Aceitemos: por mais que queiramos, não é possível apagar o fato. Em outras palavras, não há verdade que suprima o que aconteceu, pois o que acontece é fato — e fato é verdade manifesta.
Contudo, existem, nos dias de hoje, pessoas que acreditam poder apagá-lo. Para isso, valem-se de algo: a mentira como força probante; uma espécie de coesão comumente chamada de "narrativa". Unem-se e, agrupados pela parte de cima da pirâmide social, escravizam todo aquele que pensa diferente ou argumenta de forma contrária. Esse é logo tomado como “mentiroso”. O eixo foi invertido.
Mas por que fazem isso? Por que agem assim? Podemos imaginar — se nossa faculdade não nos trair. No homem existe uma guerra intensa, um combate, uma luta que anseia moldá-lo. Faz parte de sua constituição. Porém, muitos não aceitam. E essa recusa, essa tentativa de controlar, faz com que, diante da força que é a vida e suas mazelas, ele acabe por fazer a escolha mais simples: a fuga. Mas — e se não puder fugir? Ele reinventa. Não da forma mais sensata, corrigindo os erros de ontem e apostando nos acertos do amanhã. Não. Sua ideia é transfigurar a verdade, dando a ela um novo tom — e pasmem: a tentativa se volta para o passado. Entretanto, não se pode mudar o que aconteceu.
São inúmeras as narrativas que ele reinventa nessa tentativa. Faz o erro parecer acerto, o medo virar coragem, a mentira se tornar meia verdade e o defeito virar virtude. Chega-se ao ponto de teorizar novas manifestações do real, tão somente para não dar o braço a torcer e admitir que errou. Não se engane: a busca por algum reconhecimento é o alicerce de muitos castelos.
Só que nada disso funciona. O homem foi feito para a verdade, e é nela que se encontra qualquer possibilidade de vitória — mesmo que, aos olhos dos mais desavisados, ela pareça mera derrota. No testemunho dos santos, a verdade é tratada como algo sólido, concreto — um plano cuja inserção não depende tão somente da vontade, mas, antes, de uma luta. Esse estado é uma conquista.
Na esteira do saber humano, tudo isso ganha roupagem direta quando o homem, munido dessa tentativa, precisa da verdade para atestar algo que lhe importe grandemente. Daí ele, munido de um singelo lampejo de lucidez, busca entrar em sintonia com aquilo que desprezou. São inúmeros os exemplos: homens que, no desespero de suas ações, reconhecem que a única saída é abraçar a verdade e aceitar.
A meu ver, quando se chega a isso, conquistou-se algo: o reconhecimento de si mesmo. Não se vendeu o que de mais precioso se tinha — a alma. Ele viu, pensou, meditou e, na contemplação de suas próprias mazelas — aquilo que chamamos de sofrimento —, ele venceu.
Vencer é isso: olhar para o ontem, enxergar o hoje e apostar no amanhã. Pois só a esperança lançada sobre o erro consumado dá respaldo a um perdão sincero.
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