sábado, 16 de agosto de 2025

Notas de Sábado.

Dizem os antigos que Salomão, o sábio dos sábios, tinha em mãos um segredo dado pelos céus: um serzinho misterioso capaz de cortar pedra como se fosse manteiga. Não ferro, não martelo, não cinzel. Um bicho ou uma força, chamado Shamir, guardado com extremo cuidado porque nada podia contê-lo. Era a solução divina para um problema humano, um jeito de erguer o Templo sem manchar as pedras com o ferro da guerra. O povo acreditava e transmitia a lenda como sinal de que o mundo, às vezes, obedece a leis que a gente não consegue medir.

Pois bem, séculos depois, no outro lado do planeta, cientistas se embrenham no rio Abatan, nas Filipinas, e topam com um molusco. À primeira vista, só mais um verme desses que vivem escondidos em troncos ou buracos. Mas esse não. Esse não devorava madeira, não deixava o clássico rastro de pó e buracos de um “ver-barco”. Ele comia pedra. Roía calcário e, em vez de serragem, soltava areia fina. O impossível da lenda rabínica estava ali, vivo, expelindo grãos como se fosse um moinho biológico.

De repente, a distância entre Jerusalém e Bohol já não parecia tão grande. Aquilo que parecia só mito, contado em páginas amareladas de comentários talmúdicos, ganhava corpo numa criatura catalogada em 2019. O Shamir, afinal, podia não ser um cristal mágico, nem um poder angelical. Podia ser apenas um bicho discreto, enfiado na lama de um rio tropical, fazendo o que sempre fez: transformar rocha em grãos.

O interessante é que os dois relatos — o mítico e o científico — tocam na mesma obsessão humana: como vencer a dureza da pedra. Para Salomão, a tarefa era simbólica, erguer o Templo sem a marca do ferro. Para os pesquisadores modernos, a surpresa foi achar um organismo que desafia a nossa lógica de digestão e metabolismo. No fundo, é a mesma admiração diante do impossível: a vida, de algum jeito, driblando a rigidez do mundo mineral.

Claro que o Shamir das lendas tinha aura sagrada, envolto em lã e chumbo, guardado longe de olhares indiscretos. Já o Lithoredo é um bicho feio, sem glamour, um molusco que lembra mais um canudo esbranquiçado. Mas será mesmo que a diferença é tão grande? A função é idêntica: cortar pedra sem ferramentas, só pelo contato do corpo com a rocha. O mito e a biologia se cruzam nesse ponto.

O mais curioso é que os rabinos descrevem o Shamir como pequeno, frágil, mas de poder incontrolável. O Lithoredo também não tem cara de gigante, é minúsculo, mas altera todo o leito do rio. Os túneis que ele cava viram abrigo para outros bichos, mudam o curso da água, transformam a geografia local. É a versão ecológica daquilo que, na lenda, era o poder divino de preparar as pedras para o Templo.

A ciência ainda não sabe direito como esse molusco se alimenta de fato. Não há ceco, não há aparelho digestivo especializado para tirar energia da rocha. Talvez simbiontes, talvez filtragem da água. Mas isso não importa tanto quanto o resultado: ele come o que não deveria ser comido, e transforma o que não deveria ser transformado. É exatamente o que os textos antigos diziam: um ser fora das regras comuns.

Se a gente olha com olhos modernos, dá pra rir da ideia de que Salomão mandava demônios buscarem o Shamir. Mas é engraçado notar que, no fim, as duas histórias falam da mesma coisa: o homem espantado diante da capacidade da natureza de quebrar as próprias barreiras. O que para um rabino do século II era milagre, para um zoólogo do século XXI é comportamento adaptativo. Só mudou o vocabulário.

O paralelo vai além. O Shamir foi descrito como perigoso de se manusear, porque sua energia podia escapar e destruir. O Lithoredo, se olhado com calma, também carrega essa ambiguidade: ele remodela rios inteiros, altera ecossistemas, muda fluxos de água. Não é só um verme inofensivo. É um agente de transformação geológica em escala real.

Isso mostra como mito e ciência não estão em espectros tão opostos como muita gente pensa. Ambos olham para o mesmo fenômeno: a surpresa diante de um ser capaz de cortar pedra. Um lado chama isso de dom divino, o outro chama de adaptação evolutiva. Mas no fundo estão descrevendo a mesma maravilha.

Imagine agora Salomão segurando um desses moluscos filipinos dentro de uma caixinha de chumbo. Para ele, seria sinal de que Deus lhe deu a ferramenta para erguer a Casa Santa. Para nós, seria mais um espécime raro a ser fotografado e enviado para um artigo científico. Mas em ambos os casos, a aura de excepcionalidade estaria presente.

A prova disso é que a lenda sobreviveu por séculos. O Shamir não foi esquecido porque toca numa verdade arquetípica: o desejo humano de dominar o inquebrável. Quando a biologia aparece com um exemplo real, o fascínio se renova, só que agora com microscópios em vez de pergaminhos.

E veja, até o detalhe da areia se conecta. Os textos rabínicos diziam que o Shamir não deixava marcas de ferro, só o corte limpo da pedra. O Lithoredo também não deixa arranhão de ferramenta, só um rastro de areia fina, como se fosse a assinatura discreta de um trabalho invisível.

É nesse sentido que dá pra dizer, sem medo, que o ser mítico e a espécie descoberta são um só espectro de realidade. O Shamir é a forma simbólica, carregada de teologia e mística. O Lithoredo é a forma empírica, registrada em laboratório e publicada em revista científica. Um complementa o outro, como duas camadas de leitura da mesma coisa.

Alguns vão argumentar que o mito não precisa de prova, que é só metáfora. Outros dirão que a ciência não deve se confundir com histórias antigas. Mas a beleza está justamente no meio: quando a gente percebe que os dois relatos estão falando da mesma experiência humana, a de encontrar o extraordinário no ordinário.

Quem garante que os antigos não viram de fato algum bicho assim, perdido em outro rio, em outra época, e transformaram a experiência em lenda? Não seria a primeira vez que a tradição oral guarda memória de um fenômeno natural real. A diferença é que, sem microscópio, só restava a linguagem do sagrado.

E hoje, com toda a técnica, ainda reagimos do mesmo jeito: com espanto. O nome mudou, mas a sensação é a mesma. O Shamir e o Lithoredo são a prova de que a linha entre mito e ciência é muito mais porosa do que se gosta de imaginar.

No final, tanto faz se você chama de poder divino ou de molusco bivalve. O que importa é que existe um ser que desafia a regra, corta pedra e a transforma em areia. Para os antigos, um sinal de Deus. Para nós, uma anomalia biológica. No fundo, é a mesma história recontada.

E assim, entre o rio Abatan e o Templo de Jerusalém, a lenda e a zoologia se encontram. O Shamir não desapareceu, apenas ganhou outro nome: Lithoredo abatanica. O mito continua vivo, respirando pelas guelras de um molusco que ainda hoje cava a rocha e nos lembra que nada é tão sólido quanto parece.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Notas de Terça Feira.

Desde o início do ciclo petista, uma das coisas mais escandalosamente visíveis, mas curiosamente menos discutidas, foi a docilidade bovina dos empresários diante da escalada autoritária do partido. Quando se analisa à luz do que Götz Aly expõe em “Hitler’s Beneficiaries”, percebe-se que não há novidade alguma: o empresário medroso ou ganancioso sempre encontra uma justificativa moral para se alinhar ao poder centralizador, especialmente quando o Estado lhe oferece um banquete de contratos, isenções seletivas e blindagem contra concorrência indesejada. No Brasil, isso se traduziu no conluio descarado entre construtoras, bancos e estatais — com a Lava Jato apenas arranhando a superfície do arranjo.

David C. Kang, em “Crony Capitalism”, deixa claro que regimes com pretensões totalitárias criam uma relação de dependência corrupta com o empresariado. O PT fez exatamente isso, mas com um tempero tropical: não se limitou a criar vantagens fiscais e contratos viciados, também inseriu a “culpa social” como moeda de troca. Empresário que quisesse sobreviver precisava aderir ao discurso progressista e fingir que era parceiro na luta contra a “desigualdade”, enquanto embolsava rios de dinheiro em obras superfaturadas, financiamentos subsidiados e proteções de mercado.

No diagnóstico de Ruth Ben-Ghiat, em “Fascist Modernities”, Mussolini não só comprou empresários, mas também lhes vendeu a imagem de que estavam participando de um projeto civilizatório. O PT foi mais longe: vendeu ao empresariado a narrativa de que estavam ajudando a construir a “nação soberana” contra o “imperialismo”, quando, na prática, o projeto era entregar a soberania a um bloco ideológico externo, seja via Foro de São Paulo, seja via alinhamento geopolítico com regimes cleptocráticos. Os empresários brasileiros, ao invés de se insurgirem, entraram com patrocínio, marketing e até lobby internacional para dar verniz ao projeto.

O caso estudado por Moran e Murphy em “Merchants of Fear” é exemplar: regimes autoritários criam um clima de ameaça para vender segurança. O PT criou o seu teatro de ameaça constante — o “neoliberalismo golpista”, “a mídia golpista”, “o imperialismo americano” — e, com isso, vendia ao empresariado a ideia de que só a continuidade petista poderia evitar o caos. Empresário com medo de instabilidade compra estabilidade, mesmo que essa “estabilidade” seja um verniz de controle estatal sufocante.

David Korten, em “When Corporations Rule the World”, descreve o pacto imoral entre corporações e governos fortes: um oferece proteção política, o outro oferece blindagem econômica. O Brasil petista foi um laboratório disso. Bancos privados, que supostamente seriam alvos naturais de um governo socialista, viveram seu paraíso durante o ciclo lulista. Recordes de lucro, blindagem regulatória, operações de crédito subsidiadas pelo BNDES, e, em troca, silêncio absoluto sobre corrupção e aparelhamento.

Essa simbiose foi se reforçando ano a ano. A retórica de enfrentamento do “mercado” era apenas para enganar a massa militante; nos bastidores, o mercado recebia privilégios para fechar a boca. E, como ensina Aly, quando o empresário já está se beneficiando do regime, ele não só perde o ímpeto de resistir como começa a ver qualquer crítica como ameaça aos próprios lucros. A corrupção deixa de ser um escândalo moral e passa a ser um custo operacional aceitável.

A coaptação do empresariado também envolveu uma engenharia psicológica. O PT entendeu que o medo de perder mercado era tão eficaz quanto suborno direto. Muitos empresários não receberam favores explícitos, mas foram levados a crer que, se não se alinhem ao discurso oficial, perderiam acesso a licitações, financiamentos e até à boa vontade da Receita Federal. Esse tipo de chantagem implícita é o que Kang documenta como uma das engrenagens centrais do capitalismo de compadrio.

O ambiente criado foi o de uma corte palaciana, com empresários atuando como súditos que disputam a atenção do príncipe. As reuniões com Lula ou Dilma se tornaram rituais quase religiosos, nos quais o empresário não ia para negociar, mas para demonstrar lealdade. Como no fascismo italiano, a liturgia do poder servia para reforçar a hierarquia: o líder fala, o empresário acena.

Enquanto isso, a propaganda oficial cuidava de manter a imagem de que o empresariado estava “resistindo” ou “dialogando” com o governo. Na prática, estavam todos enfileirados para receber a sua parte do butim. O caso das grandes empreiteiras é só a ponta do iceberg; a infiltração alcançou associações de classe, federações de indústria e até universidades corporativas, todas repetindo mantras ideológicos para manter o passe livre nos corredores de Brasília.

Essa complacência teve um preço alto. Ao aceitar a coleira petista, o empresariado ajudou a criar um Estado mais aparelhado, menos transparente e muito mais hostil à competição. O jogo passou a ser fechado: só ganha quem está dentro do círculo. E, como Korten explica, quando o jogo é fechado, a inovação morre, o mercado se cristaliza e a sociedade inteira paga a conta.

O mais trágico é que essa submissão não foi apenas por medo. Muitos empresários acreditaram sinceramente no projeto. A ideia de “Brasil Potência” vendida pelo PT mexeu com o ego de quem sempre quis ver o país no centro do tabuleiro global. O problema é que o preço dessa ambição era vender a alma para um regime que não tinha qualquer intenção de largar o osso.

A partir de 2008, com a crise internacional, o pacto se aprofundou. O governo se apresentou como único capaz de proteger o país da “crise do capitalismo selvagem”. Empresários, em vez de defender liberdade econômica, correram para pedir mais Estado, mais crédito subsidiado, mais proteção. E o PT entregou — desde que o beneficiado jurasse fidelidade.

A corrupção deixou de ser um subproduto e passou a ser o mecanismo principal de governança. Aly mostra que no nazismo, empresas não apenas toleravam a corrupção, mas a incorporavam ao seu modelo de negócio. No Brasil petista, isso virou manual de sobrevivência: a propina era só mais uma linha na planilha de custos, um investimento com retorno garantido.

O BNDES foi a peça-chave dessa engrenagem. Disfarçado de banco de desenvolvimento, operou como caixa de campanha disfarçado, irrigando empresas “amigas” com bilhões a juros subsidiados. Em troca, essas empresas não apenas se calavam, mas também defendiam publicamente o governo, legitimando o discurso de que o PT era “pró-empresa” e “pró-mercado”.

O resultado foi um empresariado domesticado, incapaz de reagir mesmo diante de ataques evidentes à liberdade. Quando a Lava Jato começou a expor o esquema, a reação empresarial foi, em grande parte, de pânico não pelo estado da democracia, mas pela ameaça ao fluxo de caixa.

A lição que se tira das cinco obras é cristalina: o empresariado que se vende ao poder acaba servindo de combustível para a máquina autoritária. E no Brasil, o caso petista mostrou que não é preciso coerção explícita para conseguir essa submissão — basta oferecer lucro fácil e proteção seletiva.

Enquanto Mussolini usava o nacionalismo e Hitler usava o expansionismo, o PT usou a retórica da justiça social como instrumento de controle. A massa aplaudia a “luta contra os ricos” enquanto os ricos escolhidos eram abraçados pelo Estado.

A “estabilidade” oferecida ao empresariado brasileiro foi uma fraude: consistia em garantir que, desde que se mantivessem dóceis, poderiam continuar lucrando, mesmo que isso significasse pisar no pescoço da concorrência ou fechar os olhos para o desmonte institucional.

O paralelo com “Merchants of Fear” é inevitável: um regime cria o medo, vende a solução e, no processo, prende seus aliados numa rede de favores que os impede de pular fora.

E como no modelo de Kang, o compadrio se torna vício. Empresários que antes defendiam liberdade de mercado passam a ver no protecionismo e na barganha estatal a sua zona de conforto. Isso mata qualquer possibilidade de reação a longo prazo, porque o setor privado perde musculatura moral e intelectual para enfrentar o Estado.

Essa é a marca que o ciclo petista deixou: um empresariado que já não sabe operar sem muleta estatal, que confunde privilégio com direito e que chama de “parceria estratégica” o que é, na essência, servidão voluntária.

O perigo disso é que o efeito residual persiste. Mesmo com o PT fora do Planalto, a mentalidade de pedir ao governo o que deveria conquistar no mercado permanece. E isso significa que, se o partido voltar, encontrará um terreno ainda mais fértil para retomar o controle.

As obras citadas deixam claro que essa dinâmica não é acidente, é método. O PT não inventou o alinhamento servil do empresariado ao poder — apenas adaptou à nossa cultura de compadrio, culpa social e jeitinho.

A única diferença é que, enquanto na Alemanha nazista ou na Itália fascista a justificativa era a glória nacional, aqui a desculpa foi a “inclusão social” e a “defesa dos pobres”. O resultado, porém, é o mesmo: empresários como cúmplices e, muitas vezes, beneficiários diretos da destruição institucional.

Se essa lição não for entendida, repetiremos o ciclo indefinidamente. E a história ensina, como mostram Aly, Kang, Ben-Ghiat, Moran e Korten, que regimes autoritários nunca precisam quebrar o empresariado à força — basta comprá-lo, e o resto se resolve sozinho.

Desde o início do ciclo petista, a docilidade bovina dos empresários brasileiros diante da escalada autoritária não foi apenas um fenômeno cultural, mas um projeto meticulosamente executado. Götz Aly, em “Hitler’s Beneficiaries”, mostra como empresários alemães encontraram justificativas morais para a submissão, desde que estivessem sendo agraciados com contratos e benefícios. No Brasil, essa história se repetiu com construtoras como Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS, todas engordadas com contratos da Petrobras e de obras bilionárias no PAC, devidamente superfaturadas, enquanto fingiam neutralidade política.

David C. Kang, em “Crony Capitalism”, descreve o mecanismo de dependência entre poder e capital, e o PT aplicou essa fórmula com precisão cirúrgica. Empresários como Marcelo Odebrecht não eram apenas beneficiários do sistema, mas engrenagens dele, atuando como arrecadadores e emissores de propina para manter o ciclo girando. No agronegócio, lideranças como as da JBS/Friboi — controlada pelos irmãos Batista — receberam do BNDES injeções bilionárias a juros subsidiados, que depois retornavam em forma de patrocínio político e silêncio estratégico.

Ruth Ben-Ghiat, em “Fascist Modernities”, mostra como Mussolini vendia aos empresários italianos a ideia de um projeto civilizatório. O PT fez o mesmo, mas com a retórica da “inclusão social” e “soberania nacional”. Empresários como Eike Batista, que se dizia o “homem mais rico do Brasil”, compraram o sonho de que estavam ajudando a construir um Brasil potência, enquanto dependiam totalmente de crédito e favores estatais. Quando a maré virou, o castelo de areia ruiu em semanas.

Moran e Murphy, em “Merchants of Fear”, explicam como regimes autoritários exploram o medo para vender estabilidade. Lula e Dilma cultivaram o fantasma do “mercado golpista” e da “mídia golpista” para enquadrar empresários. O caso da Fiesp é emblemático: Paulo Skaf posava como defensor do empresariado, mas, durante a maior parte do lulismo, manteve uma postura conivente, evitando ataques frontais, negociando por baixo dos panos e garantindo benefícios seletivos para os setores mais próximos do poder.

David Korten, em “When Corporations Rule the World”, fala da simbiose entre corporações e Estados fortes. Os bancos privados brasileiros são um caso escandaloso: Itaú, Bradesco e Santander bateram recordes de lucro durante o governo Lula, mesmo enquanto o discurso oficial era de enfrentamento ao capital financeiro. Em troca, aceitaram regulamentações inócuas e patrocinaram iniciativas culturais alinhadas à pauta progressista, reforçando a imagem do governo como “moderno” e “socialmente responsável”.

O BNDES foi a artilharia pesada dessa guerra de cooptação. Sob Luciano Coutinho, a instituição despejou mais de R$ 400 bilhões em empresas “amigas”, com operações sigilosas e juros camaradas. JBS, Odebrecht, Marfrig, Oi e tantas outras cresceram não pela competitividade, mas por estarem na lista de beneficiários do compadrio. Quem estava fora do círculo não competia; apenas sobrevivia.

No setor de mídia, a lógica foi semelhante. Grupos como Globo, Folha e Estadão criticavam o PT em editoriais, mas continuavam recebendo generosos aportes de publicidade estatal e patrocínios indiretos de estatais e bancos públicos. As empresas que ousaram romper o alinhamento — como a Veja na fase inicial da Lava Jato — foram alvos de campanhas coordenadas de desmoralização.

A engenharia psicológica foi essencial. Muitos empresários não precisaram de favores diretos: bastava o temor de retaliação. A Receita Federal e o Ministério Público do Trabalho foram usados como ferramentas de pressão seletiva. Empresário que se manifestasse contra o governo arriscava-se a receber uma fiscalização surpresa ou ver contratos rescindidos. Essa tática está documentada em diversos depoimentos sigilosos, mas raramente foi explorada na imprensa.

Como no modelo de Kang, o compadrio virou vício. Empresários que antes defendiam abertura de mercado e concorrência passaram a se sentir confortáveis em um ecossistema de proteção estatal. Isso matou a capacidade de reação: quando o impeachment de Dilma se tornou inevitável, a maior parte do empresariado permaneceu calada até o último minuto, preocupada apenas em salvar contratos e evitar exposição.

A Lava Jato revelou que, assim como no nazismo descrito por Aly, a corrupção era parte do modelo de negócios. Empresas como a UTC Engenharia e a Engevix não apenas aceitavam o esquema, mas competiam pela “oportunidade” de pagar propina e garantir contratos. A lógica era simples: propina era investimento.

A cooptação também se manifestou em entidades de classe. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) mantiveram um discurso dúbio, criticando pontualmente excessos, mas jamais enfrentando o núcleo do projeto petista. Essa ambiguidade é típica de sistemas autoritários: as entidades representam mais os interesses do governo junto aos empresários do que o contrário.

Os bancos estatais foram outro braço do alinhamento. Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil não atuaram apenas como instrumentos de política pública, mas como canais de financiamento político. A publicidade milionária desses bancos manteve redações inteiras anestesiadas, evitando investigações profundas sobre o aparelhamento.

A relação com o agronegócio também foi ambígua. Enquanto setores independentes reclamavam da intervenção estatal, gigantes como Amaggi — ligada à família do senador Blairo Maggi — surfavam contratos de exportação e financiamentos públicos, evitando qualquer confronto aberto com o Planalto.

Como no fascismo italiano documentado por Ben-Ghiat, havia um verniz ideológico: o empresário “bom” era aquele que se via como parceiro do Estado na missão de modernizar o país. E o PT soube manipular esse ego, oferecendo a fantasia de que os empresários estavam participando de um projeto histórico.

Quando a crise de 2014-2016 chegou, a dependência ficou evidente. Empresas que haviam crescido artificialmente com crédito estatal começaram a ruir: Oi entrou em recuperação judicial, Eike Batista despencou do topo ao buraco, e a OAS implodiu junto com a Odebrecht. O castelo erguido pelo compadrio não resistiu à retirada da muleta.

Mesmo assim, o efeito residual persiste. Muitos empresários, acostumados a pedir favores ao governo, ainda tratam o Estado como sócio, e não como regulador. Isso significa que, caso o PT volte ao poder com a mesma estratégia, encontrará um terreno ainda mais fértil para retomar o controle.

O grande problema, como mostram as obras citadas, é que essa submissão não exige coerção explícita. É um pacto voluntário, alimentado por medo, lucro e vaidade. O PT, assim como outros regimes autoritários estudados por Aly, Kang, Ben-Ghiat, Moran e Korten, compreendeu que não é preciso quebrar o empresariado à força — basta comprá-lo e oferecer a ilusão de participação no poder.

A diferença é que, enquanto na Alemanha nazista e na Itália fascista a justificativa era a glória nacional, no Brasil petista a desculpa foi a “justiça social” e a “defesa dos pobres”. O resultado foi o mesmo: empresários cúmplices, sociedade refém e um Estado aparelhado até a medula.

Bibliografia:

1. Aly, Götz. Hitler’s Beneficiaries: Plunder, Racial War, and the Nazi Welfare State. New York: Metropolitan Books, 2007.

2. Kang, David C. Crony Capitalism: Corruption and Development in South Korea and the Philippines. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

3. Ben-Ghiat, Ruth. Fascist Modernities: Italy, 1922–1945. Berkeley: University of California Press, 2001.

4. Moran, Christopher R.; Murphy, Christopher J. Merchants of Fear: The Business of National Security. London: Pluto Press, 2019.

5. Korten, David C. When Corporations Rule the World. 2nd ed. San Francisco: Berrett-Koehler Publishers, 2001.

Bibliografia expandida:

Obras teóricas e históricas

1. Aly, Götz. Hitler’s Beneficiaries: Plunder, Racial War, and the Nazi Welfare State. New York: Metropolitan Books, 2007.

2. Kang, David C. Crony Capitalism: Corruption and Development in South Korea and the Philippines. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

3. Ben-Ghiat, Ruth. Fascist Modernities: Italy, 1922–1945. Berkeley: University of California Press, 2001.

4. Moran, Christopher R.; Murphy, Christopher J. Merchants of Fear: The Business of National Security. London: Pluto Press, 2019.

5. Korten, David C. When Corporations Rule the World. 2nd ed. San Francisco: Berrett-Koehler Publishers, 2001.

Fontes nacionais e documentais
6. Ministério Público Federal. Força-Tarefa Lava Jato – Denúncias e Sentenças. Curitiba: MPF, 2014-2021. Disponível em: http://www.mpf.mp.br
7. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Transparência – Consulta a operações diretas e indiretas. Rio de Janeiro: BNDES, 2010-2022. Disponível em: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/consulta-operacoes
8. Tribunal de Contas da União (TCU). Relatórios de Auditoria sobre Operações do BNDES com Grandes Empresas. Brasília: TCU, 2015.
9. Polícia Federal. Inquéritos da Operação Lava Jato – Relatórios de Inteligência. Brasília: PF, 2014-2018.
10. JBS S.A. Fatos Relevantes e Comunicados ao Mercado – CVM. São Paulo: JBS, 2008-2017.
11. Controladoria-Geral da União (CGU). Relatório sobre Contratos da Petrobras e Obras do PAC. Brasília: CGU, 2016.
12. Folha de S.Paulo. “BNDES emprestou R$ 8,1 bilhões para JBS durante gestão petista.” Folha de S.Paulo, 10 out. 2017.
13. O Estado de S. Paulo. “Lucro dos bancos bate recorde na era Lula e Dilma.” Estadão, 15 mar. 2015.
14. Revista Veja. Dossiê Odebrecht – Planilhas e Anexos da Colaboração Premiada. São Paulo: Veja, 2016.
15. Portal da Transparência do Governo Federal. Gastos com Publicidade e Patrocínio – 2003 a 2016. Brasília: CGU, 2017.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Notas de Segunda.

Desde a redemocratização, lá no final dos anos 80, o Brasil entrou numa fase em que todo o ambiente cultural foi sendo “lavado” e reprogramado para alinhar o que a população pensa com uma cartilha progressista importada, mas adaptada ao nosso jeitinho. E quando digo “lavado” não estou falando de algo simples como mudar o discurso de um jornal ou trocar os livros escolares. É algo mais profundo, no sentido que Olavo de Carvalho descreve em A Nova Era e a Revolução Cultural: uma operação de longo prazo, planejada para mudar mentalidade, valores e até mesmo aquilo que a gente considera “normal” sem que a pessoa perceba que foi condicionada.

Flávio Gordon, no Ministério da Verdade, pega essa linha e mostra que a principal ferramenta para essa transformação não é o debate aberto, mas o controle do fluxo de informação e a criação de um consenso artificial. Ele fala de jornalistas, professores e artistas agindo como guardiões do que pode ou não pode ser dito. É por isso que certas piadas que eram comuns nos anos 90 hoje são tratadas como crime moral. E isso não é coincidência, é método.

Lobaczewski, com sua Ponerologia Política, entra num nível ainda mais inquietante. Ele não fala só de ideias ou cultura, mas de quem está por trás: gente com distorções psicológicas profundas, mas com habilidade para manipular emoções e linguagens a ponto de transformar a sociedade inteira em um organismo doente. Segundo ele, quando essas figuras chegam ao topo, criam sistemas fechados onde só se sobe na hierarquia se repetir o credo oficial. Isso no Brasil virou quase um rito de passagem em redações, universidades e até em empresas privadas.

O Olavo mostrava que essa “revolução cultural” não se apresenta como revolução no sentido clássico, com bandeira na rua e barricada. Ela vem como atualização, modernização, inclusão, tolerância. Tudo palavras bonitas, mas que carregam um conjunto de ideias que, na prática, esvaziam referências antigas e plantam novas. O Flávio Gordon chama isso de “semântica invertida”: você pega uma palavra que todo mundo acha boa e dá pra ela um significado novo. “Diversidade” hoje não é diversidade de pensamento, é diversidade dentro de um único espectro ideológico.

No dia a dia, isso aparece quando você vê alguém no trabalho com medo de falar que é contra determinada pauta por receio de ser taxado de preconceituoso. Ou quando um aluno evita questionar um professor porque sabe que a nota dele pode depender de um alinhamento ideológico disfarçado de avaliação acadêmica. Lobaczewski explicaria isso como a instalação de “critérios de lealdade” à patocracia, onde a obediência ao dogma é mais importante que a competência.

Um exemplo claro: a mudança nos livros escolares. Antes, você tinha uma abordagem mais factual, datas, eventos, cronologia. Hoje, o que impera é a narrativa. Não importa tanto o que aconteceu, mas qual a interpretação ideologicamente adequada daquele evento. Gordon detalha como as editoras, muitas vezes financiadas por ONGs e fundações internacionais, passaram a priorizar conteúdos alinhados a essa agenda, e o Olavo já alertava que isso formaria uma geração incapaz de pensar fora do molde.

No campo cultural, a coisa é ainda mais evidente. Filmes, novelas e músicas, que antes refletiam valores populares, agora funcionam como vitrines de comportamentos-modelo. Lobaczewski diria que isso não é só arte, é engenharia psicológica aplicada. Gordon acrescentaria que, com as redes sociais, essa engenharia se tornou interativa: o público não só consome, mas também vigia e pune os que desviam da norma.

E aí chegamos no fenômeno mais perigoso: a auto-censura. O Olavo falava muito disso. Quando a pessoa, mesmo sem ameaça direta, já molda o que diz e pensa para não entrar em conflito com a narrativa dominante, a revolução cultural já cumpriu seu objetivo. Não é preciso polícia de pensamento se a própria vítima já carrega o fiscal na cabeça.

Isso se mistura com a visão de Lobaczewski sobre como sociedades ponerizadas normalizam o absurdo. O que antes era escândalo passa a ser rotina, e o que antes era normal passa a ser visto como escândalo. Quem viveu os anos 80 e 90 sabe que certas opiniões eram comuns na mesa do bar, no almoço de família, e hoje essas mesmas opiniões podem te custar emprego e reputação.

Flávio Gordon mostra como a mídia é usada para criar esse deslocamento. Um caso polêmico é tratado não com investigação equilibrada, mas com um enquadramento moral imediato: quem discorda já é “do mal” antes mesmo de ser ouvido. A consequência disso no cotidiano é que debates legítimos viram linchamentos.

O resultado desse cruzamento Olavo–Gordon–Lobaczewski é um cenário em que a cultura, que deveria ser um campo de expressão livre, vira ferramenta de controle social. No Brasil, isso ficou ainda mais intenso porque a redemocratização abriu espaço para que movimentos progressistas ocupassem áreas estratégicas antes mesmo de terem maioria política formal. Ou seja, ganharam o campo cultural antes do campo eleitoral.

Se você reparar, nas últimas décadas, mesmo quando a direita ou o centro-direita ganharam eleições, as políticas culturais, educacionais e de mídia permaneceram praticamente as mesmas. Isso é exatamente o que o Olavo dizia: quando a revolução cultural é bem-sucedida, a troca de governo não muda o regime cultural.

E não pense que isso é só teoria. Quem tem filhos na escola vê. Os trabalhos, as redações, as leituras obrigatórias já vêm filtradas. Gordon lembra que isso não é acidental, mas parte de um alinhamento internacional que conecta fundações estrangeiras, organismos multilaterais e grupos internos interessados em manter essa hegemonia.

Lobaczewski diria que, para quebrar esse ciclo, seria preciso expor a psicologia de quem mantém esse sistema, porque enquanto o público enxergar essas figuras como “líderes inspiradores” e não como operadores de um mecanismo patológico, a coisa só se aprofunda.

O Olavo, por sua vez, insistiria que a única forma de resistência é cultural antes de política. Não adianta querer mudar leis se a mentalidade do povo já foi moldada para rejeitar qualquer proposta fora do script.

Gordon completaria dizendo que essa resistência cultural exige também a criação de meios de comunicação paralelos, que não dependam do aval do establishment para existir. Caso contrário, todo esforço é capturado e neutralizado.

Enquanto isso, o cotidiano segue mostrando que a “lavagem” não é um evento, mas um processo contínuo. Uma piada que era aceitável ontem pode ser crime amanhã. Um livro que era leitura obrigatória pode ser banido. E tudo isso sempre com justificativa moral bonita, para que a resistência pareça maldade.

No final das contas, cruzando os três autores, a conclusão é clara: o Brasil pós-1989 não vive só uma disputa política, mas um regime cultural enraizado, no qual a mudança de mentalidade foi planejada, conduzida e consolidada com tanta eficiência que a maioria das pessoas nem percebeu que já pensa e fala dentro dos limites impostos.

E a prova disso está na reação das pessoas quando alguém ousa sair do script. Elas mesmas, sem ordem de ninguém, se mobilizam para atacar, punir e isolar o “desalinhado”. Esse é o estágio final da revolução cultural que Olavo, Gordon e Lobaczewski descreveram de ângulos diferentes, mas que no Brasil virou o ar que se respira sem que a gente note.

Depois que você entende o que Flávio Gordon chamou de A Corrupção da Inteligência, fica difícil olhar para a nossa elite intelectual e achar que ela está apenas equivocada. Ele mostra que boa parte dos intelectuais brasileiros não são apenas vítimas de más ideias, mas cúmplices conscientes de um projeto que usa a autoridade acadêmica para legitimar mudanças culturais que o povo nunca pediu. É como se o sujeito vestisse um jaleco de cientista social e, de dentro da sala de aula ou de um artigo de jornal, dissesse: “isso aqui é verdade porque eu estou dizendo que é”.

Plinio Corrêa de Oliveira, lá atrás, em Revolução Cultural e Contrarrevolução, já tinha descrito esse método de forma quase profética. Para ele, a transformação social não acontece de uma vez, mas em ondas. A cada fase, certos valores são corroídos, substituídos por outros, e quando o público se acostuma, a próxima fase já está pronta para ser implantada. A fase que vivemos desde 1989 é só um estágio avançado de um processo que começou bem antes, mas que a redemocratização acelerou, porque abriu espaço para o progressismo ocupar sem resistência as áreas culturais, educacionais e midiáticas.

Jessé Souza, com A Elite do Atraso, embora seja um autor alinhado à esquerda, é um prato cheio para entender a retórica progressista por dentro. O livro é vendido como uma denúncia contra as elites econômicas conservadoras, mas o que ele faz, na prática, é reforçar o mesmo esquema narrativo que Gordon denuncia: dividir a sociedade entre o “bem esclarecido” e o “mal ignorante”. É a cartilha clássica da revolução cultural — criar um inimigo interno para justificar a engenharia social.

Gordon mostra que a corrupção da inteligência não é só um fenômeno moral, mas também institucional. Universidades, sindicatos, ONGs e até órgãos do Estado funcionam como repetidores de um mesmo discurso, sempre com a roupagem de neutralidade científica. Plinio explicaria isso dizendo que é o “processo revolucionário” se entranhando nas estruturas para que, mesmo que haja mudança de governo, a engrenagem continue girando no mesmo sentido.

No dia a dia, essa engrenagem aparece quando você vê uma reportagem sobre “educação inclusiva” que, na prática, não ensina nada além de militância. Ou quando o noticiário dá mais espaço para pautas identitárias do que para discutir economia de forma séria. Gordon chamaria isso de corrupção deliberada da pauta pública; Plinio diria que é uma etapa planejada para deslocar o centro moral da sociedade; e Jessé, ironicamente, serviria de exemplo vivo ao escrever contra uma elite enquanto serve fielmente a outra.

O mais curioso é que Plinio não via a revolução cultural como um fenômeno isolado do Brasil, mas como parte de um movimento internacional que aqui encontrou terreno fértil. A partir de 1989, com a narrativa da “abertura” e da “liberdade reconquistada”, o que veio foi um bombardeio de novos padrões culturais embalados como modernidade. A elite acadêmica, segundo Gordon, foi a primeira a se render a essa lógica, não por ingenuidade, mas por interesse.

Jessé Souza entra no jogo como uma espécie de intelectual de vitrine: ataca o “patrimonialismo” e os “ricos exploradores” enquanto legitima o domínio de uma elite cultural que pensa igual a ele. É o típico “rebelde oficializado” — parece contestador, mas opera dentro dos limites impostos pelo mesmo sistema que diz combater. Isso é perfeito para manter o controle, porque dá ao público a sensação de pluralidade, quando, na prática, todos os lados do debate estão dentro do mesmo guarda-chuva ideológico.

Plinio alertava que essa fase de aparente pluralidade é a mais perigosa, porque o povo acredita que está escolhendo, quando na verdade está só trocando de embalagem. Gordon complementa dizendo que, nesse cenário, o papel da imprensa é criar um teatro de divergências para distrair o público enquanto os fundamentos culturais são reescritos.

Você vê isso nas discussões sobre educação sexual nas escolas, por exemplo. O debate público se foca em detalhes, enquanto a base ideológica que sustenta a pauta — a visão progressista de família e sexualidade — nunca é questionada no espaço oficial. É o que Plinio chamaria de “avanço mascarado”: você discute a velocidade, mas não a direção.

A “corrupção da inteligência” também se vê no jeito como acadêmicos brasileiros importam teorias estrangeiras sem o menor filtro crítico. Basta que algo esteja na moda nas universidades dos EUA ou da Europa para virar dogma aqui. Gordon denuncia isso como servilismo intelectual, e Jessé Souza, em vez de romper com essa lógica, reforça ao usar conceitos prontos para justificar suas teses, como se a realidade brasileira fosse um simples espelho da europeia.

No campo religioso, Plinio via a mesma estratégia sendo aplicada: infiltrar ideias contrárias à doutrina sob o pretexto de atualização e diálogo. Depois de 1989, isso só se intensificou, com figuras da própria Igreja adotando a linguagem progressista. É a revolução cultural entrando até nos espaços onde a resistência deveria ser natural.

Gordon diria que essa infiltração funciona porque a elite intelectual treinada para pensar em termos progressistas se vê como “mediadora da modernidade”. No cotidiano, isso significa que o professor que leciona história ou filosofia muitas vezes está mais preocupado em “formar cidadãos conscientes” (no sentido ideológico) do que em transmitir conhecimento objetivo.

O curioso é que Plinio e Gordon, vindos de contextos tão diferentes, concordariam num ponto central: a luta principal não é política, é cultural. A política é só a superfície visível de um embate muito mais profundo, que decide quais valores serão aceitos e quais serão expulsos da vida pública. Jessé, ainda que de forma não intencional, prova isso ao se dedicar tanto a moldar narrativas quanto a analisar fatos.

Isso explica por que, mesmo com alternância de poder, certas pautas nunca saem de cena. Plinio chamaria isso de irreversibilidade de etapas; Gordon de captura da inteligência; e Jessé, sem perceber, ajuda a consolidar o processo ao fingir que está combatendo os “donos do poder” enquanto defende a mesma matriz cultural que eles.

No dia a dia, essa captura é visível quando uma novela, uma série ou um influencer lança um discurso que se torna instantaneamente regra de conduta social. Ninguém votou nisso, mas todo mundo se sente obrigado a seguir, sob pena de ser cancelado. Gordon mostra que essa é a nova censura: não precisa mais de um Estado opressor, basta uma elite cultural com poder de moldar a opinião pública.

Plinio alertava que, quando a revolução chega a esse estágio, qualquer reação é tratada como retrógrada ou imoral. O adversário não é só derrotado, ele é desmoralizado. Isso garante que o público tenha medo até de se associar com quem pensa diferente.

E assim, a revolução cultural pós-1989 no Brasil não é só um capítulo isolado, mas a continuação de uma longa obra que começou antes, ganhou forma com a abertura política e hoje se mantém pela ação coordenada da elite intelectual corrupta, da engrenagem internacional que Plinio descreveu e dos falsos rebeldes como Jessé, que dão verniz acadêmico à cartilha.

No fim das contas, o que essas três obras mostram é que a maior mentira que contaram ao brasileiro é que ele está num debate aberto. Na prática, o script já foi escrito, e todo mundo que entra na arena cultural ou política só tem duas opções: seguir o texto ou ser cortado da peça.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Notas de Segunda - Antônio Freixo

Índice

Artigo 1 – A Montanha Russa do Careca: de Xerife da República a Persona Non Grata Internacional
Um retrato cru da escalada de Moraes, desde o auge de seu poder interno até a queda de prestígio no cenário externo com as sanções americanas, expondo o funcionamento do establishment brasileiro e a cegueira coletiva em fechar fileiras em torno de uma figura já marcada como tóxica no jogo global.

Artigo 2 – Bolsonaro, o Prisioneiro Livre: como a prisão domiciliar devolveu fôlego político e rachou o tabuleiro
Análise do “efeito mártir” e do “boomerang político” que transformaram a prisão de Bolsonaro numa bomba de energia para sua base e num constrangimento extra para o STF, que acabou colando sua imagem à de Moraes no momento mais desfavorável possível.

Artigo 3 – Tagliaferro e o Estouro da Boiada: o que acontece quando o ex-chefe abre a caixa de Pandora
Exame detalhado da bomba-relógio Tagliaferro, o impacto real e potencial de suas revelações, e uma costura das previsões possíveis — desde um abalo cirúrgico no STF até a implosão de alianças. Fechamento com um gancho aberto para a próxima rodada de análises, conforme novos movimentos surgirem.




Artigo 1 – A Montanha Russa do Careca: de Xerife da República a Persona Non Grata Internacional

Alexandre de Moraes, que durante anos se pavoneou como o xerife supremo do Brasil, agora virou alvo de uma humilhação diplomática que nem o mais paranoico roteirista de série política ousaria inventar. O homem que controlava a pauta do STF, ditava o que se podia falar ou escrever nas redes e decidia, como um imperador romano, quem viveria politicamente e quem seria jogado aos leões, de repente acordou com o nome estampado no Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Sanção não é elogio, é marca de gado: você foi reconhecido oficialmente como problema global. Não há toga que cubra esse carimbo.

O problema para o careca não é só o ato em si, mas o simbolismo. A Magnitsky Act não é aplicada de brincadeira. Ela carrega a acusação direta de abuso de direitos humanos, perseguição política e censura. É o equivalente moderno de colocar sua foto num cartaz de “procura-se” internacional. De repente, Moraes passou de juiz supremo a pária diplomático. Qualquer sonho de um cargo na ONU, no Tribunal de Haia ou mesmo de palestrar nos salões da academia global foi triturado em segundos.

E o que fez o establishment brasileiro? Ao invés de ler o cenário e pensar “talvez seja hora de se afastar um pouco do Alexandre, pelo bem da instituição”, fez o contrário: blindagem total. Foi um festival de discursos sobre “soberania” e “defesa da democracia”, como se os Estados Unidos fossem uma republiqueta tentando dar golpe no STF. Não é defesa de princípios, é puro medo de abrir precedente: se um cair, amanhã pode ser outro. O corporativismo virou um pacto suicida.

Internamente, Moraes ainda tem um trono de ouro — mas fincado num chão de areia movediça. O apoio do governo Lula é mais conveniência do que convicção. Para o Planalto, Moraes é útil enquanto mantém Bolsonaro amarrado. Fora isso, é um aliado incômodo, um amigo que ninguém quer sentar ao lado no restaurante. O Congresso, por sua vez, faz o que sabe: nada. Deputados e senadores observam a cena, roendo as unhas e torcendo para que a tempestade passe sem respingar.

Externamente, a coisa é feia. A sanção gera risco financeiro e jurídico que nenhum aliado gosta de carregar. Empresas, bancos e até advogados internacionais passam a medir distância. Moraes pode até não ter um centavo em conta americana, mas o congelamento simbólico é o que dói: a mensagem é “quem tocar nesse cara, se queima”. E isso, no xadrez global, pesa mais que qualquer ação formal no Brasil.

O curioso é como a sanção veio exatamente no momento em que Moraes mais precisava projetar força. Ele tinha em mãos o julgamento de Bolsonaro, sua grande “obra” para a história, e achava que controlava o tempo, o ritmo e o desfecho. A entrada dos EUA na jogada não só desbalanceou o tabuleiro como criou uma narrativa alternativa: não é mais “o juiz que combate o golpismo”, mas “o juiz acusado de violar direitos para destruir um adversário político”. E isso cola rápido.

O efeito colateral disso é que toda ação dele agora será lida como retaliação pessoal. Prender, multar ou censurar alguém virou sinônimo de “vingança”. E quando essa percepção se instala, não adianta discurso de neutralidade: a opinião pública — e pior, os parceiros internacionais — já marcaram a posição. O jogo virou e Moraes está na defensiva.

Para piorar, a pressão não é só moral. A tarifa de 50% imposta por Trump nas exportações brasileiras em retaliação é um torpedo direto na economia. Isso cria atrito com o agronegócio, com a indústria e com governadores, setores que, até então, não tinham nada contra Moraes. Agora têm. E quando o bolso dói, o silêncio institucional começa a rachar.

Moraes sempre operou como um sistema fechado: filtra informações, confia apenas no círculo íntimo e reage a críticas como se fossem ataques à pátria. Só que, na teoria de sistemas, quando um organismo se fecha demais, ele perde capacidade adaptativa. É isso que estamos vendo: ele está no modo sobrevivência, dobrando a aposta no isolamento, quando o correto seria buscar amortecimento.

Mas o careca não vai recuar sozinho. Ele sabe que, se abrir a guarda, a queda será instantânea. Por isso, segue a cartilha de todo sistema em colapso iminente: endurecer, negar a crise e atacar o mensageiro. A diferença é que, desta vez, o mensageiro é uma potência mundial com apetite para derrubar peças. E a história mostra que, quando o peso vem de fora e de cima, nem toga segura.

Artigo 2 – Bolsonaro, o Prisioneiro Livre: como a prisão domiciliar devolveu fôlego político e rachou o tabuleiro

A genialidade involuntária do establishment foi transformar Bolsonaro de réu acuado em ativo político reenergizado, e fizeram isso com a sutileza de um elefante numa loja de cristais. O cara estava, sim, desgastado: cercado de processos, narrativas batendo forte, uma base que ainda era fiel mas dispersa. Bastou o STF decidir que ele ficaria em prisão domiciliar, com tornozeleira e tudo, para reacender a chama e transformá-lo num símbolo vivo de resistência. Se a ideia era neutralizar, parabéns: criaram um mártir de luxo, com vitrine internacional.

Esse tipo de movimento é um clássico no manual do erro político. Quando um sistema persegue demais um oponente sem matar politicamente de vez, ele cria o chamado efeito mártir. A base de Bolsonaro agora tem um totem, uma vítima palpável de perseguição. Não é mais sobre política ou programa de governo, é sobre “libertar o capitão”. Isso, para mobilização, é ouro puro. A indignação passa a ser automática, a narrativa fica pronta e as pessoas não precisam pensar muito: “se prenderam, é porque ele é nosso”.

O timing foi ainda mais desastroso. A prisão veio dias depois das sanções americanas contra Moraes. Ou seja, no imaginário popular e na mídia internacional, as duas figuras agora estão diretamente ligadas: o juiz sancionado por abuso de direitos e o ex-presidente que ele está tentando destruir. A percepção fora do Brasil é de perseguição com selo oficial de Washington. Dentro, é de que Bolsonaro incomoda tanto que o sistema precisa prendê-lo preventivamente.

Bolsonaro, claro, não precisa nem abrir a boca. Cada imagem dele dentro de casa, cada restrição de visita, cada notícia sobre monitoramento é um outdoor da injustiça, na narrativa de sua base. E o melhor (para ele): não há risco imediato de desgaste por fala ou ato impulsivo, porque a condição de preso domiciliar o mantém “disciplinado” e controlado — o que, para um político acostumado a tiros no pé verbais, é quase uma benção.

O establishment achou que estava cortando o fio de energia do bolsonarismo, mas acabou religando a tomada. Agora, deputados, senadores e governadores que antes estavam mornos em relação a Bolsonaro têm de se posicionar. Ficar contra ele significa ficar do lado do STF e de um Moraes enfraquecido e sancionado. Ficar a favor significa desafiar a corte, mas com respaldo popular crescente. É uma armadilha para o sistema, não para Bolsonaro.

A reação internacional foi imediata e nada favorável ao STF. Na imprensa estrangeira, o enquadramento foi quase unânime: prisão política. Não se trata de apoio a Bolsonaro em si, mas da leitura objetiva de que a medida foi desproporcional e serviu a interesses específicos. E quando essa leitura cola, qualquer justificativa técnica vira desculpa esfarrapada.

No Brasil, o movimento de rua voltou a pulsar. As manifestações com bandeiras americanas e gritos de “Magnitsky” são mais do que folclore: sinalizam que a base está importando símbolos externos para legitimar sua luta interna. Isso é perigoso para o establishment porque conecta o movimento com uma narrativa global, de liberdade contra tirania. É o mesmo tipo de combustível que derrubou regimes na Europa Oriental e no Oriente Médio.

No plano estratégico, Bolsonaro está numa posição rara: ativo sem poder formal, perseguido sem estar destruído, e com a oposição se desgastando ao tentar eliminá-lo. Ele pode deixar que a narrativa trabalhe sozinha enquanto o STF gasta capital político e moral na tentativa de mantê-lo contido. E quanto mais tempo essa condição durar, mais forte a percepção de injustiça.

O efeito boomerang já está em curso: qualquer tentativa do STF de “apertar” Bolsonaro só vai amplificar sua imagem de perseguido. O sistema entrou num ciclo onde cada ação contra ele produz mais apoio para ele. Isso é o pesadelo de qualquer operador político — e um presente para quem sabe esperar o momento certo de voltar ao jogo.

No fim, o prisioneiro é livre porque o que importa não é a casa onde está confinado, mas a rua onde sua imagem circula. Bolsonaro agora é mais que um político, é um símbolo em movimento, e o establishment, sem perceber, lhe deu o combustível para queimar até a última gota de credibilidade de seus algozes. É o tipo de erro que, olhando para trás, vai ser lembrado como o dia em que tentaram calar e acabaram amplificando.

Artigo 3 – Tagliaferro e o Estouro da Boiada: o que acontece quando o ex-chefe abre a caixa de Pandora

Tagliaferro é o pesadelo que qualquer figura de poder teme: o braço direito que conhece cada corredor escuro, cada conversa de porta fechada, cada ordem dada fora do protocolo. Ex-chefe de gabinete de Moraes, ele não é um militante raivoso nem um blogueiro caçador de likes. É um insider com crachá de acesso irrestrito. E quando um sujeito assim resolve falar, o barulho não é de panela — é de detonação controlada.

O ex-assessor não só decidiu romper como fez isso com manual de sobrevivência em mãos: saiu do Brasil, se exilou na Itália, preparou material e espalhou backups como quem joga pólvora e espera a fagulha. A primeira cartada foi pública: entrevistas acusando Moraes de usar o gabinete para perseguição política direcionada, com “alvos” definidos e métodos que beiram espionagem de Estado. Não é insinuação genérica, é acusação com endereço e CEP.

Moraes reagiu como um sistema fechado reagiria: bloqueio total de contas, cartões e até Pix de Tagliaferro. A medida, ao invés de calar, só aumentou a credibilidade dele. Afinal, se fosse blefe, por que o careca reagiria com tanto desespero financeiro? Na lógica da opinião pública, isso é quase uma confissão de que o homem sabe demais. E pior: a repercussão internacional encaixou a narrativa de Tagliaferro no mesmo pacote das sanções americanas e da prisão de Bolsonaro.

O que Tagliaferro promete entregar é mais do que denúncia: é documento, é prova, é bastidor. E se ele cumprir, não vai ser possível enquadrar como “opinião” ou “fake news”. Estamos falando de material que, vazado no momento certo, pode desarmar qualquer defesa corporativa no STF. É o tipo de insumo que CPI sonha receber para fazer o circo pegar fogo.

O grande trunfo dele é o timing. Segurar o material cria ansiedade, aumenta o valor de mercado e obriga o sistema a gastar munição tentando descredibilizá-lo antes mesmo de ver a prova. É um jogo perigoso, porque se demorar demais, o efeito evapora. Mas se soltar no ápice da crise — e essa crise está subindo de temperatura — pode provocar o tipo de fratura que até ontem parecia impossível.

Dentro do STF, o nome Tagliaferro já é sinônimo de paranoia. Não é sobre o que ele disse, mas sobre o que ele pode dizer e ainda não disse. Isso cria fissuras internas: ministros começam a se perguntar se vale mesmo a pena sustentar Moraes a qualquer custo. É o primeiro passo para a fratura controlada, onde uma parte do establishment sacrifica o membro gangrenado para salvar o corpo.

A mídia velha, como era de se esperar, tenta reduzir o impacto. Fala em ressentimento, em fuga para evitar a Justiça, em delírio conspiratório. Mas o vácuo de confiança está aí: quando um insider fala, até quem não gosta dele escuta. E quando a promessa é de “abrir a caixa de Pandora”, o imaginário coletivo já está pintando monstros antes mesmo de vê-los.

Na teoria de sistemas, Tagliaferro é um input disruptivo exógeno ao ciclo fechado. Ele não está mais dentro do sistema, então não pode ser controlado pelos mecanismos internos de feedback. Isso significa que qualquer tentativa de neutralizá-lo de fora é arriscada e pode gerar mais ruído. Moraes não tem como reintegrar o elemento ao controle sem expor ainda mais vulnerabilidades.

Se o material que ele diz ter for concreto, a cadeia de eventos pode ser brutal: vazamento → repercussão internacional → pressão política → abertura de investigação formal → perda de apoio interno → afastamento ou renúncia forçada. É um caminho que não depende da boa vontade do sistema, apenas de que as peças externas se alinhem.

Agora, previsões? Três linhas possíveis, todas abertas para a gente voltar a fuçar depois. Primeiro, Tagliaferro cumpre a promessa, a prova explode e vira caso global, acelerando a queda de Moraes. Segundo, ele entrega algo médio, suficiente para mais desgaste mas insuficiente para derrubar, mantendo o sangramento lento. Terceiro, é neutralizado antes de falar, e vira mártir — o que paradoxalmente pode ser tão ou mais nocivo para o STF quanto as próprias provas. Em todos os casos, o establishment não sai ileso. A boiada já começou a se mover; a questão é se vai estourar no curral ou arrebentar a cerca.


Os Robocops da Toga: Como o STF Virou Polícia Política de Luxo - Antônio Freixo.

Título da Obra:
“Os Robocops da Toga: Como o STF Virou Polícia Política de Luxo”

ÍNDICE

Capítulo Único – A Nova Inquisição de Brasília

1. Artigo 1 – A Lei é o Juiz, o Juiz é a Lei, e o Resto que se Foda
Como Moraes montou uma força-tarefa paralela, ignorou leis, cagou pro contraditório e transformou o tribunal eleitoral numa polícia de pensamento. Cruzamento com censuras recentes, decisões sem julgamento e prisões baseadas em posts.


2. Artigo 2 – Certidão Positiva: o Novo Mandado de Prisão Ideológica
A palhaçada das “certidões” que não valem nada, mas botam gente na cadeia por camiseta verde e meme de WhatsApp. Conexão direta com a perseguição judicial a jornalistas, influencers e políticos de oposição em 2025.


3. Artigo 3 – Audiência de Custódia ou Esquete de Kafka no Zap?
Quando a audiência é feita pra prender, não pra soltar, com juiz mandando emoji rindo enquanto distribui 17 anos de cana. Cruzamento com a reativação de processos contra manifestantes de 2021 e ameaças a deputados que não rezam a cartilha do "Supremo".





Artigo 1 – A Lei é o Juiz, o Juiz é a Lei, e o Resto que se Foda

No Brasil de 2023 pra cá, o negócio degringolou de vez. Não é mais a Constituição que manda, é o ministro que tiver com mais sede de vingança. Alexandre de Moraes, o baluarte do autoritarismo chancelado por toga e caneta, pegou o STF e o TSE e transformou num bat-caverna judicial. Criou um grupo de WhatsApp que mais parecia grupo de milícia, onde os caras decidiam quem ia se foder com base em curtida, camiseta da Seleção e meme de pavão com a frase "acabou a mamata". Sem inquérito direito, sem acusação fundamentada, sem contraditório. Só lista, link de Facebook e dedo nervoso em cima do botão de “positivo”. Positivo de quê? De ter opinião.

Não bastasse isso, o sujeito empilhou duas cadeiras: uma no Supremo, outra no TSE. A porra do juiz virou órgão acusador, polícia, júri, carcereiro e carrasco. Nem na ditadura civil-militar os generais foram tão descarados. Lá pelo menos os autos existiam — fabricados, sim, mas existiam. Aqui, é um emoji do juiz Airton Vieira mandando um “😜😜😜” pra comemorar que todo mundo vai continuar na cadeia. Isso não é justiça, é esculacho institucionalizado.

O que rola hoje é a institucionalização do processo por intenção. Se você pensa algo contrário ao regime, parabéns: você é réu. Nem precisa agir. É o modelo chinês com tempero de jabuticaba e jurisprudência de grupo de Telegram. O mesmo Estado que finge combater “desinformação” vira o maior fabricante de narrativas canalhas, baseadas em relatórios improvisados de gente que nunca pisou num curso de direito, mas que sabe bem usar um print fora de contexto.

E não pense que isso é coisa do passado. Em 2025, o mesmo STF que montou essa máquina de moer adversários segue a todo vapor. Já tem deputado com tornozeleira por ter chamado um ministro de “careca autoritário” no X (antigo Twitter). Jornalista com bens bloqueados por falar de pedalada judicial. Influencer exilado por postar vídeo com a música “Eu voltei, agora é pra ficar”. A censura virou política pública, e o ministro virou o curador da moral digital do país.

A porra do Judiciário virou tribunal revolucionário da Revolução Francesa, com Moraes de guilhotina no colo. Não tem mais habeas corpus, tem “vamos ver a rede social dele primeiro”. O Ministério Público, que deveria ser o fiscal da lei, virou figurante. E quem tenta peitar isso é acusado de ataque à democracia. Isso mesmo: criticar o abuso de poder virou “ameaça institucional”. Tá tudo invertido. Quem tenta defender a legalidade é o criminoso, quem rasga a Constituição é o herói da mídia.

E aí vem o discurso mole: “Ah, mas é pra proteger a democracia”. Democracia o cacete. Isso é ditadura com Wi-Fi. O Estado de Direito virou uma piada, e o povo tá pagando com sangue, tornozeleira, demissão, humilhação e sentença baseada em curtida. Quem não tiver ficha digital limpa — ou seja, sem crítica, sem opinião, sem espírito — tá na linha de tiro.

Esse primeiro artigo é só o começo. A farsa das certidões e a palhaçada das audiências de custódia vêm aí. Mas já fica claro: o Brasil hoje tem um juiz que acha que é Deus, um tribunal que acha que é o Leviatã, e uma Constituição que só serve pra apoiar copo no gabinete da censura. E o povo? O povo que se foda.

Artigo 2 – Certidão Positiva: o Novo Mandado de Prisão Ideológica

Imagina você ir parar na cadeia por compartilhar uma petição pública com zero curtidas. Pois é, no Brasil do Moraes, isso virou motivo suficiente pra te rotularem com uma “certidão positiva” e enfiar você numa cela fedendo a mofo institucional. O bagulho é tão grotesco que até os processos de tráfico têm mais critério. Aqui não tem prova, tem opinião. E se a sua opinião é “antidemocrática” segundo um estagiário do TSE de olho em meme de 2018, então parabéns: você acaba de virar ameaça à república.

As tais “certidões” são um delírio burocrático com pinta de Kafka reescrito por estagiário da KGB. Documento sem valor legal, produzido no WhatsApp, fora do processo, sem passar pelo MP, e mesmo assim usado pra manter gente presa por meses. O método é o seguinte: arranja um nome, puxa o CPF, vasculha rede social, acha um post com emoji de bandeira, junta com alguma crítica ao Lula ou ao STF, bota um print num Word, imprime, assina com uma estrelinha de “perigo ideológico” e pronto. É o novo AI-5 digital.

E olha que isso não é exagero de retórica. A certidão da idosa Vildete, 74 anos, foi feita errada. Corrigiram depois. Mas ela ficou presa assim mesmo. Só saiu porque teve hemorragia intestinal. O outro, um camelô que nem participou do 8 de janeiro, ficou meses enjaulado por ter tweetado mal do Lula… em 2018! Tem também o caminhoneiro que postou “segundo o cabeça de ovo ninguém pode questionar nada?” e ganhou 11 meses de xilindró. Isso não é justiça. Isso é ajuste de contas político.

Pior: até quem recebeu certidão negativa foi mantido preso. Sabe o que isso significa? Que nem seguir as regras da palhaçada interna deles garantia a sua liberdade. A certidão era só o papel timbrado do arbítrio. Quer ver um exemplo atual? Em 2025, depois da morte de outro detento ignorado pelo ministro, teve uma migalha de reação pública. Resultado? Moraes soltou meia dúzia, mas só pra mostrar serviço. No dia seguinte, meteu de volta uma senhora na prisão por "desrespeitar condição da domiciliar". Qual a infração? Vender o fogão pra pagar advogado.

Esse circo foi alimentado por um tribunal eleitoral que, veja bem, não tem competência criminal nenhuma. Mas por ordem do chefão da toga, o tal do Tagliaferro (uma espécie de “anjo da morte de posts suspeitos”) montava dossiês improvisados em tempo recorde. E quem reclamasse da ilegalidade da coisa, tomava expor público no grupo de zap e ameaça de demissão.

Agora pega esse esquema e cruza com os dias de hoje. Em pleno 2025, o novo alvo são os deputados que se opõem ao regime. Já tem parlamentar proibido de usar rede social, blogueiro proibido de dar entrevista, artista preso por fazer música crítica ao STF. O modelo das certidões virou template do terror institucional: se você tem voz, precisa ser silenciado. Se não tem, vira número na planilha do medo.

Enquanto isso, a imprensa “progressista” bate palma com os dois pés. Chamam isso de “resistência democrática”. Mas o que tão resistindo mesmo é à Constituição. E ao ridículo. Porque manter um tribunal como o TSE funcionando como polícia política, com base em “riscos à democracia” determinados por analista de perfil de Instagram, é coisa que nem o DOPS, em seus piores dias, ousava formalizar.

Essas certidões são a certidão de óbito do Estado de Direito. Quem ainda acredita que isso é justiça, ou é cúmplice, ou é burro demais pra perceber que o Leviatã já bateu na porta e agora tá com o pé dentro da sua sala.

Quer saber do teatro das audiências? No próximo artigo eu te mostro como o “direito ao contraditório” foi jogado no lixo com um emoji rindo e um carimbo de prisão preventiva automática. Pega o balde que vem mais nojeira.

Artigo 3 – Audiência de Custódia ou Esquete de Kafka no Zap?

Se você acha que audiência de custódia no Brasil ainda serve pra alguma coisa além de cumprir tabela, senta aí que o buraco é mais embaixo. No pós-8 de janeiro, esse troço virou sketch macabro de tribunal revolucionário com enredo montado no WhatsApp. Juiz lendo print e soltando sentença no feeling, promotor que virou só figurante e defensor público tentando entender se tava numa audiência ou num circo de horrores com palhaço fardado de legalidade.

Logo depois das prisões em massa, Moraes assinou uma ordem centralizando todas as decisões. Juízes de 1ª instância só podiam verificar se a prisão foi “legal”. Mas quem decidia se alguém ficava preso ou não era ele. Só ele. Supremo. Inquestionável. Tava lá, no topo do Olimpo institucional, decidindo com base em varredura digital se você era uma ameaça ao Estado. Traduzindo: não importava o que você dissesse na audiência, se seu Facebook tinha bandeira do Brasil e um post contra o “sistema”, já era. Prisão. Ponto.

O juiz Airton Vieira, que conduzia essas audiências, mandou um emoji rindo — “que nas audiências possamos dar a cada um o que lhe é de direito: a prisão! 😜😜😜”. Isso mesmo. Emojis. O cara transformou o rito mais sensível da justiça penal numa piada de zap. É como se o juiz falasse: “Vai preso, otário, porque aqui quem manda é o chefe da caneta”. E esse juiz era assessor direto do Moraes, ou seja, parte da engrenagem. Cadê a porra do juiz natural? Cadê a isenção? Cadê a vergonha na cara?

Agora segura essa: teve detido com parecer favorável da PGR pela soltura. Mas o Moraes bateu o pé e mandou a Kusahara (sua secretária informal do terror) segurar tudo até “checar as redes sociais”. Isso é tipo você ser mantido preso porque o síndico do prédio quer ver se você postou meme de pavão em 2019. A audiência virou um ritual vazio, uma peça de teatro de gosto duvidoso, encenada pra fingir legalidade onde só tinha vingança.

E enquanto a justiça virava piada de reunião de tirano, o sistema continuava rodando. Em 2025, esse modelo tá tão normalizado que já virou protocolo. Deputado de oposição é ouvido só pra fingir que teve chance de defesa, mas o veredito já tá decidido de antemão. Jornalista é intimado pra “prestar esclarecimentos”, mas sai de lá com tornozeleira. A audiência não serve pra escutar, serve pra cumprir formalidade. É checklist do arbítrio.

Pega um caso recente: mulher libertada no Dia da Mulher, num ato de “compaixão midiática”, voltou pra cadeia meses depois porque a tornozeleira falhou. Nem fuga houve. Vendeu móveis pra pagar conta, e isso virou “indício de plano de evasão”. É a nova jurisprudência do “a gente acha que você pensou em fazer algo, então já tá condenado”.

Quer mais? O relatório da ASFAV mostrou que juiz que tentasse conceder liberdade era ignorado. Promotor que não quisesse acusar, bypassado. A audiência virou desfile de reféns institucionais cumprindo papel. Quem decidia tudo era o grupo de zap dos robocops togados. E quando o esquema começou a vazar, Kusahara apagou tudo, tirou os participantes e rebatizou o grupo. Apagar rastro virou política de segurança institucional. E ninguém fez nada.

Hoje, o Brasil assiste isso de boca fechada. Uns com medo. Outros com vergonha. Muitos com conivência. E o Judiciário segue rindo com emoji, assinando sentença sem olhar o réu. Kafka, se visse isso, se matava de novo. Não por desgosto, mas por inveja. Porque nem ele teve a ousadia de inventar uma justiça tão escrota, cínica e grotesca como a que vigora agora na terra dos “garantistas de ocasião”.



sexta-feira, 1 de agosto de 2025

A Mentira Comunista e a Verdade dos Fatos - Antônio Freixo.

 



ÍNDICE

Capítulo I – A Mentira Fundadora: Entre o Paraíso Perdido e a Utopia Assassina

  1. O Grito de Marx: Filosofia como Guerra
    A origem do comunismo como heresia política da modernidade.
  2. Dialética ou Feitiçaria? O Método que Gera Caos
    Como a dialética marxista virou um truque retórico para legitimar violência.
  3. Utopia Encarnada: O Evangelho Segundo Lênin
    A substituição do Salvador por um Partido.
  4. O Inimigo É a Realidade
    A construção do "mundo novo" exige negar o mundo real, com suas leis, hierarquias e tragédias.

Capítulo II – A Máquina de Tomar o Poder: Técnica, Partido e Vingança

  1. A Revolução Não é um Evento, É um Método
    Tomar o Estado, ocupar consciências, destruir a moral.
  2. O Partido Como Novo Deus
    Da consciência de classe à nova infalibilidade secular.
  3. Guerra Psicológica: O Comunismo Não Debate, Corrói
    Controle da linguagem, reengenharia mental, relativismo totalitário.
  4. A Política Como Extermínio Moral
    Eliminar o adversário não por argumento, mas por desumanização.

Capítulo III – O Século de Sangue: Aplicações Reais da Ideia

  1. O Laboratório Soviético: Cadáveres Como Engrenagem
    Lênin, Stalin, os gulags e o genocídio como política pública.
  2. China: A Revolução Come os Filhos e os Pais
    Mao, a Revolução Cultural, e o culto à ignorância revolucionária.
  3. Cuba: A Ilha do Terror com Sabor de Propaganda
    Como um presídio virou símbolo de liberdade para idiotas úteis.
  4. O Terceiro Mundo Vermelho: Angola, Camboja, Coreia do Norte
    Cada aplicação local tem sua originalidade, mas o horror é o mesmo.

Capítulo IV – O Novo Comunismo: Pós-moderno, Global e Idenitário

  1. O Comunismo de Gucci: Camaradas de iPhone e Gênero Neutro
    Como a esquerda trocou o macacão pelo TikTok, mas manteve o plano.
  2. Revolução Cultural 2.0: Escola, Mídia, Diversidade e Censura
    A nova doutrinação não usa tanques, mas emojis e hashtags.
  3. Capitalismo de Estado: O Regime Chinês e seus Amiguinhos Globais
    Como empresas e comunistas estão cada vez mais na mesma cama.
  4. Brasil Vermelho: Das CEBs ao Foro de São Paulo
    O caso brasileiro como exemplo da lenta e sistemática corrosão da pátria.

Capítulo V – O Antídoto: Verdade, Memória e Combate

  1. A Lição dos Mortos: Por Que Lembrar é Resistir
    Sem memória, repete-se o crime. Negar os mortos é repetir Stalin com sorriso.
  2. Contra o Espírito Revolucionário: Reagir com Alma e Razão
    O combate ao comunismo começa pela restauração da consciência.
  3. O Último Mito: “Nunca Foi Implementado de Verdade”
    A falácia mais nojenta do século. Foi sim, e matou.
  4. A Reconquista: A Tradição Como Arma Contra a Mentira
    Religião, filosofia, família, pátria – os pilares que o comunismo tenta destruir.

 

 

Capítulo I – A Mentira Fundadora: Entre o Paraíso Perdido e a Utopia Assassina
Artigo 1 – O Grito de Marx: Filosofia como Guerra

Karl Marx não fundou uma filosofia. Fundou um grito. E gritos não são ideias – são sintomas. O que você lê nas primeiras páginas do Manifesto Comunista não é uma construção racional com premissas e conclusões: é um diagnóstico histérico com vocação de sentença. Ele não quer compreender o mundo: ele quer queimar o mundo. A tal “filosofia” de Marx é menos um sistema e mais um ressentimento armado de retórica. Não à toa, até hoje, ninguém se cura com marxismo – só adoece com estilo.

A origem do comunismo não está em um pensamento que visa a verdade, mas em um recalque da alma diante da realidade. Marx não nega a ordem porque descobriu uma verdade superior. Ele a nega porque não suporta que ela exista. É o grito do revoltado contra a ordem do mundo, contra a desigualdade natural, contra a beleza hierárquica das coisas. E esse grito virou método, virou partido, virou revolução. O que começa com um barulho na alma termina com o silêncio nos cemitérios.

A lógica do pensamento comunista é a da inversão. O pobre é puro, o rico é sujo. O operário é sábio, o burguês é tolo. O passado é opressor, o futuro é redentor. E o mundo real, com suas complexidades, nuances e contradições, deve ser esmagado sob as botas da “necessidade histórica”. A tal “ciência” do marxismo é um truque: ela parte da conclusão (a luta de classes como motor) e força a história a caber dentro da tese. O comunismo não interpreta o mundo – ele o falsifica metodicamente.

No fundo, Marx encarna a herança gnóstica: o mundo é mal, criado por uma ordem falsa, e só será salvo pela revolta dos iluminados. Só que o gnóstico do século XIX trocou os anjos por proletários e os arcanos por dialética. A metafísica virou panfleto. A religião virou panfletagem. E no lugar da Graça, veio a Revolução. O comunismo, assim, é menos uma proposta política do que uma paródia do Cristianismo – com inferno na Terra e sem possibilidade de salvação.

Aos olhos de Marx, o pecado não está no homem, mas nas estruturas. Logo, não é preciso converter almas, mas destruir instituições. O paraíso será instaurado não pela conversão interior, mas pela destruição exterior. É por isso que o comunismo não cria: destrói. Não edifica: sabota. Não redime: vinga. Sua força vem do ódio, e sua esperança vem da inveja. E quando toma o poder, não promove justiça, mas sim iguala tudo no sofrimento. Em nome da igualdade, apaga-se a dignidade.

Ao longo do século XX, esse grito virou metralhadora. Da Rússia à China, de Cuba ao Vietnã, do Camboja à Venezuela, o que se viu não foi a utopia dos operários, mas a ditadura dos canalhas. E no entanto, nas universidades ocidentais, o grito de Marx segue vivo – reeditado, reembalado, envernizado. Agora ele vem com pronome neutro, com pauta identitária, com ar de justiça social. Mas o espírito é o mesmo: é a alma revoltada que odeia a realidade e quer impor sua fantasia pela força.

Hoje, quando você vê um jovem bradando contra o “sistema”, exaltando Che Guevara com a camiseta da Nike, o que você ouve é o eco daquele mesmo grito. Um grito velho, cansado, mas ainda perigoso. Porque onde ele é levado a sério, corpos caem. Onde ele é ignorado, mentes apodrecem. E onde ele é idolatrado, a liberdade morre. O grito de Marx é a negação do logos. É a rejeição da ordem. É o barulho que se faz quando se prefere a destruição à verdade.

Se você não entendeu isso, não entendeu nada. O comunismo não é uma teoria econômica mal formulada. É uma guerra espiritual travestida de ciência social. E seu campo de batalha somos nós. Nossa história, nossa consciência, nossa alma.

Artigo 2 – Dialética ou Feitiçaria? O Método que Gera Caos

Se o diabo tivesse que inventar um método filosófico para confundir os homens, não inventaria coisa melhor que a dialética marxista. Com um jogo de palavras que muda de significado conforme a conveniência, ela transforma contradição em motor da história, mentira em ferramenta e caos em estratégia. Não é um método para conhecer a realidade – é um truque para dominá-la. Quem entra na lógica da dialética marxista já não pensa para entender, pensa para destruir.

A tal “superação” das contradições, que Marx pegou emprestada de Hegel, vira uma licença para afirmar uma coisa e seu oposto, desde que o objetivo final seja mantido: a revolução. Se em um momento o comunista defende a liberdade de imprensa, é porque está na oposição. Quando assume o poder, censura tudo, e diz que é para proteger a revolução. Se ontem dizia que a luta era econômica, hoje diz que é racial, de gênero ou ambiental – e o método se adapta como um vírus. A dialética não serve à verdade, serve ao poder.

Essa fluidez proposital cria uma vantagem estratégica: o comunista nunca está errado. Se a revolução falha, foi sabotada. Se ela triunfa e vira ditadura, é culpa do imperialismo. Se os pobres continuam pobres, é porque ainda não chegamos ao estágio final. É sempre culpa do outro, e o método permite essa fuga constante da responsabilidade. É uma lógica de má-fé embutida no próprio alicerce do pensamento. O sujeito se blinda contra qualquer autocrítica com um escudo feito de fumaça.

Mais que método, é feitiçaria. A realidade concreta vira acessório da tese, e não o contrário. Isso lembra os antigos magos que acreditavam que, mudando o nome das coisas, mudavam sua essência. Marx fez o mesmo: rebatizou a inveja de “justiça social”, o roubo de “redistribuição”, a violência de “luta de classes”. A dialética é a alquimia do ressentimento. Mistura tudo no mesmo caldeirão – história, economia, moral, mito – e sai com um veneno ideológico altamente adaptável.

Na prática, isso gera o caos mental. O estudante que mergulha na dialética marxista perde os referenciais. Já não sabe distinguir causa de consequência, indivíduo de estrutura, fato de narrativa. Aprende a relativizar tudo – exceto a revolução. Ele não busca compreender, busca desconstruir. E por isso, toda análise feita sob esse método é, no fundo, um instrumento de subversão. O mundo não é mais uma realidade a ser compreendida, mas uma opressão a ser desmantelada.

E o pior: o sucesso da dialética marxista não se deve à sua profundidade, mas à sua utilidade como arma. Governos, partidos, ONGs, universidades e movimentos a usam como cobertura teórica para justificar o injustificável. Ela dá um ar de legitimidade acadêmica ao instinto revolucionário. Permite que o professor destrua a cabeça dos alunos sem parecer um militante. Permite que o político roube em nome do povo. Permite que o criminoso vire vítima da sociedade. É o alibi universal.

No fim das contas, a dialética marxista não é uma forma de pensamento, mas uma forma de dominação. Quem pensa por ela se torna incapaz de olhar o mundo sem filtros ideológicos. E quem se opõe a ela vira inimigo mortal. A dialética é o chicote mental que os donos da revolução usam para manter suas massas em marcha. E se você acha que ela é apenas uma “corrente filosófica”, já caiu no feitiço.

Artigo 3 – Utopia Encarnada: O Evangelho Segundo Lênin

Lênin não era um intelectual. Era um fanático com método. Ele não queria compreender o mundo – queria tomá-lo. Se Marx é o pai do dogma, Lênin é o apóstolo da ação. Foi ele quem pegou a utopia abstrata e a cravou na carne da história, com ferro, bala e propaganda. Transformou o comunismo de teoria revolucionária em plano de poder. E ao fazer isso, criou o Evangelho da Salvação pelo Partido, com mártires, rituais, catecismo e um inferno permanente para os hereges.

O Partido, segundo Lênin, não é apenas um instrumento: é o portador da verdade histórica. Seus membros são a vanguarda da humanidade. Eles não representam apenas uma classe, mas o destino. Quem se opõe ao Partido, portanto, não erra – blasfema. Daí o fanatismo. O comunismo se tornou uma religião secular: tem profeta (Marx), messias (Lênin), escritura (O Capital), liturgia (congresso partidário), santos (Che, Fidel, Mao), e inferno para todos os “reacionários”, “burgueses” e “fascistas”.

Lênin fundou uma ortodoxia política baseada no ódio ao mundo existente. Para instaurar o paraíso futuro, tudo pode ser feito no presente: mentir, matar, torturar, trair, censurar. Ele mesmo escreveu que “a moral comunista é aquela que serve à revolução”. Não há mandamento, não há ética, não há limite. O único critério é a utilidade revolucionária. Isso significa que o comunista não mente porque é corrupto, mente porque é coerente. A mentira serve à causa. O pecado virou virtude se for pela revolução.

Foi assim que o bolchevismo instaurou o primeiro regime totalitário moderno. Antes mesmo de Hitler, Lênin já havia criado campos de concentração, eliminado adversários políticos, destruído a imprensa, militarizado a educação, controlado a cultura e instaurado um Estado de terror sob pretexto de emancipação. E tudo isso com apoio de intelectuais, jornalistas e artistas do Ocidente, encantados pela “esperança vermelha”. O século XX começou com um culto genocida em nome do povo.

O mais impressionante é que tudo isso foi feito sem nunca cumprir uma única promessa. A terra prometida aos camponeses foi estatizada. As fábricas prometidas aos operários foram controladas por burocratas. A liberdade prometida virou vigilância. A igualdade virou miséria geral. Mas o mito permaneceu. Lênin não precisava entregar resultados – bastava manter viva a promessa. E para isso, bastava manter viva a guerra: contra os kulaks, contra os capitalistas, contra o passado, contra os próprios camaradas.

O evangelho leninista exige fé. Fé no Partido, fé na História, fé no porvir. E essa fé não se alimenta de razão, mas de ressentimento. O militante não espera um futuro melhor porque viu sinais disso, mas porque odeia o presente. O ódio é a energia do crente vermelho. Ele não luta por amor ao futuro – luta por desprezo ao agora. Por isso, qualquer crítica realista, qualquer dado concreto, qualquer fato que desminta o dogma é tratado como crime moral. A utopia deve continuar intacta, mesmo que custe milhões de cadáveres.

Ao fim, Lênin inaugurou o regime onde a mentira é método, o crime é virtude e a utopia é desculpa para o inferno. Sua herança não é apenas a União Soviética. É o modelo para todos os regimes que sacrificam o povo em nome do povo. Onde a revolução triunfa, a verdade morre. E onde a verdade morre, Lênin sorri em seu mausoléu.

Artigo 4 – O Inimigo É a Realidade

Não é o capitalismo o verdadeiro inimigo do comunismo. Nem a burguesia, nem a propriedade privada, nem os "valores tradicionais". O inimigo é mais profundo, mais visceral: é a própria realidade. Simplesmente aquilo que está aí, dado, existente, com suas desigualdades, dores, hierarquias, belezas e tragédias. O comunismo não quer reformar o mundo. Quer substituí-lo. E para isso, precisa declarar guerra contra tudo o que é. Contra o que foi. E contra o que pode ser sem ele.

A realidade é intolerável para o espírito revolucionário porque ela impõe limites. Ela diz “isto é”, e esse “é” é insuportável. A beleza da família, por exemplo, mostra que ela precede o Estado. A existência da diferença entre os homens, de talentos, de méritos, de vocações, mostra que a igualdade absoluta é uma ficção. A experiência religiosa mostra que há algo acima do Partido. A tradição mostra que há um saber acumulado mais sábio do que qualquer decreto ideológico. Tudo isso grita contra a utopia. Então deve ser calado.

O comunista, em sua essência, é um deformador do real. Onde há homem, ele vê estrutura. Onde há culpa pessoal, ele vê opressão sistêmica. Onde há mérito, ele vê privilégio. Onde há sofrimento natural, ele vê inimigo político. Sua obsessão é reinterpretar o mundo inteiro de modo a justificar a revolução. E se os fatos não colaboram, problema dos fatos. A verdade deve se adaptar à tese – não o contrário. É por isso que, onde o comunismo governa, a realidade vira peça de museu. Substituída por narrativas, slogans, índices falsos e propaganda.

A mentira não é uma falha ocasional – é o cimento da estrutura. Um governo comunista só sobrevive mentindo. Ele mente sobre sua história, mente sobre suas intenções, mente sobre seus fracassos, mente sobre os outros. Cuba é “paraíso da saúde”, China é “capitalismo com características chinesas”, o PT é “defensor da democracia”, e por aí vai. A mentira é tão grande, tão desavergonhada, tão repetida, que se transforma em ambiente. A população inteira passa a respirar ilusão. A verdade vira clandestina.

Essa guerra contra o real assume formas variadas. Na economia, é o tabelamento insano, o planejamento central, a estatização que destrói a produtividade. Na cultura, é a censura, a arte militante, o revisionismo histórico. Na linguagem, é a reinvenção das palavras: “homofobia”, “machismo estrutural”, “necropolítica”, “fascismo” – tudo redefinido para servir à guerra ideológica. Na educação, é a doutrinação, o esquecimento programado, a esterilização da inteligência. Tudo o que conecta o homem à verdade precisa ser arrancado.

No Brasil, essa guerra foi travada de forma lenta, sorrateira, ao longo de décadas. Em vez de tanques, usaram pedagogos. Em vez de fuzis, usaram editoras. Em vez de campos de trabalho, usaram universidades. Mas o objetivo é o mesmo: afastar o povo de qualquer senso de realidade, para que aceite qualquer mentira em troca de promessas. Foi assim que milhões passaram a ver criminosos como vítimas, autoridades como opressores e liberdade como discurso de ódio.

Ao fim, o comunismo não é só uma ideologia política. É uma intoxicação espiritual. Ele mina a percepção do mundo, destrói a confiança nos sentidos, embaralha os critérios, substitui a consciência pela militância. E quando tudo isso está feito, o sujeito não é mais um cidadão – é um zumbi com crachá. Um repetidor de chavões. Um defensor do irreal contra o que está diante dos olhos.

Por isso, lutar contra o comunismo não é apenas um debate político – é uma reconquista da sanidade. É restaurar o simples ato de ver, de dizer “isso é”, “isso não é”, “isso foi”, “isso será”. E essa restauração começa com uma frase simples, mas hoje revolucionária: a realidade existe. Só isso já basta para desmoronar a torre inteira de papelão revolucionário.

Capítulo II – A Máquina de Tomar o Poder: Técnica, Partido e Vingança
Artigo 1 – A Revolução Não é um Evento, É um Método

A maior ilusão sobre o comunismo é acreditar que ele acontece. Como se fosse um ponto no tempo, uma explosão, uma tomada súbita do poder por meia dúzia de fanáticos barbudos com bandeira vermelha. Não. O comunismo não é um evento: é um método. Um processo. Uma corrosão planejada que começa muito antes dos tiros e continua muito depois dos cadáveres. É uma guerra sem frente definida, onde o inimigo não percebe que está sendo atacado até já estar ajoelhado.

A revolução, nesse método, começa pela linguagem. Muda-se o sentido das palavras. “Igualdade” já não significa justiça proporcional, mas nivelamento compulsório. “Democracia” vira poder do partido, mesmo com um só candidato. “Direitos” passam a ser favores do Estado. O idioma inteiro vai sendo sequestrado, de dentro. Ninguém percebe de imediato. Mas, quando se tenta argumentar com um militante, tudo já virou gelatina semântica. E sem linguagem, não há pensamento. Sem pensamento, não há resistência.

Depois da linguagem, vem a cultura. Não se proíbe a arte – primeiro, suborna-se o artista. Paga-se via Lei Rouanet, edital, festival. Em troca, ele canta a revolução com as palavras da moda. Quando a nova moral já estiver nos palcos, nos livros, nos filmes, o povo começa a repetir sem pensar. E quem não repete, é escorraçado. O controle da cultura precede o controle das armas. A música doutrina antes da milícia. É a velha técnica gramsciana: ocupar o imaginário antes de ocupar o palácio.

Em seguida, vem a educação. O método revolucionário sabe que é preciso desarmar intelectualmente as futuras gerações. Enchem-se as escolas com pedagogia do oprimido, marxismo disfarçado de sociologia, geografia que culpa o capitalismo pelo clima, história que omite os milhões de mortos do comunismo e exalta ditaduras “progressistas”. Tudo isso embalado em linguagem de “crítica social”. O sujeito chega à universidade achando que pensar é odiar. Sai de lá sem saber distinguir um argumento de um grito de militante.

A política é o último estágio. Quando a linguagem já está contaminada, a cultura já está domesticada e a educação já foi doutrinada, o povo vota com a alma já formatada. A revolução não precisa mais de tanques – ela vem por dentro das urnas. E se alguém resiste, gritam “fascista!”. O comunismo, então, veste terno, fala em democracia, defende a Constituição – tudo enquanto corrompe as instituições, aparelha o Estado, censura disfarçadamente e prepara a próxima fase da tomada.

Tudo isso é método. Não há improviso. O Foro de São Paulo, por exemplo, não foi uma reunião de amigos. Foi um escritório de metas, prazos e infiltrações. A revolução atual não tem mais foice, tem tablet. Não carrega a estrela vermelha, mas a do globalismo progressista. Não canta “A Internacional”, mas canta pela “inclusão”, pelo “planeta”, pelas “minorias”. Mudaram os rótulos, não o conteúdo. O plano continua: tomar o poder total, em todas as esferas da vida.

Por isso, esperar por um “golpe comunista” é ingenuidade. Ele não virá com tanques na rua. Já veio com leis absurdas, com decisões judiciais cínicas, com militantes travestidos de jornalistas, com professores analfabetos ideológicos, com artistas que chamam censura de amor. Já está em curso, e quem não viu, é porque foi comendo o cardápio do método achando que era progresso.

A revolução, repito, é um método. E contra método, não se luta com indignação ocasional. Luta-se com inteligência, estratégia e memória. É preciso entender o plano, mapear as etapas, romper as engrenagens. Não basta gritar “abaixo o comunismo”. É preciso desmontar a máquina. Peça por peça.

Artigo 2 – O Partido Como Novo Deus

Uma das maiores obras de engenharia mental da modernidade foi transformar um bando de burocratas homicidas em representantes legítimos da humanidade. Essa mágica foi feita com a invenção do Partido comunista. Não como agremiação política qualquer, mas como entidade metafísica. Ele não é um agrupamento de homens com ideias – é uma encarnação histórica da Verdade, da Justiça, do Futuro. Em outras palavras: é o novo Deus. Onisciente, infalível e invisivelmente onipresente.

O Partido é, desde Lênin, a vanguarda. Mas vanguarda do quê? De uma classe que, segundo Marx, deveria se autolibertar. Já começa aí a fraude: o operário, que deveria fazer a revolução, vira massa de manobra de uma casta iluminada de intelectuais militantes. O proletariado não pensa, não decide, não escolhe. O Partido pensa por ele. Decide por ele. Fala por ele. E, no final, governa sobre ele com mais rigor do que qualquer burguês jamais sonhou.

Essa estrutura hierárquica, disciplinada, quase clerical, não é por acaso. O Partido é concebido como um corpo único, onde cada membro é uma célula obediente. Não há espaço para dúvida, reflexão autônoma, nem consciência individual. A famosa “disciplina partidária” significa, na prática, anulação da pessoa. O militante que pensa com a própria cabeça é imediatamente acusado de “desvio pequeno-burguês”. A fidelidade ao Partido é a nova fé. Quem duvida, já pecou.

O resultado disso é uma máquina desumana que se retroalimenta. O Partido controla o discurso, o discurso controla as mentes, as mentes controladas sustentam o Partido. É um ciclo fechado. Um absolutismo disfarçado de libertação. E como toda divindade moderna, o Partido é ciumento. Não admite concorrência. Por isso persegue a religião, deslegitima a família, ridiculariza a tradição, substitui o professor por um doutrinador e o pai por um agente estatal. Tudo que possa formar uma consciência fora da linha é ameaça direta.

É assim que o Partido se infiltra no cotidiano. Ele não está só no parlamento ou no sindicato. Está na escola, na novela, na linguagem, no pronome neutro, na palestra de diversidade, na cartilha da ONU. Ele não precisa se apresentar como “Partido Comunista”. Pode vir como ONG, como instituto, como coletivo, como conselho, como ministério. Mas a essência é a mesma: conduzir as massas à utopia decidida por meia dúzia de sociopatas iluminados.

E quem sustenta essa estrutura? O idiota útil. Aquele que repete frases feitas, acredita nas intenções puras do Partido, milita por causas que não entende e acusa os outros de fascismo. Ele não sabe que é escravo. E se sabe, acha bonito. Porque o Partido oferece a ele um sentido, uma tribo, um heroísmo de boutique. A militância vira identidade, e a identidade vira prisão. O sujeito já não consegue sair, sob pena de ser cancelado, excomungado, eliminado.

O Partido, ao se colocar como absoluto, torna impossível qualquer vida fora dele. O comunismo, uma vez institucionalizado, destrói o espaço público, liquida a oposição, transforma o adversário em inimigo e o cidadão em súdito. O que começa como uma “luta pelos oprimidos” termina como um reinado de burocratas psicopatas com apoio de artistas lacradores e jornalistas de aluguel. O inferno, mas com selo de aprovação da UNESCO.

No fim, o Partido comunista é a caricatura do que ele diz combater. É uma aristocracia sem nobreza, um clero sem santidade, um exército sem honra. E como todo falso deus, exige sacrifícios. Milhões deles.

Artigo 3 – Guerra Psicológica: O Comunismo Não Debate, Corrói

Se você acha que o comunismo quer ganhar o debate, está enganado. Ele quer acabar com a possibilidade de debate. Não porque não tenha argumentos, mas porque o debate exige um terreno comum de realidade, e como vimos, a realidade é o inimigo. A estratégia comunista é, desde o início, psicológica: entrar na mente do sujeito, confundir os critérios, desmontar os referenciais, desmoralizar o pensamento. O objetivo não é convencer – é desorientar.

O comunismo opera como uma infecção. Ele não precisa conquistar corações e mentes com a força da razão, mas com a persistência da dúvida. O comunista pergunta: “mas quem define o que é verdade?”, “quem disse que isso é justo?”, “e se tudo for uma construção social?”. Parece reflexão profunda – é sabotagem epistemológica. Quando tudo é relativo, tudo é manipulável. O comunismo começa a ganhar não quando prova estar certo, mas quando faz com que ninguém mais saiba o que é certo.

Por isso a guerra é de linguagem. Palavras simples como “homem”, “mulher”, “liberdade”, “família”, “cultura”, “propriedade” são redefinidas até se tornarem irreconhecíveis. “Tolerância” passa a significar censura ao discurso conservador. “Diversidade” vira obrigatoriedade ideológica. “Democracia” se torna sinônimo de hegemonia da esquerda. O sujeito acorda num mundo em que as palavras ainda soam familiares, mas não significam mais o que significavam. É o velho truque do mágico: mostrar uma coisa, fazer outra.

Esse ataque à linguagem tem um alvo claro: a estrutura mental do cidadão comum. Não o militante – o sujeito médio. O pai de família que trabalha, que tem valores, que quer proteger os filhos. Esse homem é o inimigo silencioso da revolução, porque representa uma ordem que existe sem a permissão do Partido. E para destruí-lo, não basta ridicularizá-lo. É preciso fazê-lo duvidar de si mesmo. Fazê-lo se calar. Fazê-lo se sentir culpado. E isso se faz com anos de desgaste psicológico.

A educação escolar serve para isso: não para formar, mas para deformar. O aluno é treinado a desconfiar dos pais, da fé, da história, da pátria. Aprende que tudo é opressão, que toda hierarquia é injusta, que toda tradição é opressiva. Sai da escola sabendo odiar – e achando que isso é pensar. Se o pai reage, é retrógrado. Se o professor doutrina, é progressista. O aluno aprende que contestar a doutrinação é “fascismo”. E assim, o terror psicológico vai se naturalizando.

A mídia cumpre outro papel fundamental: saturar. É preciso que o cidadão comum, ao ligar a televisão, abrir o jornal ou rolar o celular, seja bombardeado por slogans, narrativas e imagens que repitam, ininterruptamente, os mantras do regime mental em construção. A guerra não é pelo conteúdo – é pela repetição. A mente humana resiste à força, mas cede ao cansaço. O que não se vence pela razão, se vence pela insistência. O resultado? Uma população mentalmente esgotada, mas ideologicamente dócil.

No fim, o comunismo não vence com tanques, mas com traumas. Ele gera culpa, vergonha, medo, apatia. Ele transforma o cidadão livre em sujeito suspeito. E isso, repetido por anos, gera uma nação de silenciados. Ninguém quer mais discutir. Ninguém quer ser “cancelado”, “machista”, “elitista”. Então todos fingem concordar, e o fingimento generalizado vira hegemonia. A mentira não precisa mais ser imposta: é adotada por covardia.

Essa é a verdadeira revolução: não tomar o poder, mas tomar as almas. O comunismo que entra na mente não precisa mais entrar pela força. Já ganhou antes mesmo de se declarar.

Artigo 4 – A Política Como Extermínio Moral

O comunismo nunca quis apenas o poder político — ele quer o monopólio da moral. E para isso, precisa transformar a política em campo de extermínio. Não de ideias, mas de consciências. Não se trata de vencer adversários, mas de destruir suas almas em praça pública. O debate, quando ocorre, é apenas o teatro onde a humilhação é encenada como justiça. A política, sob domínio da mentalidade revolucionária, vira um tribunal onde o réu não tem defesa e o juiz já é militante.

O primeiro passo é moralizar o conflito. A divergência vira pecado. Discordar do comunista não é só erro: é imoralidade. Quem defende propriedade privada, por exemplo, “odeia os pobres”. Quem critica o feminismo “apoia o estupro”. Quem acredita em Deus “é fundamentalista”. O truque é simples: transformar posições políticas legítimas em sinais de perversão. Isso esvazia a discussão e transforma o oponente em monstro. E monstro não se debate — se elimina.

O segundo passo é a inversão. O criminoso vira vítima. O vagabundo vira herói. O corrupto é “perseguido político”. O patriota é “golpista”. A ordem é sempre essa: atacar o caráter dos inocentes e santificar os canalhas. Essa engenharia doentia destrói os parâmetros morais da sociedade. Quando tudo é justificável, nada é mais condenável. Quando todo julgamento depende da ideologia, a justiça desaparece. E o resultado é o que vemos: um país inteiro onde quem presta tem medo de falar e quem não presta dá palestra.

A mídia, claro, é o ministério da verdade desse regime mental. Ela não informa — ela acusa. Ela não narra fatos — ela molda vilões e santos conforme a cartilha. O político de direita é sempre suspeito, mesmo sem provas. O militante de esquerda é sempre vítima, mesmo com o rastro de dinheiro sujo. Não se trata de erro jornalístico. Trata-se de uma campanha contínua de assassinato de reputações. A guerra revolucionária não quer calar o adversário, quer torná-lo intragável. Quer fazer com que ninguém mais ouse estar ao seu lado.

Isso se estende ao cotidiano. A cultura do cancelamento é apenas a versão digital dos antigos expurgos soviéticos. O sujeito diz uma verdade incômoda? Perde o emprego. Faz uma piada errada? É linchado virtualmente. Questiona a narrativa? Vira alvo de difamação. A nova política não precisa mais prender, torturar ou banir fisicamente — basta destruir a dignidade do indivíduo. O corpo pode estar livre, mas a consciência está acorrentada pela chantagem moral.

O pior é que isso contamina até os que resistem. Gente de bem, por medo ou cálculo, começa a se autocensurar. Evita temas. Usa eufemismos. Pede desculpas por existir. Vai aceitando pequenos absurdos para evitar grandes conflitos. E quando percebe, já se ajoelhou diante do novo regime. O comunismo não venceu pela força, mas pela pressão. Não invadiu, mas invadiu a alma. A política virou um campo minado onde só os canalhas andam tranquilos.

E no fim, é disso que se trata: neutralizar os bons, promover os maus e calar os inteligentes. O resultado é um país governado por idiotas, aplaudido por covardes e odiado por aqueles que ainda conseguem enxergar. O comunismo transforma a política em palco de desgraça moral, onde o prêmio é o poder absoluto e o preço é a destruição da verdade. Um teatro doentio onde o vilão escreve o roteiro, dirige a peça e ainda exige aplausos no final.

Essa é a máquina. Esse é o método. E quem não entender isso, continuará discutindo políticas públicas enquanto é degolado por narrativas.

Capítulo III – O Século de Sangue: Aplicações Reais da Ideia
Artigo 1 – O Laboratório Soviético: Cadáveres Como Engrenagem

O socialismo real não começou com pão para todos nem com justiça para os oprimidos. Começou com execuções sumárias, prisões arbitrárias, fome em massa e uma elite política que, em nome do povo, mandava fuzilar o povo. A União Soviética foi o primeiro campo de testes da utopia marxista-leninista aplicada com método, escala e crueldade institucionalizada. E como todo experimento totalitário, precisou de cobaias. Milhões delas.

Lênin iniciou o terror com consciência cirúrgica. Não foi exagero, nem erro. Foi plano. O “terror vermelho” não foi reação — foi inauguração. Fuzilar burgueses, padres, cossacos e camponeses foi um ato fundacional, uma espécie de batismo de sangue para a nova sociedade. Em 1918, Lênin escreveu que era necessário “sem piedade” eliminar “inimigos de classe”. Não queria convencer, queria exterminar. A revolução não era mais uma ideia: era uma engrenagem que triturava carne humana.

Stálin herdou essa máquina e a transformou em indústria. O Estado soviético virou um monstro que se alimentava dos próprios cidadãos. O Partido produzia normas inalcançáveis, punia qualquer suspeita de desvio, promovia delações como virtude e apagava pessoas da história como quem apaga um arquivo. Os expurgos, os julgamentos encenados, os campos de trabalho forçado (gulags), tudo isso era parte da “administração” socialista. A morte virou KPI. A tortura, protocolo.

A fome na Ucrânia, o chamado Holodomor, matou milhões entre 1932 e 1933. Não foi catástrofe natural, foi engenharia social. O grão foi confiscado dos camponeses para “alimentar as cidades” e punir resistências. Famílias inteiras morreram sem ver um pedaço de pão. Crianças comiam grama. Alguns relataram casos de canibalismo. Isso no mesmo país que, semanas antes, exportava trigo. A ideologia matou mais do que qualquer praga. E o mundo... silenciou.

Enquanto isso, intelectuais no Ocidente justificavam tudo. George Bernard Shaw, Jean-Paul Sartre, Walter Duranty (jornalista premiado com Pulitzer) – todos negaram os crimes ou os minimizaram como “necessários” para o progresso. O culto à URSS virou uma moda entre elites progressistas. Enquanto milhões apodreciam na Sibéria, artistas burgueses brindavam à revolução em salões parisienses. O comunismo não precisou esconder seus crimes: bastou disfarçá-los com charme intelectual.

O cidadão soviético vivia sob terror integral. Não havia espaço neutro. A escola, a fábrica, a igreja, o lar – tudo era vigiado. O filho denunciava o pai, o trabalhador fingia acreditar no que não entendia, o silêncio era uma medida de sobrevivência. Não existia mais “vida privada”. O Estado era onipresente, onisciente e, claro, infalível. Erros nunca eram atribuídos ao sistema, mas a “infiltrados”, “traidores” ou “sabotadores”. Toda catástrofe tinha um bode expiatório – geralmente com rosto humano e endereço conhecido.

E mesmo assim, muitos ainda hoje tentam relativizar. Dizem que “Stálin traiu Marx”, que “houve excessos”, que “a ideia era boa”. Mas qual ideia boa gera cem milhões de mortos em um século? Qual sistema exige mentiras, censura e fuzilamentos para funcionar? Qual doutrina precisa apagar a realidade para parecer funcional? A verdade é dura: a União Soviética não foi uma distorção do comunismo — foi sua realização mais fiel. Foi a utopia tornada prática. E como toda utopia, virou carnificina.

Portanto, quando alguém vier com papo de justiça social à moda revolucionária, olhe bem nos olhos e pergunte: quantos cadáveres você aceita em nome dessa esperança?

Artigo 2 – China: A Revolução Come os Filhos e os Pais

Se a União Soviética foi o laboratório da barbárie comunista, a China foi o ensaio para a barbárie com eficiência. Com Mao Tsé-Tung, a utopia marxista-leninista atingiu um novo nível: o da psicose institucionalizada. A China comunista conseguiu o feito monstruoso de matar mais do que o stalinismo, com requintes culturais e espirituais de crueldade. Não bastava matar o corpo — era preciso quebrar a alma. E para isso, Mao entendeu o essencial: toda revolução só triunfa quando a juventude é treinada para odiar os próprios pais.

O Grande Salto Adiante, lançado por Mao entre 1958 e 1962, é um dos maiores desastres da história humana — e um dos menos comentados. Com a obsessão de transformar o país em potência industrial comunista, Mao forçou milhões de camponeses a abandonar a agricultura tradicional para fundir ferro com fornos improvisados no quintal. Resultado: colapso na produção de alimentos, colheitas abandonadas, infraestrutura caótica. Mais de 40 milhões de mortos por fome, doenças e trabalho forçado. Não foi um erro. Foi um plano. Um plano burro, mas intocável, porque Mao era o Partido, e o Partido era infalível.

Mas o verdadeiro horror viria depois, com a Revolução Cultural, iniciada em 1966. Mao, já enfraquecido politicamente, resolveu incendiar o país para manter seu culto pessoal. Armou os estudantes contra os professores, os filhos contra os pais, os trabalhadores contra seus mestres. Criou os Guardas Vermelhos, milícias juvenis fanáticas que percorriam vilas e cidades destruindo tudo o que fosse considerado “antirrevolucionário”: templos, livros, obras de arte, costumes, tradições. Se o avô rezava, apedrejavam. Se o pai lia Confúcio, era preso. Se o professor citava Platão, apanhava até desmaiar.

Essa destruição da cultura não era um colateral — era o objetivo. Mao queria uma nova humanidade, forjada na ignorância e na culpa, sem raízes, sem história, sem moral. Queria uma geração que só conhecesse a revolução, o Partido, o Pequeno Livro Vermelho. E conseguiu. Milhões foram mortos, outros milhões submetidos à “reeducação” nos campos de trabalho. Famílias foram esfaceladas. A inteligência virou crime. O silêncio, virtude.

É impossível entender o poder do comunismo chinês sem captar essa dimensão espiritual da destruição. O que Mao fez não foi apenas matar — foi apagar a China anterior a ele. E onde antes havia civilização milenar, instalou-se um deserto moral. A China comunista passou a funcionar como uma colmeia onde o indivíduo não importa, onde o mérito é secundário, onde o Partido regula até o pensamento. A técnica se desenvolve, sim — mas sob o jugo de uma vigilância total, de um controle minucioso sobre cada palavra, cada gesto, cada filho.

E sim: o Ocidente aplaudiu. Intelectuais franceses visitavam Pequim e escreviam maravilhas. Jornalistas elogiavam o “povo disciplinado”. Acadêmicos diziam que “Mao estava formando o novo homem”. A esquerda internacional sempre teve esse talento: quando a desgraça é comunista, ela vira poesia. Quando a escravidão é ideológica, ela vira projeto pedagógico. Poucos tiveram coragem de dizer a verdade. Um deles, Simon Leys, foi escorraçado das universidades por denunciar o que viu com os próprios olhos: um país devastado pela loucura de um homem e pelo silêncio cúmplice dos bem-pensantes.

Hoje, a China comunista sobrevive com outra fachada. Modernizou os prédios, abriu mercado, enriqueceu elites. Mas o Partido continua lá. Intocado. Intolerante. Invisível, mas onipresente. Ainda controla a imprensa, a internet, as igrejas, as famílias. Ainda desaparece com dissidentes, ainda vigia cidadãos, ainda censura filmes e redes sociais. A Revolução Cultural deixou de ser barulhenta — agora é sorrateira. Mas a essência não mudou: Mao venceu. O país é dele, mesmo depois de morto.

O comunismo chinês mostrou ao mundo que é possível ser totalitário sem parecer brutal. Que é possível esmagar a liberdade com luvas de seda. Que se pode ser moderno e arcaico ao mesmo tempo, desde que se mantenha a alma do povo aprisionada. E isso, infelizmente, serviu de modelo para muita gente.

Artigo 3 – Cuba: A Ilha do Terror com Sabor de Propaganda

Cuba é, talvez, o maior triunfo da propaganda comunista no século XX. Nenhum outro regime conseguiu transformar um presídio a céu aberto em símbolo mundial de liberdade, saúde, educação e resistência. A ilha que trancou seu povo por décadas, que perseguiu dissidentes, que destruiu a economia, virou cartão-postal revolucionário para artistas, jornalistas e estudantes ocidentais deslumbrados. E tudo isso graças a um gênio do marketing político: Fidel Castro, o ditador pop.

Quando Fidel tomou o poder em 1959, a promessa era a mesma de sempre: justiça, soberania, dignidade. O povo cubano, já cansado da ditadura de Batista, acreditou. E nos primeiros meses, o discurso parecia sincero. Mas bastaram algumas reformas para a máscara cair. A liberdade de imprensa foi eliminada. Os partidos foram fechados. Os adversários políticos, presos ou mortos. Em pouco tempo, o novo regime já era mais brutal e absoluto do que o anterior. Só que agora com aplausos internacionais.

Com a ajuda do romantismo revolucionário da época, Cuba virou um mito. Intelectuais europeus escreviam que “em Havana, o futuro nasceu”. Cineastas faziam documentários exaltando o povo cubano sorridente, sem nunca mostrar os presos políticos, os paredões de fuzilamento ou os campos de trabalho. E quando alguém ousava denunciar, era acusado de ser “agente da CIA” ou “inimigo da liberdade”. A ilha virou símbolo de virtude – um marketing que nem Hollywood conseguiria produzir melhor.

A realidade, claro, era outra. A economia foi estatizada, a agricultura ruiu, a indústria desapareceu. A população passou a viver com racionamento crônico, salários miseráveis, vigilância constante. O Estado regulava desde o que se podia comer até o que se podia dizer em casa. A polícia política – a temida G2 – transformava vizinhos em espiões. Professores denunciavam alunos. Alunos denunciavam pais. O medo virou moeda corrente. E quem tentava fugir era preso ou morto no mar.

Mas a propaganda resistia. Sobretudo em três áreas: saúde, educação e esportes. A ilha era vendida como “exemplo de medicina pública”. O que não se dizia é que hospitais faltavam sabão, esparadrapo e seringas esterilizadas. A “educação exemplar” formava repetidores ideológicos, não pensadores. O “sucesso esportivo” vinha de atletas tratados como soldados, obrigados a vencer para exaltar o regime. Tudo era vitrine. E tudo era sustentado pelo dinheiro soviético — que, quando acabou, mergulhou a ilha no caos.

Mesmo assim, Cuba nunca deixou de ser referência para a esquerda latino-americana. O Foro de São Paulo foi fundado com a bênção de Fidel. Líderes petistas o reverenciavam como mestre. Artistas brasileiros faziam fila para tirar foto com o tirano. A desgraça do povo cubano virou fetiche ideológico. Um exemplo de como a miséria, quando vem com discurso certo, pode ser romantizada. A prisão se torna “resistência”. O controle, “justiça social”. A repressão, “proteção ao povo”.

E o povo cubano? Esse aprendeu a sobreviver. Criou redes paralelas de subsistência, improvisou com criatividade, resistiu no corpo e na alma. Muitos tentaram fugir – mais de dois milhões ao longo das décadas. Outros ficaram, não por convicção, mas por falta de opção. A ilha transformou cada cidadão em suspeito, cada lar em trincheira, cada palavra em risco. O preço da lealdade era a miséria. O da liberdade, o exílio.

Até hoje, Cuba continua a ser o laboratório ideológico da América Latina. A ditadura continua. A miséria continua. A repressão continua. E os idiotas úteis continuam aplaudindo. Porque, no fim, Cuba não é só uma ilha – é um espelho do que acontece quando a ideologia vale mais que a verdade. Quando o discurso vale mais que o povo. Quando a mentira vira bandeira e o sofrimento, combustível de marketing.

A ilha não é um exemplo. É um aviso.

Artigo 4 – O Terceiro Mundo Vermelho: Angola, Camboja, Coreia do Norte

Enquanto a Europa jogava sua esperança no socialismo de salão e a América Latina se embriagava com as palavras de ordem das guerrilhas universitárias, o comunismo aterrissava com força brutal nos chamados países “em desenvolvimento”. Mas ao contrário das promessas de progresso, o que se implantou nessas regiões foi o inferno em versão tropical. Angola, Camboja, Coreia do Norte – nomes diferentes, tragédias semelhantes. Onde a ideologia chegou, a dignidade humana virou estatística e a morte, rotina administrativa.

Comecemos por Angola, uma colônia portuguesa que virou palco da guerra por procuração entre comunismo e anticomunismo. O MPLA, grupo marxista apoiado pela União Soviética e por Cuba, assumiu o poder em 1975. O país mergulhou num conflito civil que durou décadas. Fidel Castro enviou tropas, tanques, armas e doutrinadores. O resultado? Centenas de milhares de mortos, infraestrutura arrasada, economia de guerra, fome em larga escala. O socialismo angolano não libertou ninguém — escravizou sob outra bandeira. Enquanto o povo morria, a elite do partido se enriquecia com diamantes e petróleo, num modelo de cleptocracia revolucionária.

Em Camboja, o comunismo ultrapassou todos os limites do grotesco. Pol Pot, líder dos Khmer Vermelhos, quis zerar a sociedade. Literalmente. Aboliu o dinheiro, fechou escolas, proibiu religião, declarou guerra à inteligência. Qualquer um que usasse óculos, soubesse ler ou demonstrasse pensamento independente era considerado inimigo da revolução. Resultado: entre 1975 e 1979, cerca de dois milhões de pessoas morreram — quase um quarto da população. Executados, torturados, mortos por fome e doenças. O país virou um cemitério a céu aberto. Os “Campos da Morte” são o testemunho silencioso de uma ideologia que, quando aplicada com rigor, transforma a vida humana em lixo reciclável.

A Coreia do Norte é o experimento mais longevo da loucura comunista. Desde 1948, a dinastia Kim controla o país com mão de ferro, culto à personalidade e fome institucionalizada. A doutrina “Juche” é um comunismo com misticismo delirante: o líder é deus, o Partido é igreja, o povo é gado. Crianças aprendem a cantar hinos ao “Grande Líder” antes de saber ler. Milhões morreram de fome nos anos 1990, enquanto o regime mantinha armas nucleares e desfiles militares. Hoje, a população vive sob vigilância absoluta, com castigos coletivos, campos de prisioneiros e controle total da informação. É um Estado-prisão onde o simples ato de pensar já é crime.

Esses três casos – Angola, Camboja, Coreia do Norte – mostram que o comunismo não precisa de burguesia industrializada para destruir uma nação. Basta uma desculpa ideológica, uma liderança carismática, algum apoio externo e um povo vulnerável. E em todos os casos, o padrão se repete: começa com promessas de libertação, segue com extermínios seletivos, implanta uma casta dominante e termina com miséria, silêncio e cadáveres.

E o que diz a intelectualidade ocidental? Silencia. Relativiza. Justifica. Diz que “as condições eram adversas”, que “houve sabotagem externa”, que “não se pode julgar por padrões ocidentais”. Mas os mortos não pedem padrão. Pedem justiça. E a justiça começa com a verdade: o comunismo, onde foi implantado com fidelidade, produziu sempre o mesmo efeito – genocídio, escravidão e ruína.

O Terceiro Mundo virou campo de teste para uma ideologia criada na Europa. E os resultados foram sempre os mesmos. O que muda é o idioma da tragédia.

Capítulo IV – O Novo Comunismo: Pós-moderno, Global e Identitário
Artigo 1 – O Comunismo de Gucci: Camaradas de iPhone e Gênero Neutro

O comunismo não acabou. Apenas trocou de roupa. Abandonou o macacão proletário, vestiu uma camiseta progressista, calçou um Nike vegano e pegou um iPhone para lacrar no Instagram. O novo comunista não carrega foice e martelo — carrega hashtags e palavras de ordem inclusivas. Não fala mais em luta de classes, mas em empoderamento, diversidade, clima e linguagem neutra. O inimigo já não é apenas o burguês industrial — agora é o “heteronormativo”, o “colonizador”, o “cis-branco-privilegiado”. A pauta mudou, mas o instinto revolucionário continua o mesmo: destruir a ordem real para substituí-la por um delírio fabricado.

Essa mutação não foi acidental. Quando o Muro de Berlim caiu e os horrores dos gulags e dos expurgos vieram à tona, o comunismo clássico perdeu a aura de esperança. Mas a mentalidade revolucionária — essa fome por reinvenção total da sociedade — não morreu. Migrou. Passou a habitar o corpo da cultura, das universidades, das ONGs internacionais. Deixou a economia como foco principal e entrou no campo simbólico, subjetivo, afetivo. Agora, a revolução acontece dentro da linguagem, dos afetos, das percepções. O novo campo de batalha é a alma.

É por isso que o comunismo moderno tem cara de estudante de humanas com cabelo azul, que fala em “lugar de fala” e acha que desconstruir o gênero é mais revolucionário que tomar o Palácio de Inverno. Parece ridículo — e é. Mas também é eficaz. Porque a nova revolução não precisa mais convencer com lógica. Ela opera com culpa, pressão social e destruição de sentido. A nova arma não é a metralhadora — é a lacração, a pedagogia “antirracista”, a cartilha LGBTQIA+ distribuída em creches públicas.

O novo comunista tem Instagram. Tem curso de extensão em interseccionalidade. Fala de “violência epistêmica” enquanto pede café no Starbucks. Tem discurso afinado com a ONU, o Fórum Econômico Mundial e os Think Tanks do progressismo global. Não quer mais lutar contra o sistema — quer ser o sistema. Tomar a linguagem, a educação, o entretenimento, a saúde, as corporações. Ele não faz greve — ele pauta o CEO. Ele não queima fábrica — ele doutrina o RH.

E é justamente aí que mora o perigo. Porque esse novo comunismo é sorrateiro, macio, embriagante. Não vem com tanques, mas com TED Talks. Não fuzila, mas cancela. Não expropria terras, mas criminaliza opiniões. Vai corroendo os fundamentos da realidade com aparência de compaixão. O sujeito que se opõe não é mais “inimigo do povo” — é “discurso de ódio”. A censura é feita em nome da diversidade. O controle de pensamento, em nome da inclusão. Tudo muito moderno, muito fashion, muito democrático.

Enquanto isso, os idiotas úteis fazem fila para serem domesticados. Aceitam revisar sua linguagem, reeducar seus filhos, mudar seus hábitos e até negar seus princípios — tudo para não serem chamados de retrógrados. A classe média paga caro para ser domesticada. Compra livros que ensinam a pedir desculpas por ser normal. Vai a palestras de ativistas bilionários. Põe adesivo no carro e bandeira na sacada. E ainda acredita que está lutando contra o sistema. O novo comunismo adora esse tipo.

O comunismo de Gucci é mais perigoso que o da foice. Porque ele não precisa do medo para avançar — basta a vaidade. Não promete revolução sangrenta, mas “progresso sustentável”. Não pede que você morra pela causa, apenas que aceite sua castração moral com um sorriso nos lábios. E o mundo vai cedendo, pouco a pouco. Porque ninguém quer parecer atrasado. Ninguém quer ser o careta da vez.

Mas a verdade continua lá, esperando quem tenha olhos para ver: por trás do arco-íris e das hashtags, o que se esconde é o mesmo ódio antigo à realidade. A mesma vontade de destruir tudo o que é natural, tradicional, hierárquico e verdadeiro. O comunismo apenas mudou a embalagem. O veneno continua o mesmo.

Artigo 2 – Revolução Cultural 2.0: Escola, Mídia, Diversidade e Censura

A primeira Revolução Cultural, de Mao, destruiu templos, livros, famílias e a herança espiritual da China. Foi feita à base de porrete e humilhação pública. A segunda Revolução Cultural, essa que vivemos agora, é mais limpa, mais silenciosa — e muito mais eficaz. Ela não precisa queimar livros: basta reeditá-los com linguagem inclusiva. Não precisa prender padres: basta torná-los irrelevantes. Não precisa mandar intelectuais para campos de trabalho: basta torná-los reféns da militância. É uma revolução que não se declara como tal. Ela se apresenta como “educação progressista”, “inclusão midiática”, “respeito à diversidade” e “combate à desinformação”. E é exatamente aí que está o truque.

A escola virou o principal laboratório da engenharia mental revolucionária. Antes mesmo de aprender a ler, a criança já aprende que “família” é uma construção social opressora, que “gênero” é uma escolha, que “patriotismo” é discurso de ódio e que “fé” é superstição primitiva. A educação já não forma pessoas, forma militantes emocionais. O aluno não aprende a pensar — aprende a sentir a revolta certa, repetir o slogan certo, odiar a autoridade certa. Saem da escola ignorantes, mas cheios de certezas. Perfeitos soldados para causas que sequer compreendem.

A mídia, por sua vez, não noticia — educa. Ou melhor: doutrina. Não há mais jornalismo, mas gestão de narrativa. Tudo é recortado, editado, filtrado para reforçar a agenda do momento. Se uma estatística contradiz a ideologia, ela some. Se uma pesquisa reforça o dogma, ela vira manchete. E se alguém ousa levantar a mão com uma pergunta fora do script, é imediatamente desqualificado: “fake news”, “negacionista”, “reacionário”, “fascista”. Os grandes veículos de comunicação, outrora cães de guarda da verdade, hoje são adestradores do rebanho.

O nome disso não é liberdade. É censura. Mas uma censura gourmet, travestida de responsabilidade social. Não proíbem livros — apenas não os publicam. Não prendem escritores — apenas os tornam invisíveis. Não fecham jornais — apenas os desacreditam e sufocam financeiramente. A verdade não é mais refutada: é silenciada. E o silêncio, hoje, tem ar de virtude. “Não dar voz ao preconceito”, “não alimentar a desinformação”, “não legitimar o discurso de ódio” — são os novos pretextos para a velha repressão.

E no centro disso tudo está a diversidade. Palavra mágica. Ninguém mais ousa criticá-la, porque ela virou escudo moral para toda e qualquer agenda revolucionária. Mas que diversidade é essa que elimina a divergência? Que celebra todas as culturas, menos a cristã? Que acolhe todos os gêneros, menos o masculino tradicional? Que tolera todas as religiões, menos a que construiu o Ocidente? Essa diversidade é uniforme. É um exército de clones emotivos que pensam igual, sentem igual e cancelam quem não ajoelha.

Nas universidades, o processo é mais avançado. Departamentos inteiros de humanas viraram seitas. Professores doutrinadores, alunos domesticados, pesquisas encomendadas para confirmar dogmas. A inteligência foi substituída pela militância. O debate foi substituído pelo linchamento. O diploma virou atestado de formatação. E as raras exceções que tentam resistir vivem sob ameaça, pressão, isolamento. A universidade, que deveria ser o último bastião do pensamento livre, tornou-se a torre de comando da nova censura.

E tudo isso se repete em ritmo industrial: cursos, palestras, séries, livros didáticos, campanhas publicitárias. Uma avalanche de conteúdo que não informa, não forma, não educa — apenas molda. A sociedade inteira passa a viver num teatro cuidadosamente roteirizado, onde cada papel já vem com discurso pronto. E quem improvisa, é expulso do palco.

A nova Revolução Cultural não derruba estátuas com martelo — derruba reputações com hashtags. Não queima livros — queima biografias. E o povo, em vez de reagir, aplaude. Porque foi treinado a confundir opressão com cuidado, censura com civilidade, castração com empatia. O pesadelo de Mao voltou — mas dessa vez, com filtro no Instagram.

Artigo 3 – Capitalismo de Estado: O Regime Chinês e seus Amiguinhos Globais

O comunismo aprendeu a usar terno. Abandonou o uniforme do operário, pôs gravata, aprendeu inglês corporativo e descobriu que dar lucro é um excelente disfarce. A China é o exemplo perfeito desse novo modelo: um regime comunista por dentro, capitalista por fora. Um Estado que controla tudo, mas deixa a aparência de liberdade econômica para enganar os trouxas e seduzir os gananciosos. É o capitalismo de Estado — ou, como alguns mais honestos chamariam, o socialismo totalitário com vitrine de shopping.

Esse modelo chinês é uma aberração cuidadosamente planejada. O Partido Comunista continua com o monopólio do poder, da imprensa, da educação, da internet e da vida dos cidadãos. Dissidentes somem. Igrejas são vigiadas. Crianças são doutrinadas. Mas, ao mesmo tempo, grandes empresas chinesas lucram bilhões com exportações, tecnologia, bancos e construção civil. Não há contradição: essas empresas são braços do Partido. O lucro é instrumental. O objetivo continua sendo o mesmo — poder absoluto. Mas agora, com bom marketing.

E quem são os maiores cúmplices dessa farsa? As elites ocidentais. Bilionários da tecnologia, banqueiros, políticos, ONGs e grandes corporações fazem fila para bajular Pequim. Não apenas por interesse financeiro, mas porque enxergam na China o regime dos sonhos: controle total com fachada de eficiência. Imagine só — um país onde o governo sabe o que você pensa, com quem você fala, onde você anda, o que você compra. E tudo isso justificado com discursos sobre “segurança”, “harmonia social” e “avanço tecnológico”.

A lógica é simples: se o modelo chinês funciona, por que não copiá-lo? E assim, vemos no Ocidente a implantação progressiva do mesmo padrão: monitoramento digital, vigilância financeira, controle de discurso, repressão disfarçada de moderação. A pandemia acelerou esse processo. Passaporte sanitário, censura de opiniões médicas, lockdowns autoritários — tudo sob aplausos. A China virou referência, e muitos não escondem mais isso. Políticos e tecnocratas sonham com uma democracia com eficiência de ditadura.

O globalismo, nesse cenário, entra como aliado estratégico. A nova ordem internacional não quer mais nações fortes, culturas locais, soberanias orgânicas. Quer uniformização. Quer uma humanidade gerida como planilha, com variáveis comportamentais previsíveis e uma moral de silicone. E quem já faz isso com maestria? A China. A parceria é natural: de um lado, o Partido; do outro, as fundações bilionárias, as big techs, os organismos internacionais. Todos falam a mesma língua — a do controle.

Enquanto isso, as populações dormem. Ocupadas com distrações, orgulhosas de seus “direitos”, orgulhosas de suas democracias de fachada, elas não percebem que já vivem em ambientes cada vez mais parecidos com o modelo chinês: autocensura, conformismo, medo de perder o emprego por dizer a verdade, aceitação passiva de absurdos. A diferença é que, no Ocidente, ainda é permitido rir do próprio cativeiro — por enquanto.

E o que resta da velha esquerda nisso tudo? Ela se vendeu. Os antigos revolucionários agora trabalham em ONGs financiadas por mega corporações. Defendem pautas progressistas que fortalecem o mesmo sistema que fingem combater. Denunciam “fascismo” em qualquer um que questione esse arranjo. E enquanto posam de rebeldes, servem como palhaços úteis do regime tecnocrático global que tem em Pequim seu coração ideológico e em Davos sua face diplomática.

O comunismo de hoje não quer mais derrubar Wall Street. Quer sentar na mesa, servir o café e controlar os algoritmos. Quer reeducar os filhos dos ricos, cancelar os pobres que discordam e moldar um futuro onde toda liberdade seja opcional — desde que alinhada. A China não é exceção: é o modelo.

E se o mundo seguir nesse ritmo, todos nós seremos Pequim amanhã.

Artigo 4 – Brasil Vermelho: Das CEBs ao Foro de São Paulo

O Brasil não fez revolução armada. Não teve um Lênin, não teve um Pol Pot, não teve um Mao. Mas teve algo pior: a revolução por dentro. A corrosão lenta, sorrateira, operada com precisão cirúrgica por intelectuais, padres, sindicalistas, professores e políticos. Uma obra de décadas, feita sem fuzis, mas com salas de aula, sindicatos, editoras e púlpitos. E quem acha que o Brasil é apenas vítima de corrupção ou incompetência, não entendeu nada: o que vivemos é o resultado meticuloso da aplicação do método revolucionário em sua versão tropical.

Tudo começa nas CEBs – Comunidades Eclesiais de Base. Criadas no rastro do Concílio Vaticano II e do florescimento da Teologia da Libertação, as CEBs eram células de formação marxista dentro da Igreja. Usavam linguagem cristã, mas pregavam revolução. O Cristo era apresentado como líder de guerrilha. O Evangelho, como manifesto político. A fé virou ferramenta de agitação. Foi ali que milhares de brasileiros simples começaram a ver o mundo não com olhos da fé, mas com ódio de classe. A revolução ganhou batina.

Nos anos 1980 e 90, veio o sindicalismo revolucionário. O PT, surgido com apoio da esquerda católica, virou a principal expressão política desse projeto. Disfarçado de defensor dos pobres, o partido sempre operou como correia de transmissão da revolução. Com o tempo, infiltrou o Judiciário, o sistema de ensino, os movimentos sociais, a cultura e, finalmente, o Estado. Cada ministério, cada secretaria, cada ONG financiada virou um braço do Partido — não no sentido jurídico, mas no sentido leninista: um aparelho ideológico de guerra.

Mas o grande divisor de águas veio em 1990, com a fundação do Foro de São Paulo, idealizado por Lula e Fidel Castro. Ali ficou claro o projeto: unificar todas as esquerdas latino-americanas sob coordenação comunista. Não se tratava apenas de vencer eleições — tratava-se de reconfigurar cultural, política e espiritualmente a América Latina. E o Brasil, como país-chave, era o laboratório central. A ideia não era tomar o poder e parar. Era nunca mais sair dele. E para isso, a dominação teria que ser total.

Vieram as políticas públicas com viés ideológico, a transformação da educação em linha de montagem de militantes, o financiamento de ditaduras aliadas com dinheiro do BNDES, a censura cultural mascarada de “regulação da mídia”, a desconstrução da família em nome da “diversidade”, o aborto travestido de “saúde da mulher”, a perseguição religiosa sob a desculpa de combater o “discurso de ódio”. O Brasil foi sendo redesenhado. Não de uma vez, mas centímetro por centímetro. O Estado virou arma contra o cidadão comum.

E mesmo com escândalos como o Mensalão e o Petrolão, a estrutura permaneceu. Porque o objetivo nunca foi só o dinheiro. O roubo era o meio — o fim era o poder. A corrupção é o combustível da revolução, não sua falha. O projeto revolucionário no Brasil soube muito bem usar o sistema democrático como escada — e agora, tenta queimar a escada com os que ainda acreditam nela em cima.

Hoje, quem se opõe a essa hegemonia é tratado como criminoso. Perde emprego, tem perfis derrubados, é processado, silenciado, perseguido. O aparato estatal, as universidades, a mídia e até as big techs funcionam como uma só engrenagem. A militância não precisa mais de passeata — ela tem algoritmo. A censura não precisa mais de decreto — ela vem por “diretrizes da comunidade”. O Brasil é, na prática, uma ditadura mental onde o discurso dominante é intocável, mesmo quando contradiz a realidade.

O mais trágico é que a maioria ainda acredita que estamos numa democracia. Que tudo pode ser resolvido com debate, com eleição, com diálogo. Não percebe que o outro lado já aboliu esses instrumentos por dentro. Que a eleição virou processo controlado. Que o debate virou espetáculo domesticado. Que o diálogo é uma armadilha para desarmar o último opositor antes de enterrá-lo em processo judicial.

O Brasil está vermelho. Não da cor dos uniformes de guerrilha, mas do sangue da verdade assassinada.

Capítulo V – O Antídoto: Verdade, Memória e Combate
Artigo 1 – A Lição dos Mortos: Por Que Lembrar é Resistir

A grande obra do comunismo, mais do que matar, foi apagar os rastros dos que matou. Um regime pode fuzilar um homem e, logo depois, deletar seu nome de todos os registros, rasurar sua imagem em fotos, apagar seus livros, proibir seu luto, e ainda assim ser tratado como “experimento social”. O assassinato físico é apenas a primeira camada; a verdadeira vitória da ideologia é o esquecimento. E é por isso que resistir começa por lembrar. Lembrar tudo. Lembrar bem. Lembrar com nome, com data, com rosto e com sangue.

Mais de cem milhões de mortos. Famílias destruídas, línguas caladas, obras censuradas, culturas inteiras obliteradas. E ainda há gente — professores, artistas, jornalistas — que repete a falácia mais imunda do século: “o comunismo nunca foi realmente implementado”. A frase em si já é um crime moral. O que foi implementado na União Soviética? E em Cuba? E na China? E no Camboja, na Coreia do Norte, na Venezuela, no Vietnã, na Etiópia? Todas coincidências trágicas? Um azar ideológico com alcance planetário?

A verdade é que os mortos do comunismo não têm espaço nos memoriais. Nenhuma cerimônia de Estado para os camponeses soviéticos, para os intelectuais chineses, para os religiosos vietnamitas, para os homossexuais cubanos, para os cristãos norte-coreanos. Nenhum Oscar para documentários sobre o Holodomor. Nenhum feriado para lembrar os Campos da Morte. O mundo moderno é seletivo com seu luto. Chora por quem é útil à narrativa — e varre para baixo do tapete os que atrapalham o script revolucionário.

E o Brasil? Aqui, a memória foi sequestrada. Nossos livros didáticos retratam guerrilheiros comunistas como heróis da democracia. Tratam terroristas como vítimas. Ignoram o Foro de São Paulo, os milhões que fugiram da Venezuela, as violações de direitos humanos em Cuba. A Comissão da Verdade foi farsa com orçamento público. Nossa história recente foi reescrita com tinta ideológica, sob aplausos de acadêmicos militantes e omissão de conservadores tímidos demais para exigir justiça.

Resistir, então, é recuperar a memória. Dar nome aos assassinados. Mostrar as fotos dos campos. Traduzir os testemunhos. Relembrar os exilados. Ler os livros censurados. Contar às novas gerações o que foi feito em nome da igualdade. Dizer em alto e bom som que o comunismo é o regime mais sanguinário da história. Que a sua utopia exige cadáveres para se erguer. Que o seu discurso de justiça é um engodo homicida.

Não basta refutar a teoria — é preciso evocar os fatos. Porque a mentira mais poderosa do comunismo é a que veste sua história com abstrações. Quem fala em "socialismo real" quer que você esqueça que houve fome real, prisioneiros reais, tiros reais. Quem defende o “ideal comunista” enquanto condena suas aplicações está defendendo um veneno por causa do rótulo bonito. É como louvar o sabor da cicuta porque a garrafa tem um desenho simpático.

A lição dos mortos é simples, brutal, irrefutável: toda vez que o comunismo teve a chance de governar, ele matou. E matou com método. Com intenção. Com orgulho. Em nome do bem. Em nome da igualdade. Em nome de um amanhã que nunca chega. E se você acha que essa história não pode se repetir, é porque já começou. Começa sempre com uma mentira, um rótulo, uma censura, uma doutrinação infantil. E quando você percebe, já tem um burocrata decidindo o que é verdade.

Por isso, lembrar é resistir. Escrever é resistir. Nomear os mortos é resistir. Contar a verdade em voz alta, com clareza, sem medo, é o primeiro ato de rebelião moral contra o totalitarismo do esquecimento. A luta não começa no front — começa na memória.

Artigo 2 – Contra o Espírito Revolucionário: Reagir com Alma e Razão

Lutar contra o comunismo não é apenas recusar uma ideologia política — é enfrentar um espírito. O espírito revolucionário. Um tipo de doença da alma que odeia a realidade, rejeita a hierarquia natural, inveja o que não pode criar e destrói o que não pode compreender. Esse espírito não se veste só de vermelho. Ele muda de roupa. Pode vir como justiça social, como causa ecológica, como defesa de minorias. Mas sua essência permanece: é a recusa da ordem objetiva em nome de uma vontade subjetiva inflamada de ressentimento.

O espírito revolucionário não quer reformar: quer refazer. Ele não tolera consertar algo que julga injusto — ele quer aniquilar tudo e começar do zero. Por isso não aceita gradualismo, não aceita tradição, não aceita diálogo. Ele se considera moralmente superior desde o ponto de partida. E essa convicção absoluta o torna impermeável à razão. Tente discutir com um militante treinado e você verá: ele não ouve, ele espera a chance de acusar. Ele não reflete, ele repete chavões. Ele não responde, ele rotula. Sua mente já não está mais no campo do argumento — está no campo da missão.

E é justamente aí que muitos conservadores, liberais e cidadãos comuns fracassam: tentam combater o comunismo como se estivessem diante de uma ideia. Mas não é uma ideia — é um impulso, um motor, um vírus. Você não pode convencer um vírus com lógica. É preciso restaurar a imunidade do organismo. E isso significa resgatar aquilo que o espírito revolucionário odeia com mais força: a alma enraizada na realidade, nutrida pela fé, fortalecida pela razão.

Reagir, portanto, começa pela reconquista interior. Um sujeito que não sabe quem é, de onde vem e o que deve defender, será engolido por qualquer narrativa com aparência de justiça. O espírito revolucionário se alimenta do vazio. Ele encanta o ignorante, o ressentido, o instável. Por isso, o primeiro campo de batalha é a consciência. E ela só se fortalece com três pilares: verdade, tradição e transcendência. A verdade como âncora do pensamento. A tradição como vínculo com os mortos e os ainda não-nascidos. A transcendência como escudo contra o desespero e contra o delírio.

Também é preciso recuperar a vida intelectual com propósito. Não basta ler para parecer inteligente — é preciso estudar para saber resistir. Não adianta citar autores se você não compreende as estruturas de pensamento por trás deles. A revolução não é alimentada apenas por ignorância — mas por cultura superficial. Uma legião de jovens lê meia dúzia de resumos, assiste meia aula online e acha que já entendeu o mundo. São os revolucionários de segunda mão, os intelectuais de palco. O antídoto é formar homens e mulheres com densidade interior.

E isso vale também para a ação. Resistir ao espírito revolucionário exige coragem, não só opinião. Coragem de falar a verdade mesmo sob risco de cancelamento. Coragem de educar os filhos contra a corrente. Coragem de perder prestígio social por manter a dignidade. Coragem de dizer “não” onde todos dizem “sim, senhor”. Coragem de parecer ultrapassado por conservar o que é eterno.

A guerra contra o comunismo, hoje, não se vence com tanques nem com eleições apenas. Ela se vence nas almas. Na formação de indivíduos que resistem à chantagem emocional, à lógica do medo, à tentação do conformismo. O revolucionário quer um mundo onde todos cedam por exaustão. O homem virtuoso responde com perseverança.

Portanto, contra o espírito revolucionário, alma firme. Contra a mentira institucionalizada, razão armada de memória. Contra a sedução do caos, o amor pela ordem. E contra a covardia generalizada, a coragem silenciosa de quem permanece de pé quando todos se ajoelham.

Artigo 3 – O Último Mito: “Nunca Foi Implementado de Verdade”

Nenhuma mentira matou mais que essa: “o comunismo nunca foi realmente implementado”. Ela é repetida com ar professoral por intelectuais de sofá, estudantes presunçosos, jornalistas ideológicos e até padres que perderam a fé e encontraram uma doutrina de substituição. Essa frase é o álibi eterno da revolução. Com ela, todo desastre pode ser ignorado, todo crime relativizado, toda evidência empurrada para debaixo do tapete. Cuba? “Foi bloqueio.” União Soviética? “Foi stalinismo.” Camboja? “Foi desvio.” Venezuela? “Não é comunismo, é corrupção.” Assim, o monstro nunca morre — ele apenas troca de máscara.

Essa narrativa funciona porque se apoia numa armadilha semântica: o “comunismo ideal” não foi implementado, logo os horrores praticados em seu nome não devem ser atribuídos a ele. Mas isso é infantil e canalha. Nenhuma ideologia é julgada pelo que promete em teoria, mas pelo que produz na prática. O nazismo também dizia buscar “renovação moral” e “ordem social”. A Inquisição também dizia buscar “a salvação das almas”. O que importa é o que foi feito — e o comunismo, onde teve poder, fez sempre a mesma coisa: miséria, repressão, censura, genocídio.

O truque consiste em manter o comunismo como uma ideia pura, intocada pelos fatos. É o comunismo de Platão, a utopia permanente, a sociedade perfeita que nunca chega, mas sempre serve de desculpa para destruir o presente. Isso transforma o comunismo em um dogma infalsificável. Se mata, não é comunismo. Se censura, não é comunismo. Se escraviza, não é comunismo. Resultado: só é comunismo aquilo que ainda não foi feito. E se algum dia for feito, e der errado, também não será.

Essa tática é covarde, mas eficaz. Permite que o militante nunca assuma responsabilidade. Ele sempre pode dizer que seus ídolos “erraram na execução”. Nunca na teoria, nunca no ideal, nunca na premissa. O militante comunista é o único fanático que pode assistir ao próprio fracasso repetido e ainda se sentir moralmente superior. Isso é possível porque ele vive de abstrações. Para ele, a teoria não deve servir à realidade — a realidade é que deve se curvar à teoria.

O mais curioso é que não se aplica o mesmo critério às outras ideologias. Ninguém diz que o capitalismo “nunca foi implementado de verdade” porque há pobreza. Ninguém diz que a democracia “nunca foi tentada seriamente” porque há corrupção. Mas o comunismo... ah, o comunismo é eterno. Sempre uma promessa. Sempre uma criança que não cresceu. Sempre inocente — mesmo diante de cem milhões de cadáveres.

Esse mito precisa ser destruído com fatos, com nomes, com datas. Não com emoção, mas com rigor. Mostrar que os planos econômicos de Lênin, as políticas de Mao, as reformas de Castro, os expurgos de Pol Pot, as prisões de Guevara, os campos da Venezuela — tudo isso foi comunismo aplicado. Por homens que se diziam comunistas, seguindo cartilhas comunistas, inspirados por teóricos comunistas. Não eram desvios. Eram execuções fiéis de uma doutrina cuja essência é a eliminação da ordem existente.

Portanto, quando alguém repetir o chavão “nunca foi implementado de verdade”, responda com firmeza: foi implementado sim, vezes demais, e sempre da mesma forma. O problema não está na execução — está no plano. O comunismo não falha por acidente. Ele fracassa por coerência.

Artigo 4 – A Reconquista: A Tradição Como Arma Contra a Mentira

O maior inimigo do comunismo não é a direita política, nem o livre mercado, nem mesmo a fé vivida com intensidade. O verdadeiro inimigo do comunismo é a tradição. Porque a tradição, ao contrário da revolução, é orgânica. Ela não é imposta — ela cresce. Não precisa de propaganda, nem de slogans. Sobrevive nos gestos simples, nas memórias familiares, nos rituais religiosos, nos provérbios esquecidos, nos livros passados de pai para filho. Ela conecta os vivos aos mortos, os homens aos símbolos, a razão à alma. E é justamente por isso que precisa ser destruída pela ideologia: porque onde há tradição, a mentira não vinga.

A tradição é como um rio subterrâneo. Você pode cobrir com concreto, desviar seu curso, mas um dia ele reaparece. Pode ser numa avó que ensina a rezar. Num pai que transmite a ética do trabalho. Num professor que recita Camões em vez de Paulo Freire. Num filho que se recusa a aceitar a nova linguagem estúpida dos formulários escolares. Cada gesto assim é um ato de reconquista. Uma semente lançada contra o deserto da ideologia. E esse é o terror da revolução: ela sabe que basta um homem livre para contaminar uma geração inteira com o vírus da verdade.

Por isso, o comunismo precisa quebrar os vínculos. Romper o elo entre as gerações. Ridicularizar os avós. Estuprar a memória histórica. Apagar os santos, os heróis, os mártires. Substituir o lar por creche estatal, a igreja por centro cultural, o pai por burocrata, o rito por evento lacrador. A destruição da tradição não é colateral — é programa de governo. E quando não podem apagá-la, eles a corrompem: fazem “Missas da Terra sem Males”, “Carnavais Antirracistas”, “Festas Juninas Inclusivas”, tudo com cheiro de esgoto e discurso de igualdade.

Mas há uma saída. E ela começa com um ato de humildade: reconhecer que não somos o começo de nada. Que herdamos um mundo muito maior do que nós. Que há sabedoria nos séculos. Que nossos bisavós sabiam mais sobre a vida do que os especialistas da ONU. E que talvez o maior ato de resistência seja lembrar, resgatar e transmitir. Transmitir a verdade, a beleza, a fé, a moral objetiva, a gramática correta, a história real, a coragem silenciosa de quem não se curva.

A reconquista não será feita com tanques, mas com livros bem escolhidos, com filhos bem educados, com lares reerguidos sobre pilares firmes. Será feita quando os pais voltarem a ser autoridades, quando os professores voltarem a ensinar, quando os sacerdotes voltarem a pregar, quando os artistas voltarem a cantar o que é eterno. E isso começa em cada um de nós, sem esperar decreto, sem pedir permissão.

O comunismo quer nos convencer de que estamos sozinhos, isolados, ultrapassados. Que a tradição morreu. Que o passado é opressor. Que a família é prisão. Que a fé é ignorância. Mas tudo isso é mentira. A tradição está viva. E está esperando. Esperando que alguém a redescubra, a abrace, a defenda com a alma inteira. Porque tradição não é só o que foi — é o que nos mantém de pé quando tudo ao redor desmorona.

E no fim das contas, talvez seja essa a última batalha: entre os que querem recomeçar tudo do zero e os que sabem que a verdade já estava aqui muito antes deles. Entre os que querem destruir tudo em nome do amanhã e os que protegem o que resta para que ainda haja um amanhã.

A tradição é a nossa trincheira. A memória, nossa munição. E a verdade, nossa espada.