cristo e do Espírito Santo ao adotar títulos como "Papa", "Sumo Pontífice" e "Pedra". Contudo, essa interpretação é errônea quando examinada à luz da Sagrada Tradição da Igreja.

1. Sobre o título "Papa" (Pai)
A palavra "Papa" deriva do grego pappas, expressão de afeto e respeito, significando pai espiritual. Desde os primeiros séculos, os bispos foram reconhecidos como pais do rebanho de Cristo. São Paulo atesta essa realidade:

> "Ainda que tivésseis dez mil mestres em Cristo, não tendes muitos pais; pois eu vos gerei em Cristo Jesus por meio do Evangelho." (1 Cor 4,15).

São Cipriano de Cartago, no século III, reafirma essa visão:

> "O bispo está na Igreja, e a Igreja no bispo; e se alguém não está com o bispo, não está na Igreja." (Carta 66,8).

Santo Inácio de Antioquia também exorta os fiéis:

> "Reverenciai o bispo como a Deus." (Carta aos Esmirnenses, 8,1).

Portanto, chamar o Papa de "pai" é reconhecer sua missão espiritual de guiar, cuidar e gerar os fiéis em Cristo, não uma usurpação da paternidade divina.

2. Sobre o título "Sumo Pontífice" (mediador)
O Papa é chamado "Sumo Pontífice" como sinal da unidade da Igreja, não como um novo mediador entre Deus e os homens. A Escritura afirma que há um só Mediador, Jesus Cristo (1Tm 2,5), e a Tradição esclarece que o ministério sacerdotal participa desta mediação de maneira derivada e subordinada. Santo Agostinho ensina:

> "Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens, e no entanto, os sacerdotes também são mediadores sob o único Mediador." (Sobre a Trindade, livro 4, capítulo 15).

São Leão Magno explica a missão singular de Pedro e seus sucessores:

> "Pedro foi colocado à frente de todos os apóstolos, e em Pedro reside a constante forma da Igreja." (Sermão 3,3).

Assim, o Papa é "Sumo Pontífice" enquanto instrumento visível da unidade e da comunhão dos fiéis, jamais concorrendo com a mediação única e perfeita de Cristo.

3. Sobre o título "Pedra" (Pedro e seus sucessores)
Cristo é a Pedra Angular da Igreja, conforme atestam 1 Pedro 2,6 e Efésios 2,20. No entanto, o próprio Cristo conferiu a Pedro uma participação especial nesta missão:

> "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja." (Mt 16,18).

Santo Agostinho comenta:

> "Tu és Pedro, e sobre esta pedra que confessaste, sobre esta pedra que reconheceste, edificarei a minha Igreja." (Retratações, I, 21).

E São Jerônimo declara:

> "Sobre Pedro, o mesmo Senhor edifica a sua Igreja, e a ele confia a chave do Reino." (Comentário sobre Mateus 16,18).

Portanto, o Papa, como sucessor de Pedro, é chamado "pedra" enquanto exerce, em nome de Cristo, a missão de confirmar os irmãos na fé e sustentar a unidade da Igreja. Essa função é de participação e serviço, não de competição ou substituição da obra do Espírito Santo.

Conclusão.

À luz da Tradição apostólica, vê-se que as acusações contra o Papa são infundadas e baseadas numa compreensão superficial e desonesta da fé católica. O Papa, chamado "Pai" no sentido espiritual, "Sumo Pontífice" como sinal de unidade sob Cristo, e "Pedra" por derivação da missão conferida a Pedro, é, em toda sua função, ministro da unidade e da fidelidade ao único Deus em três Pessoas.
E por fim, como a luta é pelas almas, o Espírito dos Tempos — numa de suas formas, o diabo — usa de qualquer artifício para ludibriar o homem, inclusive a burrice. A Sagrada Escritura já advertia:

> "Surgirão falsos mestres entre vós, os quais introduzirão heresias perniciosas, chegando até a negar o Senhor que os resgatou, atraindo sobre si mesmos rápida destruição." (2 Pedro 2,1).

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