Na situação atual, o Brasil se encontra num terreno delicado. Usando metáforas — que é o que parece que entendem — o governo brasileiro canta de galo contra o único carnívoro do quintal. Seria como se um chimpanzé solitário resolvesse peitar uma alcateia de lobos. Suicídio.
Quais seriam, então, as verdadeiras intenções por trás desse tiro de festim? Talvez os representantes do governo, já percebendo sua queda como iminente, tenham recorrido a uma cortina de fumaça, na esperança de que o mesmo sentimento que levou os chamados "bolsonaristas" às ruas desperte agora algum tipo de patriotismo na massa desorientada de eleitores — junto com fama e sonhos de poder. Não creio que funcione.
Pensando mais a fundo, alguns podem até sonhar em ser carregados nos braços do povo, imaginando o Brasil como uma futura liderança mundial. Talvez seja por isso que o futebol se vanglorie tanto ao vencer um europeu: uma espécie de "podemos ser índios colonizados, mas creiam — nunca seremos índios civilizados".
Também é possível que haja planos mais restritos, próprios, que não envolvam toda a população. Ou pode ser apenas estupidez pura. Mas o fato permanece: no mundo sempre houve, e sempre haverá, senhores e servos.
Desde o início dos tempos, essa relação se mantém:
– Na aurora tribal, o mais forte era o senhor; os demais, seus braços e pernas.
– Nos impérios antigos, os deuses eram apenas pretextos: Faraós, Césares e Imperadores assumiram o trono sob a máscara da divindade. O povo obedecia e servia, achando que era destino.
– Na Idade Média, o senhor agora vinha com brasão, espada e terra. O servo ganhava proteção em troca de joelhos dobrados.
– Na modernidade, surgiram as Constituições, mas os senhores apenas mudaram de roupa: banqueiros, tecnocratas e bilionários vestem terno — não armadura.
– Na pós-modernidade, o servo crê que é livre, enquanto trabalha, paga, cala e se distrai. E os senhores nem precisam mais se esconder: agora são "influencers", "filantropos", "investidores institucionais" — e, claro, os donos da infraestrutura do mundo.
– Hoje, o servo está na fila do SUS ou no Pix do governo, achando que sua miséria é culpa de uma ideologia contrária. O senhor está em Genebra ou Washington, decidindo o preço da carne que o servo não pode mais comprar.
Portanto, afrontar sua própria casa — o Ocidente — em nome de um discurso de soberania, quando na prática se leva a nação ao sofrimento, não é sinal de amor ao povo nem à pátria. Se amasse o país, buscaria cuidar dele: dar-lhe segurança, moeda forte, crédito estável, futuro. Depois — e só depois — poderia mostrá-lo ao mundo com dignidade.
O resto é ilusão, teatro e fome disfarçada de independência.
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