A Felicidade no Mundo: Entre a Sinceridade do Sujeito e a Farsa do Coletivo
A sociedade, enquanto sistema, é a reunião de normas e regras coletivas cujo propósito declarado é o bem comum. No entanto, por trás dessa aparência, o que se move são interesses particulares: estruturas de poder, agendas institucionais, mecanismos de preservação e controle.
Todo aquele que promete um bem coletivo mente — mesmo que não tenha consciência disso. Mente porque ignora uma evidência simples: a felicidade é singular, intransferível, irredutível ao comum. Ela nasce da interioridade do sujeito, de seu afeto, de sua travessia, de seu olhar sobre a existência.
Contudo, esse bem interior — tão pessoal e inalienável — só pode emergir de forma viável quando o sujeito encontra espaço dentro do conjunto social. E esse conjunto tem nome: chama-se “mundo”. Não o mundo físico, mas o mundo simbólico. O mundo como sistema de expectativas, valores, costumes, padrões. O mundo como ortodoxia.
Assim, o paradoxo se impõe: para que o sujeito seja feliz, ele precisa alinhar-se ao mundo — ainda que esse mesmo mundo seja a instância que frequentemente ignora ou rejeita o que ele é. A sociedade funciona, então, como bússola: ela aponta a direção, mas também delimita o caminho. Aceitá-la garante reconhecimento, pertencimento, alguma forma de conforto. Recusá-la exige coragem — e implica em solidão.
A tragédia é essa: a felicidade depende do sujeito, mas sua possibilidade de expressão passa pela chancela do coletivo. O sujeito autêntico se vê entre dois extremos — a adaptação que anestesia, ou a ruptura que isola. A liberdade cobra caro. A comunhão exige concessão.
E no fim, resta a pergunta: é possível ser verdadeiramente feliz em um mundo que não foi feito para aquilo que você é?