O Brasil Está Ensaiando Sua Ruína com a Dedicação de um Amador Convicto.
O Brasil, sempre criativo, decidiu não apenas repetir os erros da Venezuela, mas dar a eles um toque tropical, carnavalesco, quase erótico. Não basta afundar — é preciso afundar com estilo, com voto, com toga, com feijoada e com lives de três horas. O venezuelano caiu por desespero; o brasileiro cairá por vaidade.
Começamos como sempre: dividindo o país entre mocinhos e canalhas. A diferença é que, aqui, os mocinhos são mais patéticos que os canalhas. O STF, que já foi uma Corte, hoje é uma espécie de oráculo judicial de Twitter. Lula governa como se estivesse em 2003 e como se não tivesse sido preso. Bolsonaro, que deveria estar em silêncio, virou mártir internacional por obra e graça do Trump — um ex-presidente americano que sabe mais do Brasil do que os nossos ministros.
Enquanto isso, o agronegócio — esse bicho feio que enche a barriga de todo mundo — está tomando paulada de 50% de tarifa e ainda é tratado como vilão por quem jamais sujou o sapato de barro. É claro que vai dar errado. O Brasil, aliás, tem uma vocação natural para dar errado com dignidade, como quem se joga do penhasco recitando poesia concreta.
Lá fora, os americanos perderam a paciência. Trump, com sua diplomacia de rinoceronte, mandou uma carta dizendo: “ou vocês se comportam como Ocidente, ou vão brincar de BRICS com a Rússia e o Irã”. E o que fizemos? Gritamos “soberania” com a mesma seriedade de um adolescente gritando "ninguém me entende" no quarto.
A imprensa finge que ainda há normalidade, como uma senhora que continua pondo a mesa enquanto o marido põe fogo na sala. O Congresso? Esse só age quando o preço da traição cai o suficiente. E o povo — ah, o povo — está ocupado demais tentando sobreviver, o que já é muito num país que chama de “fascista” quem fala de Constituição e de “democrata” quem manda prender memeiro.
A Venezuela não chegou ao fundo do poço por má sorte. Chegou por método. O Brasil está seguindo o mesmo roteiro, mas com mais capricho. Lá, usaram tanques. Aqui, usamos hashtags. Lá, censuraram com fuzis. Aqui, com pareceres técnicos. A tragédia brasileira é tão bem montada que já parece farsa. Ou talvez sempre tenha sido.
No fim, restará o delírio: cada lado jurando que é a última trincheira da civilização, enquanto o supermercado avisa que o arroz subiu mais uma vez. Mas calma. Ainda temos a chance de evitar o pior — desde que paremos de fingir que estamos certos e admitamos o óbvio: o Brasil enlouqueceu. E está adorando.
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O Sinal Vermelho: O Que o Brasil Pode Aprender com a Queda da Venezuela.
Nas últimas semanas, o Brasil se viu no centro de uma crise diplomática e econômica com os Estados Unidos, iniciada por uma carta direta de Donald Trump, que impôs uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros. À primeira vista, parece um desentendimento comercial, uma briga pontual entre dois governos. Mas, por trás desse episódio, há um alerta mais profundo: o Brasil está reproduzindo, etapa por etapa, os mesmos erros que afundaram a Venezuela.
O processo que levou a Venezuela à ruína não aconteceu de um dia para o outro. Foi uma sequência de erros estratégicos, decisões ideológicas, polarização extrema e destruição progressiva das instituições de confiança pública. A semelhança começa com a divisão interna. Na Venezuela, a guerra entre chavistas e oposição transformou o país em um campo de batalha permanente. O debate foi substituído por acusação, e a convivência política se tornou impossível. No Brasil, a divisão entre lulistas, bolsonaristas e ministros do Supremo Tribunal Federal vem crescendo a tal ponto que já não se discute mais o futuro do país, mas sim quem deve ser destruído para “salvar a democracia”. Esse tipo de tensão corrói as estruturas republicanas por dentro. Quando um lado passa a negar a legitimidade do outro, já não se está mais dentro da política — está-se na pré-guerra.
Outro ponto grave é o ataque ao setor produtivo central da economia. Na Venezuela, tudo girava em torno do petróleo. Quando a PDVSA colapsou e as sanções americanas entraram em vigor, o país perdeu sua única fonte de riqueza externa. No caso do Brasil, a situação ainda é reversível, mas o perigo já está à vista. Com a tarifa imposta pelos EUA, as exportações de soja, carne, minérios e celulose perdem competitividade. O agronegócio, que sustenta boa parte do PIB nacional e é responsável pela entrada de dólares no país, pode entrar em crise. A consequência seria direta: perda de empregos, desvalorização da moeda, inflação e desorganização da cadeia produtiva. Se a base econômica quebra, o resto desmorona em sequência.
No campo institucional, a Venezuela virou uma caricatura de si mesma quando o Judiciário passou a atuar como braço do Executivo, eliminando qualquer possibilidade de oposição legal. No Brasil, não há ainda essa fusão direta entre Poderes, mas a atuação política e ostensiva do Supremo Tribunal Federal vem sendo criticada dentro e fora do país. Trump, ao acusar o STF de censura, internacionalizou a crise. E o mais grave é que, dentro do Brasil, a percepção de parcialidade judicial já está disseminada. Quando um povo para de confiar na Justiça, ele começa a buscar respostas fora da legalidade. Isso é o que destrói a coesão civil.
Outro fator preocupante é o uso da narrativa de cerco internacional. A Venezuela sustentou sua decadência culpando o “imperialismo” e os EUA por tudo. Isso serviu para justificar a escassez, a repressão e a crise permanente. No Brasil, já se começa a construir um discurso parecido. O governo Lula fala em soberania, em defesa das instituições contra ataques externos, e pode usar essa narrativa para desviar a atenção da crise econômica. Se essa retórica for levada adiante, o país pode acabar rompendo com o Ocidente e se isolando comercialmente. Isso seria desastroso, pois o Brasil depende de mercados como os EUA e a União Europeia. Um realinhamento automático com China, Rússia ou Irã não compensaria a perda.
Por fim, o que realmente destruiu a Venezuela foi o colapso da confiança popular. O povo, sem alternativas, deixou de acreditar no voto, no Judiciário, no Congresso, na imprensa. Começou a sair do país em massa, buscar soluções na força, se organizar em milícias, aceitar qualquer promessa de salvação. No Brasil, ainda não chegamos a esse ponto. Mas a distância está diminuindo. A cada dia de instabilidade, a cada semana sem resposta, cresce o sentimento de que ninguém está no controle — e que, portanto, tudo pode ser permitido.
O Brasil não é a Venezuela. Ainda temos reservas, instituições em funcionamento, imprensa livre e sociedade civil organizada. Mas todos esses recursos podem ser perdidos se o país continuar repetindo os passos que levaram nossos vizinhos ao fundo do poço. O colapso não começa com tanques nas ruas. Começa com desconfiança, medo, arrogância e silêncio institucional.
O alerta está aceso. O sinal vermelho está piscando. A escolha ainda é nossa — mas não será por muito tempo.
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Algo me diz que o que move o brasileiro supera, de fato, a razão. Se faltar a ele aquilo que ama — e esse amor varia de pessoa para pessoa — ele morre pelo direito de ter. O problema é que esse amor é múltiplo, disperso. Mas tenho dó do dia em que o amor de todos convergirem. Esse será um dia triste.
Jardel Almeida.
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