quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Notas de Quarta - 03 de Setembro de 2025.

A Narrativa e o Consenso: O véu que engole a Realidade.

Um dos grandes enigmas da vida social é a forma como a narrativa, ao se solidificar em consenso, consegue moldar a realidade a ponto de engolir qualquer voz discordante. A aparência imediata sugere que se trata apenas de palavras, de construções simbólicas que circulam. Mas a análise aristotélica exige que vejamos além do efeito superficial, perguntando pelas causas, pelos modos de operação e pelas consequências. O logos humano é a base do convívio, mas, quando se converte em mito persuasivo, torna-se capaz de redefinir o que a comunidade considera real. A narrativa, ao invés de ser mera descrição, torna-se princípio ordenador do mundo vivido.
A primeira tensão dialética que se apresenta é a diferença entre aquilo que é e aquilo que se diz ser. Aristóteles distingue a substância da aparência, a essência do acidente. Uma narrativa que se impõe pelo consenso não precisa corresponder à essência das coisas, basta que conquiste adesão suficiente para se firmar como se fosse a realidade. O discurso, que deveria ser mediador entre intelecto e mundo, transforma-se em véu que encobre o real. A contradição surge no instante em que o verossímil passa a ocupar o lugar do verdadeiro, instaurando uma ordem fictícia, mas vivida como concreta.
Nesse processo, a lógica da maioria assume papel central. O homem, sendo animal político, busca naturalmente integrar-se à pólis, e a vida comum se organiza sob a força da persuasão. A minoria discordante, ao não partilhar da narrativa consensual, encontra-se isolada, destituída de voz, e por vezes até de existência social. Aqui vemos a aplicação prática do que Aristóteles observava na Retórica: o poder da palavra é maior que o da força bruta, porque move o desejo coletivo. A palavra, quando repetida, educa o imaginário, e quando aceita sem resistência, dissolve qualquer obstáculo.
A dialética se dá no confronto entre a narrativa enquanto ficção útil e a realidade enquanto dado bruto. A narrativa, para subsistir, precisa ocultar fissuras, precisa apresentar-se como se fosse unívoca, não admitindo ambiguidade. A realidade, por outro lado, resiste em sua multiplicidade, em sua dureza que não se deixa reduzir a um único enredo. Daí nasce a tensão: a minoria que discorda muitas vezes está mais próxima da realidade, mas é esmagada pela verossimilhança compartilhada da maioria. É o triunfo do consenso sobre a verdade.
É necessário lembrar que Aristóteles concebia a verdade como adequação entre intelecto e realidade, não como produto de convenção. A narrativa, porém, tende ao contrário: fabrica a “verdade” a partir do acordo. Assim, temos duas ordens de realidade: a realidade da coisa em si, e a realidade social construída pela adesão coletiva. Quando o consenso se torna absoluto, a segunda sobrepõe-se à primeira, impondo-se como critério universal de validade. Eis o perigo: o consenso não é infalível, mas adquire a força de um dogma.
Essa força se mostra no modo como as narrativas reduzem o espaço da dúvida. Se a verdade aristotélica se firma na busca incessante de causas e explicações, a narrativa consensual fecha o circuito, dispensando investigações. É o que vemos em regimes totalitários: a propaganda não precisa ser perfeita, basta ser repetida até não deixar lugar para outra possibilidade. A minoria que ousa perguntar se vê ridicularizada ou mesmo perseguida. A dúvida, virtude filosófica, converte-se em crime social.
A dialética prossegue quando pensamos no papel da linguagem. Para Aristóteles, a linguagem é símbolo das afecções da alma, e estas, por sua vez, são imagens das coisas. Mas quando a linguagem é instrumentalizada por narrativas artificiais, ocorre uma inversão: a palavra já não reflete a alma que contempla o real, mas molda a alma para adequar-se ao enredo imposto. A palavra deixa de ser meio de conhecimento para ser meio de dominação. Assim, o homem perde sua relação imediata com a realidade e passa a viver dentro de uma ficção consensual.
Não é difícil perceber que essa ficção não se mantém sozinha. Ela precisa de guardiões, de intelectuais ou de meios de comunicação que a reproduzam. O consenso é um organismo que se alimenta de repetição. Como Aristóteles dizia, a virtude nasce do hábito, mas aqui também o erro nasce do hábito. A narrativa, repetida sem cessar, converte-se em hábito de percepção, e o que era artificial passa a ser vivido como natural. A minoria discordante, ao não partilhar desse hábito, torna-se estrangeira em sua própria terra.
A questão da minoria é decisiva. Aristóteles afirmava que a pólis é formada não apenas pela maioria, mas por todas as partes em proporção. No entanto, quando a narrativa consensual se impõe, a minoria é tratada como um excesso a ser eliminado. Ela não é mais parte da pólis, mas inimiga da ordem. A dialética aqui se torna dramática: a minoria carrega muitas vezes a verdade, mas é sacrificada em nome da estabilidade do enredo. Vemos nisso o mecanismo descrito por Girard, mas já intuído na filosofia antiga: a comunidade preserva sua unidade às custas do sacrifício de um elemento.
Se a narrativa é capaz de tal poder, cabe perguntar pela sua causa final. O que busca quem constrói narrativas? Busca-se não o conhecimento, mas a governabilidade. A narrativa é instrumento para dirigir o comportamento coletivo. E, nesse sentido, cumpre uma função política, embora ilegítima do ponto de vista aristotélico. Para Aristóteles, a política é a ciência do bem comum, mas a narrativa imposta busca antes o bem de quem a articula, mesmo que seja contra a realidade e contra a justiça.
A dialética aqui nos obriga a considerar também a contradição interna. Se toda narrativa se funda no consenso, e todo consenso é instável porque depende da adesão contínua, então a narrativa precisa constantemente reforçar-se. Ela não pode parar de falar, não pode permitir silêncio. Um único instante de suspensão pode abrir espaço para a realidade retornar. É por isso que sociedades narrativamente controladas estão sempre em movimento discursivo, produzindo slogans, repetições, campanhas. O ruído constante é a defesa contra o real.
Aristóteles nos legou a noção de que a verdade resiste em si mesma, mas a narrativa depende do assentimento. Essa diferença é essencial. A verdade é imóvel, ainda que ninguém a aceite, mas a narrativa, sem aceitação, desfaz-se como fumaça. Eis por que os construtores de narrativas precisam conquistar não apenas a mente, mas a emoção, a sensibilidade, o imaginário. O consenso não se dá apenas pela razão, mas pelo desejo de pertencimento. A minoria é engolida porque ser minoria é ser privado de pertencimento, e poucos suportam tal exílio.
A pergunta inevitável é: existe saída? A dialética sugere que toda tese carrega sua antítese. A narrativa, ao se tornar absoluta, acaba por revelar suas próprias contradições. A realidade, ainda que ocultada, impõe-se em algum momento. É o que Aristóteles chamaria de retorno do princípio: a essência não pode ser anulada pelo acidente indefinidamente. Assim, a narrativa pode enganar muitos, por muito tempo, mas não pode anular a natureza das coisas. A verdade ressurge como um limite ao poder do consenso.
Mas isso não significa que o retorno da realidade seja suave. Muitas vezes ele se dá de modo abrupto, violento, porque o acúmulo de ficção cria uma tensão insustentável. Quando o consenso colide com o real, o resultado é crise. A minoria, então, reaparece como testemunha de que havia outra possibilidade, outra interpretação. Aqueles que antes eram engolidos mostram-se, no choque, como portadores de algo que não podia ser eliminado. E assim a dialética segue seu curso, revelando que nenhum consenso é definitivo.
É preciso, contudo, não idealizar a minoria. Nem toda discordância é verdade. Aristóteles advertiria que o particular não substitui o universal, e que a verdade precisa de demonstração. A minoria pode ser apenas capricho, erro, delírio. Mas, ao menos, ela impede a petrificação completa do consenso. Ela lembra que existem fissuras, que a narrativa não é a realidade. Sua função é manter a tensão aberta, permitindo que a busca pela verdade não seja encerrada antes do tempo.
Se a narrativa age como véu, o filósofo age como desvelador. O papel da filosofia, à moda aristotélica, é conduzir o intelecto de volta às causas, afastando o fascínio das aparências. Contra a tirania do consenso, a filosofia lembra que o ser não se deixa reduzir à convenção. Por isso, todo exercício filosófico é, em certo sentido, resistência contra narrativas totalizantes. É o esforço de reconduzir a palavra ao seu lugar: meio de acesso ao real, não substituto dele.
No entanto, a filosofia não pode destruir o poder da narrativa de uma vez por todas. A vida social sempre se organiza em torno de enredos, porque o homem busca sentido. O problema não é a narrativa em si, mas a absolutização dela. O equilíbrio aristotélico consiste em reconhecer o valor da narrativa sem permitir que ela substitua a verdade. A narrativa pode mediar, educar, ordenar, mas não pode pretender ser a própria realidade. A vigilância contra esse desvio é tarefa constante.
A conclusão dialética é que a narrativa é necessária, mas perigosa. Necessária, porque o homem não vive apenas de fatos, mas de significados; perigosa, porque o significado, quando se emancipa dos fatos, escraviza o homem. O consenso pode ser saudável quando reflete a realidade, mas é destrutivo quando a deforma. A minoria discordante, longe de ser inimiga, é guardiã contra a tirania do consenso, lembrando que a realidade não se curva às convenções humanas.
Assim, o cerne aristotélico se revela: a narrativa não é fim, mas meio; o consenso não é critério da verdade, mas apenas indicador de aceitação. A realidade, em sua essência, continua a ser o parâmetro supremo. O desafio do homem político e filosófico é distinguir entre o que é apenas dito e o que realmente é. O logos deve servir ao ser, não substituí-lo. E a minoria que resiste é sinal de que a busca pela verdade ainda não foi completamente sufocada.
Por fim, a dialética aristotélica nos ensina que todo exagero retorna contra si mesmo. A narrativa, ao querer dominar a realidade, descobre-se prisioneira de suas próprias ilusões. O consenso, ao pretender ser absoluto, encontra seu limite no real. E a minoria, ao ser engolida, reaparece como testemunha de que a verdade não se deixa apagar. Eis a lição: a narrativa pode deformar, mas não destruir o ser. O logos humano é capaz de engano, mas também de desvelamento. O equilíbrio entre ambos é a tarefa permanente da filosofia.

O Quarto Giro e a Fortaleza do Hemisfério: a América no Limiar da Crise Final.

O estudo dos ciclos históricos, especialmente pela lente do Fourth Turning, mostra que as sociedades não se movem de modo linear, mas oscilam em padrões que se repetem a cada oitenta ou noventa anos. Aristóteles já intuía algo semelhante quando observava que as formas políticas, ao se degenerarem, davam lugar a outras em um movimento quase necessário. O que Strauss e Howe traduzem em termos modernos é a mesma intuição: a ordem vigente se esgota em seu próprio excesso, e a crise vem como parto de um novo arranjo. Os Estados Unidos, ao longo de sua história, confirmaram esse ritmo: Guerra Civil, Grande Depressão e Segunda Guerra, Guerra Fria e Bretton Woods, cada qual foi resolução de um ciclo.
Se essa lógica se mantém, o presente anuncia mais uma crise culminante. A década de 2025 a 2032 desponta como o interregno no qual a ordem monetária, institucional e geopolítica não poderá mais se sustentar sem reforma profunda. Aqui emerge a dialética aristotélica entre potência e ato: o que está em potência é o novo sistema; o ato, porém, só virá através da dissolução do antigo. Por isso, Washington acelera movimentos que parecem isolados, mas são peças de um tabuleiro maior. O combate aos cartéis, as pressões sobre Venezuela, México, Caribe, não são fins em si, mas mediações para a transformação do todo.
Na análise superficial, tudo parece mero esforço de contenção criminal. Mas a causa formal, se a examinamos, não é policial, e sim estratégica. O cartel deixa de ser apenas bandido e passa a ser compreendido como soberania paralela, capaz de comprometer o domínio estatal sobre fronteiras, rotas minerais e fluxos migratórios. Quando o governo dos Estados Unidos rotula esses grupos como terroristas, ele altera a categoria lógica do fenômeno: já não é crime, mas ameaça existencial. Assim se desloca a narrativa e se justifica uma resposta que ultrapassa a lei ordinária.
Aristóteles insistia que toda explicação deve percorrer as quatro causas. A causa material aqui são os recursos concretos: o petróleo da Guiana, o lítio boliviano, as reservas venezuelanas, as cadeias mexicanas. A causa formal é o enquadramento da segurança nacional que reorganiza esses elementos sob uma nova estrutura. A causa eficiente é a ação coordenada de sanções, operações navais, negociações bilaterais. E a causa final é inequívoca: manter a hegemonia americana num mundo em que o dólar e o aparato institucional estão sob ameaça. Só esse quadro completo revela o sentido das ações.
Historicamente, o padrão se confirma. Nos anos 1940, Roosevelt compreendeu que antes de intervir na Europa era preciso selar o hemisfério. O pan-americanismo, a rede de bases, a vigilância naval foram condições para projetar poder além-mar. Nos anos 1980, Reagan aplicou o mesmo raciocínio: para vencer a Guerra Fria, seria necessário neutralizar insurgências no quintal latino. Hoje, o paralelismo é evidente. O ciclo se aproxima de sua resolução, e Washington busca, antes de enfrentar seus rivais eurasiáticos, garantir que nenhuma fissura interna seja explorada.
A moeda é o nervo oculto desse processo. Desde 1971, o dólar perdeu o lastro em ouro e passou a depender da confiança nas instituições e da capacidade coercitiva do império americano. Mas a dívida, a inflação intermitente e os experimentos de compensação em commodities que surgem em Pequim e Moscou corroem esse arranjo. Para sustentar a ilusão fiduciária, não basta poder militar; é preciso também segurança de recursos e estabilidade em casa. O consenso monetário só se mantém se a base material não vacilar.
É aqui que se entrelaçam guerra externa e instabilidade interna. Um Fourth Turning não distingue esses âmbitos; ele os funde em uma crise total. A migração descontrolada, a infiltração de capitais ilícitos, a desordem energética — todos se tornam riscos equivalentes a uma invasão militar. A narrativa oficial, ao transformar esses problemas em questões de segurança nacional, é um modo de dissolver as fronteiras entre guerra externa e policiamento interno. É a unificação dialética de todos os perigos sob a categoria da sobrevivência.
Essa unificação, porém, não se dá sem custo. A minoria que ainda insiste em ver os cartéis apenas como criminosos comuns é engolida pela narrativa hegemônica. Aristóteles ensinava que a verdade não é decidida pela maioria, mas a política o é. O consenso narrativo transforma-se em dogma, e o espaço da dúvida filosófica se reduz. Ainda assim, a filosofia lembra que o ser resiste: a realidade não se curva indefinidamente à convenção, e cedo ou tarde impõe seus limites.
O relógio impiedoso do ciclo histórico impõe aceleração. Washington não dispõe de décadas, mas de anos. Se não pacificar a retaguarda, adversários externos explorarão cada fissura. China pode investir nos minerais da Bolívia, Rússia pode financiar dissidências, Irã pode armar grupos no Caribe. A América, para enfrentar o clímax global, precisa converter o hemisfério em fortaleza. Essa é a exigência do tempo histórico, não mero cálculo voluntário. O ciclo pressiona como necessidade.
A dialética aristotélica obriga a reconhecer que todo excesso retorna contra si mesmo. Se os EUA exagerarem na militarização, podem gerar resistência anti-imperial que unifique os povos latinos contra si. Mas se forem lenientes, deixarão abertas brechas fatais. A arte política é encontrar o meio-termo, a mesótes, que Aristóteles sempre ressaltava. Nem opressão absoluta, nem negligência suicida, mas a proporção que assegure recursos e neutralize ameaças sem acender incêndios incontroláveis.
Esse meio-termo não é estático; é uma balança que precisa ser ajustada a cada movimento dos rivais. A história mostra que a segurança hemisférica é condição de projeção global. O que parece periférico é, na verdade, central. E o que parece policial é, em essência, geopolítico. A dialética aqui não é entre crime e punição, mas entre ordem e sobrevivência. O que está em jogo é a permanência do poder americano na forma como o mundo será reorganizado após o colapso da atual ordem monetária.
Há ainda um elemento psicológico: a narrativa de segurança molda a opinião pública americana. O cidadão comum, cansado de crises migratórias e overdose de fentanil, aceita medidas cada vez mais duras. Aqui se confirma o que vimos antes: a narrativa, repetida, cria consenso, e o consenso engole as vozes dissonantes. A retórica política transforma-se em realidade social, e as medidas se legitimam pelo medo e pela esperança de proteção. É a fusão entre retórica e realidade que Aristóteles já reconhecia como força da palavra.
Mas o risco é o tempo. O Fourth Turning exige resolução; não admite prolongamentos indefinidos. Se a América não fechar suas brechas, será no clímax da crise que elas se abrirão de modo irreversível. E se os rivais conseguirem explorar esse momento, os Estados Unidos enfrentarão o perigo maior de toda sua história: a simultaneidade de crise interna e ofensiva externa. É a síntese de todos os medos em uma só tempestade.
Contudo, se Washington conseguir submeter cartéis, alinhar governos, e integrar cadeias de recursos, sairá fortalecido. Terá garantido profundidade estratégica, fluxo energético e mineral sob controle, e margem para impor a próxima ordem monetária. O adversário não encontrará brechas, e a América estará melhor posicionada para ditar termos no confronto final. A dialética então se resolverá em favor do império, ao menos por mais um ciclo.
Não devemos, porém, perder de vista a contradição essencial. Todo império se fortalece ao custo de engendrar resistências. A América que busca segurança no hemisfério também semeia ressentimentos que podem, no longo prazo, corroer sua legitimidade. Aristóteles lembraria que nenhum regime dura sem consentimento, e consentimento forçado é sempre precário. O equilíbrio entre dominação e aliança será o critério da estabilidade.
Assim, o que hoje se apresenta como operações contra drogas é, em verdade, um redesenho de soberania no continente. Não se trata de narcotráfico, mas de poder. Não se trata de crime, mas de recursos. Não se trata de fronteiras locais, mas de hegemonia global. A narrativa de segurança é o véu que recobre o movimento mais profundo: assegurar que a nova ordem, quando vier, será escrita em inglês e não em mandarim ou russo.
O filósofo, ao contemplar esse quadro, percebe a ironia: aquilo que parece casual é necessário, e aquilo que se apresenta como contingente é teleológico. A América age não porque quer, mas porque precisa. A crise exige, o ciclo impõe, e a realidade força. Assim, a liberdade aparente das nações é atravessada por necessidades históricas que se repetem. O Fourth Turning é apenas a forma moderna de enunciar esse destino.
No fim, a questão permanece em aberto: se a América logrará converter a crise em renascimento, ou se desta vez a ordem se romperá em fragmentação. A dialética ainda não chegou à sua síntese, mas o movimento é claro. O hemisfério ocidental é o campo de prova, e dele dependerá a posição americana no embate com o resto do mundo. A narrativa de segurança é apenas a máscara do drama maior: a luta pela sobrevivência de um império no momento do seu juízo.
Eis, portanto, a conclusão: a análise do Fourth Turning aplicada à América hemisférica revela que não estamos diante de operações policiais, mas de um projeto estrutural. A crise que se aproxima exige resolução, e a resolução passa por transformar a América em fortaleza antes do choque com os rivais eurasiáticos. Se conseguirem, os Estados Unidos prolongarão sua hegemonia; se falharem, o mundo entrará em uma ordem nova, escrita por outras mãos. A história, fiel a seu ritmo, não tardará em dar a resposta.

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