Amigos, o que dizer sobre o medo — essa força única que encerra em si os próprios movimentos, extraindo do homem sua força vital? Podemos considerá-lo um elemento em si, ou seria, em nós, a ausência de algo?
O medo é um movimento que se dá pela ausência de um mover-se. Na física, chamamos isso de inércia — repouso — lembrando que a inércia é, em si, um movimento, na medida em que o ato carrega em si as potencialidades já infusas.
Mas o que é, afinal, o medo? Etimologicamente, ele se revela sob diversas máscaras e raízes antigas:
— No grego, encontramos phóbos (φόβος), que expressa o terror que paralisa, o susto que subverte a razão.
— No latim, temos metus, o medo que perturba e vigia, e também timor, o temor reverente — mais próximo do respeito ao sagrado.
— No sânscrito, bhaya (भय), vindo da raiz bhī, designa um medo existencial, vinculado à ignorância e ao apego, presente nos Vedas e textos budistas.
— No aramaico, ressoa dechlā (ܕܚܠܐ), medo misturado ao assombro, temor diante do divino, como quem roça os limites do inominável.
— No árabe, khawf (خوف) traduz tanto o medo do castigo quanto o temor reverente que prepara a alma para o taqwá — consciência vigilante diante do sagrado.
Mas o que vemos, ao abordar a raiz do termo, é uma espécie de ausência — algo que nos impede de seguir numa direção, de impetrarmos um movimento, de caminhar em direção a algo. O medo, sob o viés da psicanálise, age como uma força primordial: não algo que nos invade de fora, mas que existe em nós como parte constituinte, como um princípio. Contudo, longe de ser um princípio construtor, ele é, antes de tudo, um arché destrutivo — pois joga com a alma humana, ofertando-lhe ilusões em formas grotescas, distorcidas, muitas vezes mais paralisantes do que o próprio real.
O homem teme — e, sem coragem, é escravizado. O medo se apresenta, então, como um conselheiro — um mau conselheiro — sussurrando que o que se pode, não se deve; que o que se deseja, não se alcança; que o que se sonha, não se merece. E o homem trava. Sua reação diante disso é a estagnação.
Se os de ontem tivessem dado ouvidos à voz inebriante da sereia — ao seu belo e traiçoeiro canto — teriam acreditado que não conseguiriam atravessar o mar revolto. E, nesse caso, teríamos pago um alto preço: o preço da rendição antes mesmo da tentativa, o preço do não vivido.
Assim, o medo não é apenas um vazio. Ele é uma presença paradoxal: ausência de ação, mas não de potência; sombra que revela, silêncio que clama. Talvez não o que falta, mas o que espera — latente — para se mover.
Portanto, frente a essa força paralisante, a única alternativa é o surgimento de uma força contrária — não qualquer força, mas aquela extraída da mais sublime das histórias: a que brota da Cruz vazia. Deus se fez homem para revelar que, diante do medo, a única resposta verdadeira é a aniquilação da própria vida; a entrega plena por algo maior, algo que possa declarar, com autoridade: “Aqui jaz o medo — ele nunca vencerá.”
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