O segundo preceito é o princípio da dominância, que pertence ao sujeito. Nesse horizonte, a inferência que prevalece é a da consciência, pois somente onde há consciência pode-se falar propriamente em sujeito. O objeto se oferece, mas é a consciência que domina, ordena e dá sentido, convertendo o dado em mundo vivido.
O terceiro preceito é o do objeto. Ele é o emissor, pois apenas o objeto pode oferecer aquilo que é captado pelo sujeito. Nessa medida, o objeto, quando querido em magnitude, possui o direito de ser chamado de Amor, já que é ele que suscita a necessidade de posse e de adesão por parte do sujeito. O objeto é, portanto, a fonte que atrai, que convoca, que provoca no sujeito a tensão da busca e da união.
Contudo, ainda falta a esse esquema um aspecto essencial. Se a consciência domina e o objeto emite, é necessária uma instância de ligação, a cola que une o sujeito ao objeto. Sem esse elo, haveria apenas unidades dispersas, lançadas num vazio caótico, incapazes de formar mundo. Essa cola é a relação em ato, o vínculo efetivo que transforma a dualidade em dinâmica viva. É ela que impede a dissolução e, ao mesmo tempo, confere consistência à experiência, estabelecendo a ponte que faz da existência uma trama inteligível.
Em qualquer relação que observamos, encontramos em primeiro lugar a existência mesma dos termos sujeito e objeto, em segundo lugar o sujeito e em terceiro o objeto. No entanto, se olharmos com atenção mais profunda, veremos que entre eles se manifesta algo além: uma força que não está no sujeito, nem no objeto, e que tampouco depende de ambos. Essa força é a própria realidade, a providência divina, fundamento último que antecede e sustenta toda relação. É ela que garante que o vínculo não se dissolva em contingência, mas se inscreva no tecido da ordem do ser, tornando inteligível a união entre sujeito e objeto.
Esta ideia, além de explicar a lacuna existente entre sujeito e objeto, também nos permite a ascensão da coisa pelo todo, pois faz com que a relação se subordine à unidade. Ademais, compreendemos que, na relação sujeito-objeto, a variante oculta diz muito mais do que poderíamos imaginar. Essa variante, a providência divina, não é apenas responsável pela condição primeira — a existência — como também é a garantia de que recebamos, enquanto sujeitos, aquilo que nos é dado, e de que emitamos, enquanto objetos, aquilo que somos chamados a oferecer. A providência é, assim, o princípio que abarca o duplo movimento de recepção e emissão, sustentando tanto o sujeito quanto o objeto em sua dinâmica de relação.
(Jardel Almeida)
Nenhum comentário:
Postar um comentário