segunda-feira, 14 de julho de 2025

Nota - Mensagem de Ano Novo, 29/12/2014.

Espero que goste...

A vida carece de um sentido — e isso é fato. Contudo, a busca por esse sentido é que vemos como pura ilusão. Nós, frutos de uma era sem sentido, somos produto dessa mesma busca: criamos, destruímos, e assim recriamos apenas para, mais uma vez, destruir. Um ciclo sem fim que nos lança num vai e vem paradoxal.

“Suas amarras” — podem dizer alguns — “são ideológicas, religiosas”. Sempre foram. Porém, independente de ser ou não ser, de ter ou não ter — acredito eu — o que queremos, no fundo, é viver. “Mas não vivemos?”, podem retrucar. E eu respondo:

Um garoto, jogado nas ruas sangrentas da modernidade, pode até encontrar alento nas palavras dos sábios budistas: “É tudo sem sentido, meu jovem.” Ou, para melhorar o argumento, nas palavras dos brâmanes hindus: “É tudo ilusão, meu jovem — tudo é Maya.”

Esse mesmo garoto pode ainda encontrar alento no seio da mãe — aquela que segura o filho querido — e ouvir o consolo mais singular: “Tu és pobre, teu reino está garantido, meu jovem.”

Contudo, se esse garoto pudesse escolher, acredito eu, ele preferiria o tiro direto e certeiro das ideologias — fosse ela liberal, fascista ou comunista. É tudo mais fácil, mais sistêmico: ou se tem, ou se pertence, ou se aceita.

Continuando a explanação: o garoto volta a caminhar. Seus passos lhe trazem lembranças e visões — daquilo que não teve e daquilo que não pode ter.

Entretanto, para não sermos tão duros conosco, pensemos que tudo isso é apenas uma busca — e que esse garoto, talvez, não sofra. Pois a busca é, ela mesma, a busca por um sentido. E o que esse garoto não tem, é exatamente aquilo que temos em demasia: um sentido, uma razão, uma vida. E, para nós, isso já é suficiente — é o ideal conforto das nossas, e portanto da sua, anima.

Mas não creio que sejamos tão egoístas a ponto de não vermos seus passos, seu sofrimento, sua busca — mesmo que não queiramos ver — sobre as calçadas, descalço e faminto.

E então me questiono: o que é isso? Vamos nos permitir ser assim?

Devemos nos comover, pois não reverenciamos mais o sacrifício — este não está em nossa linhagem? Seja ela qual for?

E disso não podemos esquecer — ou já esquecemos?

Haveremos de lembrar, também, que nosso sentido — o sentido de uma vida — está cravado nos pés, nos pregos do sacrifício. Plantado como semente.

Entretanto, fique você à vontade para escolher: seja ele sobre os pés da cruz, sobre a videira, ou sobre o cavalo — não importa. Sacrifício é sacrifício.

E, para a modernidade, o garoto não passa de uma visão desse sacrifício — um lembrete incômodo de que, para homens e mulheres saturados de direitos, o seu, o meu, não é mais que o reflexo da imagem idealizada de si mesmo.

Deveria ser assim — e, contudo, não o é?

Vamos ao que importa: numa era que estrutura-se em palavras — estas construídas por retórica deliberativa — o garoto caminha, e só caminha. E como os do passado, vem a sofrer — e só sofre.

Seja nas más ações travestidas de boas, seja nas que alimentam a credulidade das mentes entorpecidas por visões podres — vislumbres de um futuro rico e próspero, onde aquele garoto, sim, terá espaço — repito: mesmo que não queiramos vê-lo — e sua dor será sanada.

Se será sob os pés da videira, ou vindo a cavalo — não importa.

O que importa é que, no fim, fará frente ao seu irmão, no seio da querida mãe. E lá desfrutará do mesmo pão e do mesmo mel, dos quais eu e você também desfrutamos.

Isso é o que faz sentido: uma busca sem sentido — como as palavras, também sem sentido.

E, para concluir, tudo isso termina com uma frase — ainda que também sem sentido — tendo, por último, um argumento transpassado por uma única qualidade:

Aquela que, eu sei, possui um “Q” de sentido: a esperança.

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